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O Poder e as Estrelas livro de Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
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- Não acredito que seja
fácil, nem para o major e muito menos para o povo da Terra aceitar isso.
O meu povo poderia entender se eu trocasse o major pelo chefe Tutôr...Mas
os dois! – e Réa caiu na risada – Vão me chamar de Dona Flor e Seus Dois
Maridos! |
Capítulo 14 - Liderança
- Mestre Arvos, há dois anos atrás, você sugeriu que, se eu cedesse à atração que sentia por Tutôr, esse fato poderia ser usado para que seu povo não perdesse a generosidade no amor e até mesmo para que os terráqueos compreendessem melhor esse sentimento corniano de liberdade. – começou Réa, assim que Arvos instalou-se em seu gabinete naquela tarde chuvosa. – Como exatamente você acredita que isso tudo se processaria?
A resposta do curandeiro surpreendeu Réa. Serei assim tão transparente, pensou ela, ou esse homem enxerga além dos outros?
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Clerck, Marte e Vênus surpreendidos por Apolo |
com missões espaciais, e nunca
participou de solenidades ao lado da Almirante. Seria bom, minha cara, que você
deixasse claro à opinião pública, que ama Tutôr mas que
isso não faz com que você não ame o seu companheiro. Exatamente como
acontece com o chefe e sua Marla. E isso é verdade, não é? - Sim. É exatamente isso. Mas eu não acredito que seja fácil, nem para o major e muito menos para o povo da Terra aceitar isso. O meu povo poderia entender se eu trocasse o major pelo chefe Tutôr...Mas os dois! – e Réa caiu na risada – Vão me chamar de Dona Flor e Seus Dois Maridos!
- Conheço o clássico da
literatura de seu país. É Jorge Amado, não é?
- Sempre me surpreende, Mestre Arvos, a cultura que você adquiriu em
apenas cinco anos.
- Isto me foi mais fácil do que será a sua missão de explicar o amor
corniano aos terráqueos. Porém é justamente pela dificuldade que se
justifica o seu poder. É sua responsabilidade.
- Devo isso aos cornianos, na sua maneira de ver?
- Não. Penso que deva aos terráqueos.
- Acredita mesmo que eles mudarão sua maneira de pensar, apenas por eu
dar divulgação ao amor generoso de vocês? - Não. Eu seria ingênuo se acreditasse. Mas é uma semente. E haverão outros casos, entre terráqueos e cornianos e, saiba, o meu povo não aceitará o sentimento amoroso de posse dos terráqueos. Mesmo que se desenvolva entre nós, pela adoção do conceito de trabalho e de posse das coisas, o egoísmo da Terra, ainda assim será difícil fazer os cornianos renunciarem à liberdade de amar.
- Aprendi a aceitar a realidade do amor de vocês. Agora me parece natural que eu ame Tutôr e que não tenha deixado de amar o major. Mas sei que, assumindo publicamente esse fato, ficarei muito mais vulnerável ao ataque de meus inimigos políticos, que não são poucos. Além disso, você sabe, as mulheres são livres na Terra há apenas cem anos, contra milênios de dominação que sofreram. Se eu fosse um homem e tivesse duas mulheres, todos os meus conterrâneos aceitariam esse fato como natural. Mas eu sou uma mulher e a primeira a ser Almirante na Frota Espacial.
- Mas lutaram, não lutaram? Ou não teriam chegado onde estão.
- Como sempre, a grande maioria delas usufrui as conquistas de umas
poucas que se martirizaram e até morreram por essa luta.
- Já lhe disse: é o preço da liderança. E você é uma líder.
- Parece que só me resta, então, assumir publicamente o meu amor por
Tutôr, mesmo que isso magoe o meu companheiro, mesmo que até o perca,
que ele me deixe, e mesmo que dê munição aos meus inimigos.
- Se o seu major amasse outra mulher, como reagiria?
- Hoje eu acharia normal. Há uns anos passados, sofreria muito.
- Peça a Deus que ele também encontre um outro amor. E não tema os seus
inimigos, você nunca os temeu.
- Um deles, meu maior inimigo, Apolo, acabou vencendo, mestre Arvos. Ele
tinha razão em muitas das criticas que fez à condução da colonização de
seu planeta. - Para você ver, cara Almirante, que os inimigos também têm lá a sua utilidade prática. Por isso mesmo não devemos temê-los. Mas, voltando ao nosso assunto, creio que uma boa oportunidade para Tutôr e a Almirante aparecerem juntos será o anúncio da instalação da moeda e das atividades produtivas.
- Ele chega amanhã – respondeu ela, sentindo um calafrio percorrer-lhe
os ossos.
- Posso ser útil em mais alguma coisa?
- Obrigada, mestre Arvos. Vamos descer e tomar um café juntos, no
restaurante, antes que se vá. E, no elevador, ao lado de Arvos, Réa pensou que aquele selvagem que ela vira pela primeira vez há apenas cinco anos passados era agora, para ela, claro, objetivo e generoso como um bom pai.
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