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O Poder e as Estrelas livro de Isabel Fomm de Vasconcellos
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Capítulo 4 - Visão do Paraíso
Quando Réa desceu em Cornos, julgou estar chegando ao passado da Terra. Muito a Frota Espacial havia sondado aquele planeta antes de se decidir a enviar uma nave tripulada para lá. Já se sabia que a atmosfera era quase igual a da Terra, o clima sempre ameno, com pequenas variações de temperatura e de condições, em três estações mal definidas num ano corniano. O dia lá durava 26 horas, e o ano, 340 dias. A órbita era, em comprimento, menor do que a da Terra e o planeta estava mais próximo de sua estrela, mais fraca do que o nosso Sol. Toda a vida em Cornos, porém, era bastante semelhante ao que fora a Terra há um milhão de anos passados. O homem de Cornos era, em termos cósmicos, um recém-nascido.
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Van Gogh, Estrelas sobre o Rhone
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Quando se fizessem levantamentos arqueológicos, poder-se-ia precisar há quanto tempo a vida humana estava sobre aquele planeta, mas por suas condições evolutivas, semelhantes às nossas, os técnicos calculavam que o aparecimento do animal racional era muito, muito recente. Mesmo porque só haviam 3 únicas tribos e todas concentradas ainda numa área muito pequena, num único continente (Cornos tinha três grandes continentes e dois oceanos). No resto do planeta, as condições de vida animal e vegetal eram de fato muito semelhantes ao que ocorrera na Terra em sua pré história.Réa, desde que soube que haveria uma missão tripulada para Cornos, fez tudo o que estava ao seu alcance para conseguir ser escalada. Seu pai era um político importante, na época (hoje, infelizmente, estava morto) e ela convenceu-o a usar toda a sua influência no sentido de conseguir que ela fosse escolhida como membro da tripulação. Naquele ano, tinha conquistado seu primeiro comando. Era capitã de uma nave científica de exploração. Mas queria estar na nave que ia a Cornos, mesmo que numa posição menor. Capitã ela não seria mesmo, já que assumira há pouco tempo sua primeira nave. Acabara conseguindo o que queria pois tinha feito uma pós graduação em antropologia e foi designada para a equipe como CRPC - Comandante de Reconhecimento e Primeiro Contato - o que, no caso da primeira missão a um planeta reconhecidamente habitado por seres humanos, era mais do que ser o capitão.
Assim, Réa acabou sendo
rapidamente promovida à major e engajada na tripulação da nave Columbus,
como comandante da missão de reconhecimento. Era a glória! Isso, é
claro, havia lhe custado bajulações sem fim, muita diplomacia,
intermináveis conversas políticas, enormes dores de cabeça, uma grande
dose de ansiedade e problemas psicossomáticos decorrentes. Mas valera a
pena.
Mais bela ainda foi a
aterrissagem (ou deveria cornossagem?). Pousaram numa clareira, a poucos
quilômetros de distância da aldeia de Tutôr. Embora houvessem analisado
as condições da atmosfera e mesmo colhido amostras do solo, das plantas,
do ar, em missões distantes, onde os humanos do planeta ainda não
existiam, temiam que o contato físico pudesse transmitir vírus ou
bactérias ainda não detectadas. Por isso desceram com seus trajes
espaciais. E era essa primeira visão dos terráqueos que Tutôr estava
descrevendo agora, naquela almoço na Vênus Platinada, para os delegados
ali presentes:
- Eu ainda não tinha idéia
do que fosse o mundo de vocês, terráqueos. Nem sequer podia suspeitar
que houvessem outros mundos que não aquele em que eu nascera e vivera
toda a minha vida. Hoje, depois de mais de dois de seus anos, sendo
esclarecido sobre as maravilhas que a Terra descobriu e conquistou, olho
para aquele dia distante e penso que fomos todos muito ingênuos.
Primeiro vimos aquela bola de luz descendo do céu. Jamais poderíamos
imaginar que homens como nós seriam capazes de voar como os pássaros.
Vimos a bola se transformar num disco brilhante e reluzente, com uma
cauda de fogo. Vimos que aquilo havia descido entre as árvores a alguma
distância de nossa aldeia. Ordenei que os homens e mulheres fortes da
minha tribo se armassem e se dirigissem para o local onde o disco de
fogo teria caído. Eu ainda não sabia, está claro, que era um veículo,
uma nave. Pensávamos que talvez os deuses, da mesma maneira que nos
mandavam o trovão e nos fizeram descobrir o fogo, como relatavam nossos
antepassados, estivessem nos mandando uma nova descoberta.
Réa podia adivinhar o
desconforto de Apolo, sentado ao seu lado na mesa de almoço, por ainda
não ter sido citado no discurso de Tutôr, enquanto ela, até agora, fora
a principal personagem da narrativa. - O resto da história vocês já conhecem. Os terráqueos ficaram conosco muitos dias e, desde o primeiro dia, permitiram que víssemos por dentro a sua nave e foram ver por dentro as nossas casas. Explicaram que eram um povo parecido conosco, apenas muito mais velho e que não eram deuses. Nasciam e morriam, como nós, precisavam de alimento, como nós e, no começo de sua história, viveram mesmo como vivíamos nós. Assim, depois de muita conversa, fomos trazidos para cá, para a Terra, quero dizer, três de nós, um de cada tribo para que pudéssemos aprender todas as maravilhas de vosso mundo. Agora, chegou a hora da decisão. Nesse tempo de prodígios que temos vivido entre vocês, voltamos, cada um de nós, às nossas tribos e tentamos lhes explicar um pouco do que aprendíamos aqui com vocês. O que eu tenho a dizer, em meu nome, em nome de Iala e de Arvos e de nossos respectivos povos, é que Cornos quer sim que vocês se instalem em nosso planeta. Nosso povo quer viver como vocês vivem, saber o que vocês sabem porque a vida de vocês é como um sonho para nós. Por favor, venham para o nosso planeta. Construam lá as suas cidades, levem a sua gente para lá, usem as nossas riquezas, e, em troca, nos ensinem a ser também quase deuses como vocês o são. É isso que eu queria dizer. E estou faminto!
CONTINUA -
capítulo 5 |