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O Poder e as Estrelas livro de Isabel Fomm de Vasconcellos |
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Capítulo 7. Transformação |
Dali, Metamorfose III
Depois, enquanto voltavam ao alojamento, explicou a ele como guardar as roupas e pendurá-las nos cabides, tendo o cuidado de preveni-lo para que não dormisse com elas. |
Tutôr terminou seu jantar, pediu licença aos seus companheiros de mesa e retirou-se para os seus aposentos, invejando o Sacerdote Arvos que viu, de relance, conversando com a General Réa no terraço.
Ele jamais teria
coragem de aproximar-se da general, ainda que tivesse plena liberdade
para isso, pois gozava, entre os terráqueos, do status de representante
oficial de Cornos. Mas temia que ela lesse em seus olhos a profunda
admiração, o extremo desejo, em suma, o amor que sentia por ela desde o
momento em que a vira, julgando-a ainda uma deusa. Entrou em seu quarto e foi procurar uma música suave no computador. Tutôr estava satisfeito com as decisões dos terráqueos com relação à colonização de seu planeta. Achava bom que os colonizadores ensinassem ao seu povo as maravilhas que, nesses três anos, haviam ensinado a ele. Também acreditava que seria bom que seu sangue não se misturasse aos deles por cem anos. Teriam, assim, tempo suficiente para crescer em número e preservarem-se como raça. Se tivessem filhos livremente, agora, com os terráqueos, certamente desapareciam como povo, pois os colonizadores (ele sabia) seriam em número desproporcionalmente maior, agora, em Cornos, do que os nativos.
Não o preocupava a exploração das
riquezas do planeta. Compreendia hoje que seu mundo era grande demais
para abrigar apenas pouco mais de mil seres humanos, que as suas
riquezas eram grandes o suficiente para abastecer a eles próprios e aos
terráqueos. Ou, ao menos, imaginava que assim fosse. E, além disso, que
riqueza maior poderia seu povo querer do que adquirir, em poucos anos,
todo o conhecimento que a Terra acumulara em milênios? |
Ele mesmo, Tutôr, já não
podia admitir voltar a viver como vivera antes da chegada de seus
vizinhos espaciais. Nem mesmo podia lembrar-se claramente de como era
antes. Agora, pensava, era um homem muito melhor, sabia ler e escrever,
coisa que na sua tribo era prerrogativa de uns poucos sábios que
passavam esse conhecimento de geração em geração. A língua e a escrita
da Terra eram muito mais simples e claras do que as de Cornos. Sabia
operar o computador e tinha acesso a qualquer informação. A informação,
ele acreditava, era a melhor coisa da vida. Fora através dela que os
humanos da Terra haviam construído aquela vida maravilhosa que ele
sonhava levar para Cornos. Também aprendera – e nisso devia muito ao seu
companheiro Arvos – a gostar de música. Apurara seu paladar à mesa rica
e farta da Terra, aprendera os modos elegantes de comer e de porta-se
socialmente. E, embora preservasse os costumes locais e usasse apenas
enfeites, começava a achar que deveria vestir-se. Sim. Agora, nesse
instante, decidira-se: iria vestir-se como os terráqueos. Talvez,
parecido com eles, tivesse mais coragem de aproximar-se da general.
Certo que ele deixara uma amante em Cornos e que a deixara na chefia da
tribo, pois ela era mãe de algumas das crianças que ele fizera e era uma
guerreira capaz e competente. Tutôr a amava e sentia falta dela e,
sempre que voltava ao seu planeta, passava a maior parte do tempo em sua
companhia, faziam amor e ficavam horas e horas conversando e ele lhe
ensinava o máximo que podia dos conhecimentos que adquirira. Mas também
amava a general Réa. Era um amor diferente, uma paixão mesmo, ainda não
realizada e consolidada como era a sua paixão pela companheira Marla. |