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O Poder e as Estrelas livro de Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano |
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Capítulo 1 - O Sonho de Réa |
Van Gogh, Estrelas na noite |
Réa seria almirante. Era isso que ela queria e era isso que iria conquistar. Mesmo que todos estivessem contra, mesmo que até o seu companheiro estivesse contra. Era a época do boom espacial e a humanidade parecia não ter outro assunto que não as inacreditáveis conquistas espaciais. Conquistaram o espaço, mas ainda não conquistaram a consciência de que as mulheres são tão capazes quanto qualquer homem - pensava ela.
Discriminação contra raças, credos ou sexo estava realmente fora de moda, era uma atitude considerada retrógada, antiga e burra. Mas Réa sabia, sabia na alma e na carne, que esse pensamento era apenas mais uma imposição da sociedade do que de fato um sentimento no coração das pessoas. Ela mesma sabia que estava, dentro da Frota Espacial, sofrendo pela sua condição de mulher.
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A corporação à qual pertencia era considerada a verdadeira vanguarda da ciência e da tecnologia. Afinal, não se tinham decorrido ainda 20 anos da decifração do grande mistério da viabilidade das viagens pelo Cosmos e todas essas conquistas maravilhosas com as quais a humanidade sonhara há milênios, tudo isso, era fruto do trabalho dos cientistas, essa nova nata social que hoje influenciava o mundo, através das suas conquistas pela Frota Internacional.
Réa tinha que admitir que havia sido ainda maior a conquista da união das nações. Afinal, o sonho de decifrar as estrelas passara por cima das aparentemente irreconciliáveis diferenças culturais e políticas das várias nações da Terra. Só mesmo as promessas das riquezas inimagináveis de mundos desconhecidos, (e mais o sonho atávico de decifrar o céu – reconhecia ela) podia (m) ser capaz (es) de unir seres tão diferentes e tão intolerantes, com religiões inimigas (como se Deus não fosse Um Só), culturas tão diversas e que passaram os últimos milênios apenas matando uns aos outros. Não, Réa não tinha ilusões quanto aos sentimentos que movem a Humanidade. Por isso mesmo, e por muitas outras razões mas principalmente essa, ela acreditava estar perfeitamente preparada para o almirantado. No entanto, todos pareciam, dentro da cúpula da Frota, ignorar as suas ambições e ela só podia atribuir isso à sua condição feminina. Como se nem passasse pela cabeça daqueles homens que uma mulher pudesse atingir tal distinção. Ah, sim, haviam mulheres generais. Como ela própria. Mas almirante, nenhuma.
Ainda ontem, na Grande
Festa das Estrelas, evento para realmente poucas celebridades e
autoridades da Frota e do mundo acadêmico, o Presidente parecia fugir
dela como o diabo, da cruz.
Desde criança, Réa lutava pelo poder. Podia lembrar-se muito, muito bem. Sempre se sentira especial, desde a mais tenra idade, porque era celebrada na família como a menininha que nascera exatamente na noite da virada do milênio. Réa nascera às 00:01 do dia 1º de janeiro do ano 2000. E, diferentemente das outras pessoas, ela podia até hoje, 45 anos depois, lembrar-se de seus primeiros momentos de vida e dali para a frente. Lembrava-se muito bem de que, mal nascera, a mãe, ainda com a lembrança da dor do parto normal, a levara a sacada de seu apartamento na maternidade. Era uma noite limpa e clara, na cidade de São Paulo, e a mãe, com ela nos braços, lhe apontara as estrelas e fizera uma prece.
Pois é. Não era, portanto,
por um mero acaso que a vida levara Réa a fazer carreira na Frota, a
viver entre as estrelas. |
De: António de Andrade Albuquerque |
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