Vendi
o patrocínio do novo Junta Médica, na Rede Mulher, para a então Sanofi Whintrop
(hoje Sanofi Aventis) e começamos os preparativos para a estréia do programa
junto com a estréia da nova Rede. Para apresentar o programa chamei os médicos
Dr. Nabil Ghorayeb, Dra. Fátima Duarte e Dr. Romeu Meneghelo.
Uns dias antes da
estréia, houve uma coletiva de imprensa na Rede Mulher.
No dia seguinte, todos
os jornais diziam que a Rede Mulher chegava sem realmente acrescentar nada de
novo à programação feminina das outras TVs.
Eu estava com o Leão
Lobo (que também ia estrear junto com a Rede) no pátio da emissora. Comentei
com ele:
- Leão, você viu? Os
jornais estão dizendo que a Rede Mulher não trará nada de novo para as mulheres.
Eu ofereci o meu programa Condição de Mulher ao Waldemar. O Condição ainda é uma
proposta nova, mas ele não quis.
Eu não sabia. Mas o
Percival, diretor comercial, estava escutando.
Naquela mesma tarde, o
Waldemar me ligou:
- Filhinha, esse seu
programa tem algo de novo mesmo para as mulheres?
- Claro, Waldemar.
- Então você vai
estrear junto com a Rede. Venha amanhã de manhã discutir os detalhes do
contrato.
Nossa!
Fiquei radiante.
E, assim, no dia 8 de
agosto de 1994, quando a Rede Mulher de Televisão foi ao ar pela primeira vez,
lá estava eu. Meu programa Condição de Mulher ia ao ar em duas edições, de
segunda a sexta: ao meio dia e às nove da noite.
Os primeiros anos da
Rede Mulher foram muito bons. Já estavam lá o Alan, a Cinthya Magi, a Janir
Fraga. Fizeram programas na casa: Glauce Graieb, Mariza Leite de Barros, Fábio
Arruda, Leão Lobo, Giba Um, Clodovil, Cristina Cairo, Solange Frazão, Márcia
Goldschimit, Kátia Fonseca, Evê Sobral, Amália Rocha, Andréia Reis, Ricardo Côrte Real, Norma
Blum e muitos outros.
Meu programa Condição
de Mulher entrevistou, em 425 edições, muita gente legal, políticos importantes,
de José Aristodemo Pinotti e Mário Covas à Zulaiê Cobra Ribeiro e Alda Marco
Antonio e Luiza Erundina. Um montão de artistas, de Dercy Gonçalves (que me deu
uma entrevista séria e sem gozações nem palavrões) à Lolita Rodrigues.
Cantores, como Jair Rodrigues, Ângela Maria, Claudette Soares e tantos outros.
Em
1997, Rosana Herman assumiu a diretoria artística no lugar do Waldemar de
Moraes. Ela achava que o meu programa deveria deixar de ser diário para ser
semanal. Eu preferi sair do ar e ficamos, Alvan e eu, apenas com o Junta Médica.
Neste mesmo ano, fizemos um acordo com a Associação Paulista de Medicina e o
Junta Médica se tornou “APM na TV”. Em 1998 o diretor da APM achou que poderia
continuar o programa sem mim e sem o meu irmão e nos mandou embora.
Fui para a TV Gazeta
onde fiz, em 1999, um quadro no programa “Mulheres”, na época comandado pela
Ione Borges. Enquanto eu estava na TV Gazeta, a família Montoro vendeu a Rede
Mulher para a Igreja Universal do Reino de Deus.
Um ano antes eu tivera
um sonho: todo o cast da Rede Mulher estava na sala vip e eu, do lado de fora,
no pátio. Cercavam-me centenas de pastores da Igreja Universal. O sonho não é
tão premonitório quanto parece porque, há muito, eu via os representantes da
Igreja entrando e saindo da emissora e circulavam boatos de que eles queriam
comprar. Os Montoro acabaram vendendo.
O pessoal
do meio fazia apostas. Os pastores – diziam – não iam manter a Rede Mulher, iam
transformar tudo em programas da própria Igreja.
Lá se ia o meu sonho,
pensava eu, pelo ralo.
E o meu sonho era
dirigir a Rede Mulher. Fazer da emissora uma TV que atendesse às reais
necessidades da brasileira, que discutisse os seus anseios, os seus problemas,
muito mais do que simplesmente oferecer amenidades como receitas de bolo,
fofoca de artistas e artesanato. Isso também, mas muito mais que isso.
Robertinho Montoro (a
quem eu só tenho elogios e agradecimentos), o superintendente da Rede, dizia que
eu faria uma “rede feminista”, mas não era essa a minha intenção. Muito além do
feminismo, as brasileiras poderiam encontrar numa rede de TV orientações
práticas para o seu dia-a-dia, desde as questões do trabalho, passando pela
educação dos filhos e a economia doméstica, até as questões afetivas e sexuais.
Coisas que nenhuma TV ousa discutir, até hoje. Tratei de deixar claras as minhas
intenções. E, um dia, em fevereiro de 1999, um membro da família Montoro me
disse:
- O Robertinho disse
que se você conseguir um tal negócio (que não vou dizer qual era), o cargo do
artístico é seu.
Mas
um mês depois, quando eu estava conseguindo o tal negócio, a emissora foi
vendida para a Igreja.
O novo diretor
artístico, na nova administração da Igreja, era Guilherme Araújo, que fora
diretor da TV Gazeta no tempo em que eu trabalhara lá, na década de 1980. Liguei
pra ele e ofereci um programa de Saúde da Mulher. Tinha patrocínio dos
laboratorios Organon. Ele me disse:
- Ótimo, Isabel. Vamos
tirar do ar esse “APM na TV” e você pode entrar no lugar deles.
Assim, a APM, que me
tirara do meu próprio programa, cedia novamente seu espaço a mim.
No dia 7 de novembro de
1999, estreou na Rede Mulher de TV, o meu programa Saúde Feminina, que ia ao ar
aos sábados e aos domingos.
Um
ano depois, a diretoria de emissora me chamou e me propôs que o Saúde Feminina
se tornasse um programa diário.
E assim foi feito.
Fiz 1427 programas
Saúde Feminina na Rede Mulher de TV, de novembro de 1999 a novembro de 2006.
Em 2001 a Rede Mulher
se mudou do apertado prédio da Granja Julieta para o antigo prédio da TV Record,
quase em frente ao aeroporto de Congonhas. Ficamos muito bem instalados, com 7
estúdios. Ronnie Von e Sula Miranda foram fazer seus programas lá. Vieram também
Claudinha Pachedo, Liliane Ventura, Mirian Sobral, Ronaldo Esper, Mariana Dib.
Do tempo dos Montoro,
permaneciam lá apenas a Cynthia Magi, o Alan e eu.
Fiz
uma grande amiga nesses anos de Rede Mulher: Fátima Turci, apresentadora do
programa Economia & Negócios, com quem, por muito tempo dividi o camarim.
Em 2006, propus ao
superintendente da Rede que me desse a incumbência de fazer uma programação
realmente voltada para os interesses da mulher brasileira. Apresentei um
projeto. Ele gostou. Aprovou. Disse-me:
- Prepara-se: segunda
feira você vai mudar de posição aqui na casa.
Mas na segunda feira
alguma coisa mudara. Ele se desculpou. Disse que os seus superiores achavam “que
ainda não era o momento”.
Mais uma vez, engoli o
sapo.
A Rede Mulher de TV
ficou 13 anos no ar e, na minha ótica, sem nunca chegar a ser realmente uma TV
que atendesse aos anseios das brasileiras. Sem nunca merecer realmente o nome
que ostentava.
Entretanto,
nem posso reclamar. Sempre fui muitíssimo bem tratada na emissora. Pude fazer
meus mais de 2000 programas. Fui feliz lá. Não atingi os meus objetivos, não
realizei o meu sonho, mas realizei muitas coisas boas. Tenho, no computador, um
enorme cadastro de telespectadoras que, de um jeito ou de outro, se beneficiaram
do meu trabalho, o que muito me honra e me faz feliz. Convivi com médicos
maravilhosos que emprestavam seu tempo e seu conhecimento para o nosso programa.
Entrevistei pessoas inesquecíveis. Fiz amigos.
Em 2007 a Rede Mulher
fechou as portas.Transformou-se em Record News, um canal de
jornalismo da Rede Record. É o caminho que a administração do grupo escolheu.
E eu, que sou uma
sonhadora incansável, espero que, algum dia, as mulheres brasileiras encontrem
uma televisão que atenda às suas necessidades e anseios. Porque, por enquanto,
não há nenhuma, em rede aberta. Justiça seja feita, uma TV que mereceria o nome
de Rede Mulher é o canal a cabo GNT, da Globo, que começou sendo dirigido por Letícia Muhana e que
contempla muitos assuntos de interesse feminino.
É
preciso dizer ainda que o Waldemar de Moraes, o homem que “inventou” a Rede
Mulher, se tornou um dos nossos melhores amigos. Frequentou a nossa casa, esteve
sempre presente em momentos importantes da nossa vida e foi um amigo
queridíssimo, um dos melhores. O mesmo homem que, um dia, me julgou “uma
experiência”.
Depois da Rede Mulher, estive na AllTV, na
Band e na Open TV e na Rede NGT de TV.
Veja também:
12 DE JUNHO,1984-2014
TRINTA ANOS DE TV