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Nascer menina |
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(Di Cavalcanti, 1967, Menina com Gato e Piano)
8 de março de 2017, Dia Internacional da Mulher. Declaração do Presidente do Brasil:
“Tenho absoluta
convicção, até por formação familiar, por estar ao lado da Marcela
(Temer), o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz pelo lar, o
quanto faz pelos filhos. Se a sociedade, de alguma maneira, vai bem, e
os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas,
e seguramente isto quem faz não é o homem, mas a mulher ...Na economia
também a mulher tem grande participação. Ninguém mais é capaz de indicar
os desajustes de preços no supermercado do que a mulher”
outras subpáginas sobre o 8 de março, aqui no Portal S&L
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Neste surpreendente mês de março dedicado à luta das mulheres, meu dia
anda começando cedo. Eis o
que vi: Frente a
tudo isso, o relatório da Anistia Internacional sobre violações de
direitos no Brasil em 2016, afirmou que “o Brasil é um dos piores
países da América Latina para quem nasce menina, em especial devido aos
níveis extremamente altos de violência de gênero e gravidez na
adolescência, além das baixas taxas de conclusão da educação
secundária.” Dizer
mais uma vez que o nosso é um país com autoridades machistas que
piamente acreditam que as competências das mulheres, essas cidadãs de
segunda categoria, estão relegadas aos trabalhos do lar, é regurgitar
uma dolorosa obviedade que a sociedade contemporânea há muito repudia.
E, além de ressaltar ainda mais o crescimento que as estatísticas de
desigualdades e violência contra as mulheres expõem, nos remete a um
passado assustador. Simone de Beauvoir, a filósofa que revolucionou a questão feminina, há 68 anos formulou uma preciosa verdade: não nascemos mulher; tornamo-nos mulher, a partir da história da civilização humana (que é a história da dominação masculina) e da história particular de cada uma. Com essa consciência e a luta das mulheres, a opressão em que a história teimava em nos jogar, vem sendo há décadas, com esforço e paulatinamente, desconstruída. Mas eis que, então, neste março do século XXI, quiseram nos passar uma rasteira e nos arremeter de novo para o século passado.
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