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O que fala mais alto. Memória do 8 de março na TV, por Isabel Fomm de Vasconcellos
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(Goya, 1797, Conjuro)
(Goya, 1799, O Sabbath das Bruxas)
Clique na foto abaixo e veja um programa atual da TV Memória sobre o nosso Condição de Mulher.
TV Condição de Mulher
-Especial 30 anos
ALDA MARCO ANTONIO é a entrevistada de Isabel Fomm de Vasconcellos,
1986-2016 Assista
Um Novo Feminismo: Descubra porque Todas as Mulheres São Bruxas.
Clique na capa do Livro |
Em 1985 entrou no ar, pela TV Gazeta de São Paulo (e outras TVs
espalhadas pelo Brasil, em tempos pré-satélite democrático) o meu
programa Condição de Mulher. Os
lobbies das moças organizadas pipocavam pelo país, preparando as
reivindicações das meninas para a Assembleia Constituinte. Reuni
representantes de todos os movimentos de mulheres, feministas e/ou
femininos, para ouvir delas o que esperavam de um programa dedicado à
análise da condição social e política do sexo feminino, no Brasil e no
mundo. Para
minha grande decepção, a única, entre talvez 30, que saiu brava e
batendo a porta, foi a representante do recém-criado Partido dos
Trabalhadores. Ela dizia que não ficaria na reunião se eu não me
definisse politicamente. Respondi que era a jornalista, a que se
encarregaria de dar espaço a todas as tendências políticas ali
presentes. Mas ela foi embora assim mesmo. No
dia 8 de dezembro de 1985 o programa estreou.
Entrevistei centenas de mulheres e alguns homens, comprometidos com a
luta do sexo feminino pelo reconhecimento da não existência de um “sexo
frágil”, pela elevação das mulheres à condição de cidadãs de primeira
classe. A
nova constituição brasileira contemplou, em 1989, todas as
reivindicações femininas. Muitas delas só se tornaram leis quando, quase
uma década depois, se regulamentou o nosso Código Civil. Mas
até hoje as mulheres ganham em média 30% a menos que os homens na mesma
função, até hoje não têm creches suficientes para os filhos, até hoje
são ridicularizadas nas propagandas e nos programas de humor da TV, até
hoje muitas de nós acreditam que não podem de fato ser alguém, se não
tiverem o amparo de um homem.
Cuspindo no passado de suas bisavós sufragistas, as que foram presas e
até morreram lutando pelo direito de votar, muitas de nós ainda
acreditam que “política é coisa de homem” e sexo, para muitas, “só com
amor”, apesar das feministas dos anos 1960 e da suposta "revolução" da
pílula anticoncepcional. Um enorme vexame foi dado, há alguns poucos anos, pela tal “Secretaría da Mulher”, órgão federal, que se manifestou contra o comercial das calcinhas Hope onde a nossa maravilhosa Gisele Bunchen dava lições de como usar o único real poder que as mulheres têm sobre os homens: o poder da sedução.
As
jurássicas feministas brasileiras, pelo jeito, merecem mesmo o rótulo de
mal-amadas, pois julgaram a sadia brincadeira dos publicitários como uma
demonstração de machismo. No
entanto, estão no ar hoje, 2018, dois comerciais de algum produto
turístico onde o homem despacha a mulher como uma “mala” no embarque
aéreo e depois vai busca-la na esteira de bagagem. As nossas jurássicas
feministas não viram isso. Já,
internacionalmente, as americanas politicamente corretas, as que louvam
o que é mediocremente estabelecido, estão confundindo cantada com
assédio. As
francesas reconheceram o valor da cantada para a preservação da
recém-conquistada (parcialmente conquistada) liberdade sexual. E,
por fim, (até porque já estou cansada desse meu próprio discurso, que
repito, em várias formas, há 4 décadas) o 8 de março, Dia Internacional
da Mulher, transformou-se em outro Dia das Mães ou Dia da Secretária,
apropriado pelo comércio (nada contra, aqui) e despido de seu
significado político. Muitas vezes fui esnobada e desprezada por falar no 8 de março na televisão. Só muitos anos depois disso é que o Dia Internacional da Mulher passou a ser reconhecido e comemorado no nosso país.
Aqui
também é assim: dói falar no 8 de março pela ausência de grandes
evoluções na condição feminina. Mas, um ano depois, a gente esquece a
dor e a convicção e o ideal falam mais alto. |
Elaira Moura Marchesi Muito bom amiga !!
Linda Naufel de Freitas Você é ótima!
Cmte Edgard Baldo Você tem muita histórias para contar, então conte-as.
Rogerio Bartolomei Sigo seus escrito há tempos....mais um que valeu muito ter lido! Grato! |
Evaldice Maria Ruck Cassiano Boa noite! Esqueça sempre a dor e valorize o ideal. Precisamos de seus textos e viva 8 de março !!!! |
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José Eduardo Pereira Lima Sempre brilhante
Marcio Monteiro O que não podemos nunca é perder a leveza. Cumprimentar as mulheres pelo seu dia não é, de forma alguma, não reconhecer o direito delas à luta pela igualdade. Não, o direito não. Reconhecer a própria igualdade. Mas pessoalmente não entendo esse dia apenas como uma agenda das suas lutas, ainda que o propósito das Sras. Zelkin e Kolontai possa ter sido esse. Viva a sedução, vivam as diferenças (no sentido óbvio e bom), viva o bom e velho galanteio. Eu prefiro continuar não acreditando na igualdade, mas na superioridade feminina que um dia será certamente reconhecida, sem querer ser demagógico. Continuo com a reverência que fiz no Dia da Mulher do ano passado: "Dia Internacional da obra prima d´Ele". |
Lusimar Monteiro Alvares
Belo texto, bela história, mesmo repetindo
sem o eco desejado. Isabel Fomm de Vasconcellos Não acho que qq pessoa decente possa ser a favor de qualquer tipo de assédio: sexual ou moral. Mas defendo o direito à cantada. Tb cantei vários homens na vida. Alguns toparam, outros não... hahaha....
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