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O HOMEM QUE COMIA MITU |
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por Nelson Primi |
Goya, Fuzilamento |
Nos tempos bicudos
dos anos de chumbo quase tudo era proibido.
Aguentamos firmes
de 1964 no golpe do Marechal Castello Branco do ato 1 até 1967 com o ato
4; quando da promulgação do ato 5 em 1968 não tivemos escolha, nossos
direitos constitucionais estavam simplesmente abolidos e vários amigos
eram presos e sumiam misteriosamente tendo culpa no cartório ou não.
A imprensa de um modo geral estava censurada
( quem se lembra das receitas de arroz publicadas na
primeira página do Jornal da Tarde ?), as informações chegavam
truncadas, os aparelhos (locais de reunião do pessoal da oposição) eram
descobertos através de informações de infiltrados nos nossos grupos. |
Havia
um dos nossos amigos especializados em produzir factoides,
espalhar boatos e criar fofocas a respeitos dos militares e delegados da
época. A
outra é do amigo que comia Mitu. |
Oscar UltravitrineAproveitando a deliciosa crônica do Nelson Primi sobre os Tempos Bicudos para relembrar alguns “causos”: Em 70 ou 71, costumávamos ir, quando a tarde estava bonita, o José Carlos Heinze, o Ronaldo Câmara, o Álvaro Paes Leme (o filho), o Vitor Rolim de Freitas, eu e mais alguns amigos que moravam na Mal Deodoro, à pé pela Adolfo Pinheiro. Sempre íamos conversando, tirando sarro um do outro e cada um ficava no meio do caminho, conforme chegasse perto de sua casa. O Vitinho na Gal Carneiro, o Ronaldo na Nove de Julho, o Zé Carlos na Fraternidade, o Álvaro e o Jandir eram os que iam mais longe - perto do Clube Banespa. Naquela tarde não foi diferente, mas, depois de deixarmos o Vitinho e o Ronaldo, quando estávamos quase chegando na Fraternidade, fomos “abordados” por uma viatura da polícia, que queria saber o que fazíamos, de onde víamos, para onde íamos. Como ainda naquela época não podíamos andar em grupos (nem no pátio do Alberto Conte e muito menos nas ruas), eu menti dizendo que era office-boy e estava indo ao Banco. O Álvaro, com aquele jeito de quem não tinha que dar satisfação prá ninguém, disse que estava indo prá casa e ainda perguntou, provavelmente contando com as costas quentes do pai, que era da Record: Por quê? Quando perguntaram pro Zé Carlos, ele disse a mesma coisa: Office-boy, mas os milicos duvidaram, obviamente. Quando iam nos revistar, encostando-nos no muro do Colégio Anglicano (hoje banco Bradesco), apareceu o Positivo. O Positivo era um negrão que vivia ali na região, principalmente no bar do Fernando (esquina da Fraternidade com a Adolfo) e a gente imaginava que fosse parente do Big. Quando o milico segurou o braço do Zé, empurrando-o contra o muro, como dizia, apareceu o Positivo, colocou a mão no ombro do policial e disse: - Deixa o garoto, ele é boy mesmo. Até hoje não sabemos porque, o policial olhou pro Positivo, para seus companheiros, deram de ombros uns para os outros, entraram no carro e foram embora. O triste é que a partir desse dia, todo mundo passou a achar que nosso benfeitor era um espião infiltrado. O pior, mas pior mesmo, é que eu sempre andava com uma moeda no bolso, uma espécie de amuleto do tipo a "moeda nr. 1 do Tio Patinhas". Imaginem o medo que senti, deles me revistarem e acharem essa moeda:
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Estanislau Rybczynski Nelson, muito boa a cronica, aqui em meu bairro, nessa mesma época , anos de chumbo, um senhor (muito popular no bairro) foi preso e torturado, porque ele era conhecido como manipulador de massas, conhecedor das massas, ate explicar que ele era padeiro e fazia uma massa boa, já tinha apanhado muito na 11ª. (omiti o nome e o bairro de próposito)
Nelson Primi
Ah ah ah ! que maravilha, eram anos também de muita desinteligência;
o Chico Anysio contava uma história que um dia ele foi submeter uma peça
de teatro que havia escrito aos censores e em uma das falas o ator
dizia: Fui à Roma e adorei os afrescos da Capela Sistina, o censor
mandou substituir por " rapazes de maus hábitos" da Capela Sistina. Isabel Fomm
de Vasconcellos O meu irmão Ronaldo Alvan contava que um censor
cortou, no programa Times Square, da TV Exclesior (onde Alvan era
gerente de programação, na época) um poema do Bilac, o famoso "onde a
brisa do Brasil beija e balança", alegando que " é imoral o ato de
beijar e balançar ao mesmo tempo". Nelson Primi
Ah ah ah! dá um anedotário, é não Isabel? |
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