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Por Causa da Foto - Castelo, 1963 memória de Isabel Fomm de Vasconcellos
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Meu pai, Alfredo, esquiando na Represa do Guarapiranga, com o Castelo ao fundo.
Quem conheceu o Castelo nessa época sabe que aquela mancha branca ali acima da praia era uma edícula, provavelmente local de serviço e moradia de empregados, quando o Castelo era residência da família do diretor alemão da Brahma, que o construiu. Virou clube em 1959. Meu pai estivera lá em 1937 e se apaixonara pelo lugar.
Quando virou clube, foi um dos primeiros a comprar título de sócio proprietário. Então era só o Castelo e a edícula branca, uma linguiça de cimento. O terreno é acidentado. O Castelo está no alto de uma península que, por sua vez, é um morro baixo. Tanto à esquerda quanto à direita do Castelo, o terreno desce para a praia.
A primeira coisa que o clube construiu foi a piscina e a edícula branca nos servia de vestiários. Depois se construiu o primeiro e grande salão de festas, ligado à sala de vidros (hoje não é mais ligado), com um terraço que, na verdade, é a cobertura dos grandes vestiários que acabaram por substituir a edícula branca, que veio abaixo. Hoje, no lugar dela há um bar e mais uma piscina.
Nossa! Escrever tudo isso por causa de uma foto. A foto vale por mil palavras, é o que dizem. Mas, como diria o saudoso Chico Anísio, "dizem, mas não provam!".
Essa foto deve ser de 1963, no máximo. Ano em que a nossa lancha -- a Bebel -- saiu dos estaleiros do Florio, na barragem da represa e veio fazer a alegria de tanta gente no Castelo. A generosidade do meu pai (Velho Vasco, como eu o chamava) ensinou uma geração de primos, amigos, conhecidos, agregados e até desconhecidos, a arte do esqui aquático. Meu pai, nessa foto, está esquiando com "dois pés", então era ainda um principiante. Deve ser sim 1963. Eu tinha 12 anos. Ele, 55. E eu já o achava velho.
O Castelo, nesse tempo, era o paraíso verde que a minha prima Beth (Elizabeth Krausz) diz que era, então, "o quintal da nossa casa". As margens da represa, no entorno, eram verdes, não havia loteamentos, prédios altos, nada disso, como há hoje. O caminho para o clube era uma alameda estreita, ladeada por eucaliptos tão grandes cujas copas de uniam, formando um túnel verde que ia subindo de leve até revelar aquele Castelo de sonhos.
Não existia casa de barcos. Os barcos ficavam em barracões de madeira, improvisados. Não existia ginásio coberto e havia apenas uma quadra de tênis, não 10. As praias que circundavam a península não tinham por limite quadras poliesportivas, bocha, nada disso.
Era só o Castelo, com sua edícula branca, sua boate-adega subterrânea e um salão de festas. Um. Não dois, como é hoje.
Hoje o Castelo é cercado por residências e o túnel das árvores foi destruído. Também a rampa de árvores que leva da sede à represa é hoje ladeada por pequenos pinheiros. Antes, eram majestosos eucaliptos. E, no fim de tarde, o enorme gramado que ladeia a rampa, se transformava em um mini cosmos, os vagalumes piscando como se estrelas fossem. Será que ainda existem vagalumes?
Por tudo isso, por tudo o que mudou, eu fui lá e não gostei do que vi. O meu Castelo pertence a outro tempo, a outra realidade, onde fui estupidamente feliz. É passado. Aquele Castelo do presente é das novas gerações e espero que elas consigam (mas não sei não) ser tão felizes quanto eu fui, apenas por estar lá.
Maria De Fátima Rodriguez M Qta
história bonita! Isabel Fomm de Vasconcellos Não doem, animam! São maravilhosas e meu pai, bem, ele era um druida e não sabia (ou não se lembrava). Meu pai era muito, muito vanguarda. Foi pioneiro nas técnicas cinematográficas, na América Latina. Quando eu tinha 16, me mandou trabalhar porque sabia que eu não era "mulher de depender de homem nenhum" -- e eu fui ser jornalista no Jornal do Brooklin. É mole? Isabel Fomm de Vasconcellos Ah! E quando eu fui fazer vestibular pra Escola de Cinema do Colégio São Luiz, em 1969, ele disse que eu estava errada, que deveria fazer engenharia eletrônica porque a eletrônica era o futuro da imagem. Como é que ele sabia?
Maria De Fátima Rodriguez M
Isabel Fomm de Vasconcellos , sempre q
vc posta essas fotos cheias de história fico mto interessada nelas. Yolanda Moura Que belas lembranças tão perfeitamente descritas !
Mais sobre o Castelo: Um Castelo Entre as Árvores (memória) e Crônica "Andrea e o Amor" publicada em 7 de junho de 1981, no Jornal O Diário Popular, onde eu tive coluna de 1977 a 1984.
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