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(Eddi Lui, 2014, Mulher Maravilha Velha)

 

 

 

 

 

 

 

 

"...cabelos brancos por fora, cabeça jovem por dentro. É o que importa. E assim quero me sentir, assim me sinto, e assim espero continuar me sentindo. Portanto. Abaixo qualquer tipo de preconceito!"

 

Ao Vento, Cabelos Brancos.

Maria José Silveira
 


A pandemia me fez aceitar meus cabelos brancos. Brancos como uma página branca que assim ficará. Branquinha. Um fino lenço de seda branca bailando ao vento.


E já aviso que aqui tratarei apenas dos cabelos brancos das mulheres. Sabemos que, para um homem, assumir seus brancos costuma ser um charme a mais, sinal de serena maturidade, para as mulheres, no entanto, é única e exclusivamente sinal de envelhecimento.


Muitas amigas queridas, da mesma faixa etária, preferem tingi-los, o que sem dúvida permanece como ótima opção. Querem continuar jovens por fora assim como são por dentro, e é muito bom isso. Sentem-se bem assim, é o que vale.


Pois tem um fato que precisamos enfrentar, as que optamos pelos brancos, ao nos olharmos no espelho e não nos reconhecermos mais (o maior problema que os cabelos brancos trazem. “Essa já sou eu?” “Quando foi que fiquei assim?”)

 

Questões que resolvi com certa dificuldade, mas acabei resolvendo: cabelos brancos por fora, cabeça jovem por dentro. É o que importa. E assim quero me sentir, assim me sinto, e assim espero continuar me sentindo. Portanto. Abaixo qualquer tipo de preconceito! Que cada uma de nós - mulheres que já começamos a ver fios brancos no espelho - tenha o direito de fazer o que desejar com os seus.


Mas por que a celeuma? O que acompanha uma mulher de cabelos brancos?
 

Nada de muito interessante. Provoca o que podemos chamar de algumas gentilezas. Cavalheiros nos dão passagem e seus assentos, jovens gentis nos tratam como tratariam suas mães, há certa solidariedade a nos cercar nas ruas. E nossos próprios filhos percebem, de repente, que estamos mais velhas do que eles imaginavam. Tornam-se mais solícitos, mais preocupados com nosso bem-estar. Uns encantos.


Gostamos disso? Eu, não. Muito menos da parte dos filhos que começam a se preocupar com nossas fragilidades. Meus filhos sempre foram uns encantos, e nunca pensei, a essa altura da vida, causar preocupação a eles. Ainda que seja algo inevitável e natural, é outro ponto negativo que a idade traz. Essa inversão dos papéis: de pais naturalmente preocupados com os filhos a filhos naturalmente preocupados com pais. Não gosto nada dessa parte.


Mas fico um tempinho parada aqui, tentando achar alguma coisa boa no envelhecimento.
 

Estamos ficando mais sábias? Vocês estão? Eu, não.
 

Mais serenas? Eu bem gostaria. Às vezes, tento. Quero me posar de calma, tranquilíssima, como se as coisas do mundo me afetassem menos porque sei de sua evanescência, sua ininterrupta mudança, mas qual! Ainda não tenho tal circunspeccão, tal equilíbrio. Tô longe!


Estamos mais habilitadas a acolher a finitude que nos espera em algum canto? Provavelmente, não. Dada sua proximidade, tornou-se mais difícil pensar no assunto. No quando e no como.
 

Mas, ei!, amigas queridas. Para algo há de servir essa pequeníssima reflexão sobre assunto tão aparentemente fútil como o branco dos cabelos: para nos dar a certeza de que, a qualquer idade, com qualquer tipo de cabelo, viver é algo precioso, e basta.