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(Van Gogh, 1853, Campo de Trigo sob Céu com Nuvens)

 

 

 

 

A Fantástica Descoberta dos Rios Voadores

por Maria José Silveira

Vídeo Rios Aéreos,

Mudanças Climáticas e Cidades Resilientes.

Assista. Ver Chamada.

 

 

Não sei vocês, mas eu só outro dia fiquei sabendo dos rios que voam pelos nossos céus.

São corredeiras atmosféricas imensas que, levadas por correntes de ar, viajam por cima de nossas cabeças, transportando umidade e vapor de água. Ao se encontrar com certas condições meteorológicas, essa umidade é transformada em chuva.

Um rio gigante, bem maior do que o Araguaia, faz um voo periódico da Amazônia para a Região Sudeste,

com a ajuda da floresta.

 

                                                                                                                           

Essa foi a principal descoberta da Expedição Rios Voadores, projeto de Gérard Moss, engenheiro e explorador franco-brasileiro que, desde 2003, voa de monomotor pelos céus do país, coletando amostras de nuvens. O objetivo do projeto é mapear nossas correntezas voadoras.

 

A quantidade de vapor de água transportada pelos rios voadores pode ter a mesma ordem de grandeza, ou mais, que a vazão do rio Amazonas, o maior rio do planeta.

     

Quer dizer, a coisa é séria.

 

Pelo que entendi, é assim: os ventos alísios empurram a umidade vinda do Atlântico para a Amazônia e provocam chuvas na região. Do total dessas chuvas 50% são absorvidos pelas árvores mas boa parte disso volta para a atmosfera em forma de vapor d’água. 

 

Esses vapores são transportados pelos ventos até a cordilheira andina, que funciona como uma barreira natural e redireciona o percurso da corrente para o Sul e o Sudeste do país. 

 

 “O vapor d’água que faz esse trajeto é importantíssimo para as chuvas de quase todo o Brasil”, afirma o engenheiro agrônomo Enéas Salati, da USP. Mais da metade da precipitação das Regiões Centro-Oeste e Sudeste vem dos rios aéreos da Amazônia.

 

E como no mundo tudo está interligado, os rios voadores estão hoje ameaçados pelo desmatamento. Cada árvore que você corta aqui embaixo tira uma gota lá de cima, daquele mesmo céu de múltiplos tons de azuis e luminosidade que nos deslumbra tanto que muita gente já acreditou existir ali um paraíso. Agora sabemos que o desaparecimento de nossas florestas vai secando não só a terra como também o céu, um lugar onde, ingenuamente, poderíamos pensar que, de alguma maneira, nossas águas estariam a salvo.

 

Você consegue imaginar que, se as coisas seguirem como estão, o desmatamento deixando cada vez mais clareiras, um dia olharemos para o céu e ele poderá - credo em cruz! - estar seco?!

 

Sinceramente, não consigo imaginar um futuro desses. Então volto para o mundo em que estamos hoje e admiro a exuberância desses rios caudalosos, corredeiras voadoras e cachoeiras celestes que passam invisíveis sobre nossas cabeças.

 

Resultado: não sei vocês, mas eu jamais olharei para o céu da mesma maneira.