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60 Natais memória de Isabel Fomm de Vasconcellos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1950 (na foto acima, link para vídeo)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1967

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1966

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

meu pai, de fotômetro no pescoço pois estava filmando, no natal de 1949

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*No Natal, minha editora, a Barany, lançou um livro que reúne todos os meus contos de Natal, que não são histórias para crianças, como muita gente pode imaginar. O livro tem ilustrações da artista plástica Suely Pinotti e se chama

"Primeiro Chegam os Anjos". Para saber mais clique aqui ou na capa do livro.

 

 

"...cria-se uma enorme corrente de pensamentos positivos e isto, sem dúvida, melhora o mundo."

 

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Para quem, como eu, viveu uma infância de natais maravilhosos, esta época do ano jamais deixa de ser muito especial. Foi na minha casa, na casa de meus pais, que a família se reuniu, por anos, em torno da figura das minha avó materna.

Minha mãe (na foto, ao lado, no Natal de 1950), quando já tinha 80 anos de idade, contava que organizara mais de 30 natais para mais de 30 pessoas de cada vez. O Natal da minha infância e juventude era um momento aguardado. Momento de encontrar primos e tios que vinham de outras cidades e também aqueles que víamos sempre, que moravam em São Paulo. E todos - adultos e crianças -- se divertiam muito.

Não tenho filhos, mas se os tivesse, ensinaria a eles que a alegria de conviver é mais importante que a árvore cheia de presentes. Tínhamos as duas coisas, é verdade. Mas se tivesse que escolher entre os presentes e a alegria da convivência, os presentes que se danassem.

Meus pais me ensinaram, muito mais pelo exemplo do que pelas palavras, que as pessoas são mais importantes do que as coisas e que ser é mais importante do que ter.

Soa até meio ridículo, numa época em que quase todo mundo acredita que o dinheiro pode comprar tudo, dizer que ser é mais importante que ter. Mas é.

Não sou dessas babacas que acha que o dinheiro é um mal ou que só o amor constrói. Sem dinheiro não se come bem, não se dorme bem, não se previne bem as grandes doenças, vive-se estressado e infeliz. Com dinheiro é muito melhor. Mas ele não pode ser o motor da vida. Ele é apenas decorrência, quando se vive de acordo consigo mesmo e com suas próprias convicções. Quem destrói por dinheiro jamais encontra a tal da felicidade.

Penso em todas essas coisas no ano novo, no natal, nas férias de fim de ano, porque é a data do nascimento do Cristo que, embora tendo se transformado num enorme evento comercial, faz com que a maioria das pessoas, nos países cristãos, receba inúmeras mensagens de amor, esperança, paz e tolerância.

Assim, cria-se uma enorme corrente de pensamentos positivos e isto, sem dúvida, melhora o mundo.

Os natais da minha infância foram parte importante da base de amor e segurança onde toda a minha vida se alicerçou. Por isso, deles, só tenho maravilhosas lembranças. Eram festas inesquecíveis, com mesas inesquecíveis, presentes inesquecíveis e, acima de tudo, pessoas inesquecíveis.

É engraçado notar como alguns dos meus primos se esqueceram do que, para mim, é inesquecível, como por exemplo o fuska do meu irmão Alvan que vinha do Rio (ele morava lá e trabalhava na TV Excelsior, a Globo da época) cheio de presentes e de livros. Alvan era o grande divulgador dos livros. Ou, para dar outro exemplo, alguns se esqueceram do ano em que surgiu o autorama e o meu pai (que era o eterno desbravador das novidades tecnológicas) armou uma pista que circundava os quase 30 metros de paredes da nossa sala de projeção (hoje seria um home theater) onde minha mãe armava suas enormes mesas para as ceias de natal.

Depois a grande matriarca, minha avó Amélia, morreu. Os tios estavam casando seus filhos e tendo netos. Meus pais e eu começamos a ir passar os natais na Bahia, em Salvador, para onde a TV Globo tinha mandado meu irmão Alvan (por 10 anos ele dirigiu lá a afiliada da Rede Globo) e onde o natal era uma festa menor. A Bahia tem todo o verão de outras festas - de Conceição da Praia, em 8 de dezembro, até o carnaval. Era engraçado porque os amigos baianos do meu irmão iam passar o Natal no apartamento dele, conosco, já que não havia o hábito de reunir a família no 24 de dezembro... ah... e nunca tinham comido panetone! rsrsrs...

Assim, os grandes natais dos meus pais, Wanda e Vasco, não se repetiram. Nos anos 1970 passamos todos os natais na Bahia, nos anos 80, meus pais voltaram a receber, mas agora com muito menos dinheiro, menos pompa e menos gente. Nos 90, nos dividimos entre a casa da minha tia Jeannette, ou da minha mãe ou a nossa. Caetano e eu demos algumas festas de Natal memoráveis. Em 1995, lotamos o apartamento de parentes, inclusive da família dele. Em 96, 97, 98, demos memoráveis almoços natalinos para os amigos.

Meu pai morrera em 1987. Meu irmão Alvan, em 2004. Meu irmão Alfredinho e minha mãe, em 2007. O irmão do Caetano, em 2003. A mãe dele, em 2004. Sobrou pouca coisa da família pra se reunir em volta da mesa de Natal. Os filhos do Caetano tem outros compromissos com a família da mãe deles.

Em São Paulo, só uma das irmãs da minha mãe e sua filha caçula.

Os outros primos estão espalhados por várias cidades do Brasil, bem longe de São Paulo, onde nasci e quase todos eles também nasceram.

Assim, nos últimos três anos, Caetano e eu temos passado sozinhos a véspera de natal. Fazemos uma ceia maravilhosa, enchemos a árvore de presentes pros amigos e, no dia 25, almoçamos com a família da minha nova irmã, a minha amiga Leda, a melhor amiga que alguém pode desejar.

Neste ano fiz um filme. Passei cinco dias editando todos os nossos filmes de natal, de 1949 a 2009. Em homenagem a todos aqueles que já se foram e que me ensinaram o que é o amor. Em homenagem a todos, amigos e parentes, que dividiram alguma mesa de natal conosco. E, principalmente, em homenagem ao meu pai, que se apaixonou pelo cinema há quase 100 anos passados e  nos fez gente da imagem. O filme mostra, em 33 minutos, os cinquenta anos de natais filmados por meu pai e por mim. (Se tiver curiosidade em assistir, clique aqui).

Todos os anos costumo escrever uma história de natal*. Não sou religiosa e nem sei se há lugar para um Deus humano num universo tão maravilhosamente louco, insano e misterioso. Mas sei que, no meu coração, há um cosmo de alegria, de afeto, de vida, que faz com que eu tenha longos braços para envolver a todos que amo e que amei nesta vida.