Adeus aos Amigos que perdemos: Pinotti, Gaiarsa e Thiago Memória de Isabel Fomm de Vasconcellos |
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PROF. DR. JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI, o defensor da saúde das mulheres |
A gente pensa que não sabe, mas sabe. Esta manhã acordei meio amarga, eu, que ando tão feliz, tão realizada e tão magra. Pensei nos antidepressivos, em TPM, na Menopausa e em todas essas coisas que são tão coisas de mulher. Claro. Coisas de mulher. Da saúde da mulher.
Eu não sabia. Mas sabia. Era a alma dele que passava por todos nós, que o amamos.
Foi só depois da ginástica, do banho, do café. Abri o computador. Eram 11 da manhã. As 10 e 45 a assessoria de imprensa da faculdade de Medicina da USP soltou o e-mail. Era o último da minha lista. Uma lista grande. Bati os olhos e vi primeiro a palavra “falecimento”. Pensei: lá se vai outro grande professor da USP. Imaginando algum emérito bem velhinho, lá pelos noventa e fumaça. Bastou um segundo para eu ver que era ele. Um dos grandes médicos que eu mais gostava de entrevistar. Um homem que era especial demais para todas as mulheres, inclusive para mim, que tanto brigo pela minha condição feminina. Só 74 anos!! Ninguém mais morre com 74, Pinotti querido. É muito cedo. Eu sei, eu sei. O câncer, o enfarte, a bala perdida, o acidente... Muita coisa pode acontecer. Sabia, é claro, que ele estava doente.
Mas, dia desses, vi um programa dele, um desses que ele apresentava numa TV a cabo. Pensei: “Ele está meio abatido mas vai, é claro, vencer o câncer”.
Ainda nesta semana, escrevendo sobre a liberação das drogas, me lembrei dele, num debate na Rádio Tupi, no programa do Paulo Barboza. Todo mundo me xingando, por telefone, porque eu defendia a liberação. Pinotti estava lá e confesso que tremi quando ele começou a falar. Pensei: será a primeira vez que ele vai descer o cacete em mim. Mas ele me apoiou. Aí que tremi mesmo! Todos os momentos bacanas desfilaram na minha cabeça enquanto o metrô me levava até a faculdade, onde o corpo dele seria velado. A primeira entrevista que ele me deu, em 1985. O e-mail gentil me cumprimentando pelos meus quatro mil programas médicos. Uma longa entrevista, no Pérola Byington, quando ele ainda dirigia o hospital, duas páginas na revista UpPharma. Todas as vezes que fiquei feliz ao vê-lo entrar na maquiagem da TV para participar do meu programa. O dia que ele me chamou pra frente das câmeras quando fui até o estúdio do Ronnie Von para cumprimentá-lo e, mais do que tudo isso, uma cena que jamais esquecerei:
Em 2007 levei minha mãe, bem velhinha, ao hospital Pérola Byington para que meu amigo João Carlos Mantese desse uma olhada nela. Estava esperando a nossa vez no corredor lotado de mulheres e começamos a conversar com uma senhora e, de repente, ela disse: - Este hospital continua muito bom para as mulheres mas sinto muito a falta do Dr. Pinotti. Você conheceu ele? Os médicos daqui são muito bons, não posso reclamar, mas o carinho com que o Dr.Pinotti tratava cada uma de nós, você precisava ver, minha filha. Um médico todo importante como ele, circulando pelos corredores, falando com a gente, dando uma força. Você deveria ter conhecido ele. Eu sorri. Tinha esse privilégio, mas não ia contar a ela, estragar a sinceridade do seu depoimento espontâneo. Minha mãe perguntou baixinho: - Mas não é o...? E eu mudei de assunto.
Político, deputado federal, foi reitor da Unicamp, Titular de Gineco da USP, criou o atendimento modelo do Pérola Byington. Era secretário da Educação do estado de São Paulo quando me deu a primeira entrevista e falava em PAISM, Plano de Assistência Integral à Saúde da Mulher, que, há 25 anos passados, era apenas uma bandeira de luta das feministas e que ele, a duras penas, foi implantando nos serviços de saúde. Naquele tempo, para a maioria dos médicos, mulher era um útero e um par de ovários. Só isso. E sua saúde só interessava na hora de parir. Naquele tempo a maioria dos médicos ainda se julgava Deus e me lembro muito bem da briga dele para agilizar o atendimento no Pérola Byington, fazendo com que a triagem das pacientes fosse feita compartimentadamente por vários paramédicos, de modo que, quando ela entrasse no consultório, teria já em mãos uma ficha com toda a anamnese e resultados dos primeiros exames. Caíram em cima dele. Com aquela história de “ato médico”, aquele atendimento preliminar não poderia ser feito por comuns mortais, diziam. Hoje... Qual é o médico que dispensa a colaboração de uma boa equipe multidisciplinar?
Ele, como todo grande homem e todo grande líder, estava um grande passo à frente do seu tempo. Por isso eu o admirava. Fiquei triste por ele quando uma de suas filhas morreu num estúpido acidente de trânsito. Admirava a sua disposição de estar sempre aberto aos jornalistas muito mais para prestar informações úteis de saúde do que para se auto promover como político que também era. Se todas as mulheres que ele beneficiou votavam nele, quem precisaria de promoção e comício? Não. Eu não estava preparada para perdê-lo tão cedo. Era fã dele, como tantas mulheres. Esqueci tudo o que eu tinha para fazer quando li aquele e-mail. Nem fechei o computador. Peguei a bolsa e me mandei pra faculdade. Fui dizer adeus de perto. Encontrei o Walter Feldmann, que é outro político médico e disse a ele: perdemos o defensor das mulheres. E ele: - Acabei de dizer a mesma coisa, Isabel.
Cumprimentei os familiares, olhei pro rosto dele pela última vez e voltei pra casa. Desci na estação Consolação, muito antes do que deveria. Acho que queria andar um pouco no turbilhão da Paulista. Alguém me chamou. Era uma produtora de rádio que, ali mesmo, na escadaria, me convidou para ter um quadro num novo programa e falar sobre a saúde da mulher. A vida continua, é claro. Mas, sem ele, menos brilhante. |
De: "Paulo Barboza" <paulobarboza@uol.com.br> PARA: <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quarta-feira, 1 de julho de 2009 21:26
Grande Isabel,
Que bonito! Ele mereceu a sua homenagem! Ele merece todas as homenagens !
beijos e saudade,
PB
From: Fabio Bertolozzi To: isabel@isabelvasconcellos.com.br Sent: Wednesday, July 01, 2009 9:48 PM Subject: Re: Fw: Adeus ao Desfensor das Mulheres
Oi Bel, mais um brilhante texto... ainda hoje de manhã, quando soube da notícia, via rádio, comentei com minha mãe... o Dr. Pinotti, além de seu excelente trabalho, sempre foi uma pessoa muito solícita. Em tempos de Redetv! muitas vezes eu ligava pra ele em cima da hora (tinha até os telefones da casa dele) e, prontamente, nos atendia sempre expondo sua opinião e dando orientação aos telespectadores. Com certeza uma grande perda. Um beijo, Fabio
De: "Vanessa Mastro" <vanessa.mastro@terra.com.br> PARA: "'marisamanso'" <marisamanso@prestonet.com.br> Cc: <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: RES: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quarta-feira, 1 de julho de 2009 21:47
Nossa, que artigo lindo. Adorei. Parabéns! Bjs., Vanessa Mingati Mastro (Assessoria de Imprensa – MTB. 45224/SP)
De: "Tânia" <tmauadie@terra.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quarta-feira, 1 de julho de 2009 23:50
Olá, Bel É isso aí, perdemos um grande homem e um grande médico que muito fez pela saúde da mulher. Hoje eu me sinto realizada com o CRESEX, Centro de Referência e Especialização em Sexologia, do Hospital Pérola Byington, graças ao Dr. Pinotti que acreditava na visão holística da mulher e, porisso, sempre me apoiou. Um beijo, Tânia
De: "lilian malta varella" <lilimv@terra.com.br> PARA: "Isabel Vasconcellos" <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 00:39
querida isabel que linda carta! fiquei muito sensibilizada. hoje, tom meu marido, leu para mim sobre a morte dele e me deu um vazio grande e uma surpresa: nem eu mesma sabia o quanto ele era importante para nós mulheres e ao ouvir a noticia, bateu um grande vazio....e descobri que lá no fundo ia alguem que nos conhecia tão bem! um beijim lilian
De: "Márcia Litério" <marcialiterio@celiomello.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 01:11
Marisa Agradeço sua gentileza de enviar toda semana notícias da Isabel e à Isabel por escrever artigos tão bons e ainda com o bônus da descontração e simpatia que até parecem uma conversa de amigos ao telefone. No site sinto-me por alguns instantes, em São Paulo, na Paulista, onde nasci. Tenho 63 anos, morei no Belenzinho, Ipiranga( por 35 anos), Alto de Pinheiros, Vila Madalena e Alto da Lapa. Meu marido e eu, estudamos no Alexandre de Gusmão e delá trouxemos para o presente, queridíssimas, amizades! Fui professora no GEVisconde de Itaúna. Em 1995 mudamos para Curitiba, onde desenvolvi uma sólida carreira profissional em artes plásticas . Agora moramos em Campo Largo na RMC, mas o coração.....bate forte cada vez que olho pela "Janela da Paulista". Abração para as duas Márcia Litério
De: "mara diegoli" <dra.diegoli@uol.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 19:39
Isabel Parabéns pelo belo depoimento Realmente, ele atendeu durante toda a sua gestão no Perola, no HC e na Unicamp um número infinito de mulheres Continue a lutar por elas, como você sempre fez beijos Dra Mara Diegoli |
De: <ma.majmaluf@uol.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Res: Fw: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 01:59
QUE LINDO, ISABEL! ME EMOCIONEI! PARABENS! BJS
De: "Dr.Artur Dzik" <adzik@terra.com.br> PARA: <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: Fw: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 10:59
Prezada e querida Isabel, seu texto sobre o Prof Pinotti é muito verdadeiro. Eu convivi com ele na USP, no Pérola Byington e um pouco sua clinica privada no ultimos 20 anos e posso tb te afirmar que ele foi das pessoas mais brilhantes e inteligentes que conheci nos meus 45 anos de vida.Estive ontem á tarde no cemitério para minha ultima despedida e pude constatar que só ele poderia reunir num mesmo espaço a alta elite politica , economica e científica deste pais com pessoas muito humildes que gostavam muito dele.Ele realmente foi um lider em todos os postos que ocupou. Assim como vc sentirei muito pela sua partida tão prematura. Abs Artur
De: "Shirlei Figueredo" <sfigueredo@band.com.br> PARA: "Isabel Vasconcellos" <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: RES: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 11:08
Belíssimo artigo!!!! Fiquei emocionada......
De: "VoteBrasil - BR" <votebrasil@votebrasil.com.br> PARA: "Isabel Vasconcellos" <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: Parabéns! Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 11:36
Olá Isabel
Queria só que soubesse que recebemos alguns e-mail elogiando suas colunas em especial a última publicada...muito BOA mesmo. Parabéns!! você é ótima!!! É muito bom ter a sua presnça aqui, só tenho a agradecer pela sua brilhante colaboração. Bjos
André Barretto
De: "Maria Claudimira Gonçalves de Araújo Rodrigues" <claudimiratm@hotmail.com> PARA: <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: RE: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 14:43
Oi Isabel,
Incrivel! quando vi a reportagem sobre a morte dele, a primeira pessoa que pensei foi em você, apesar de não saber do vínculo. Comentei com meu marido: "A Isabel deve estar sentida com a morte dele, certamente é alguém que ela já entrevistou." Muita força! Que bom que a vida lhe proporcionou este momentos de encanto e sabedoria com ele. Muitos não tiveram esta chance... Forte abraço. Claudimira (Três Marias-MG) De: "João Carlos Mantese" <mantesejc@uol.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Re: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 19:47
Isabel, que linda homenagem vc prestou ao nosso querido professor.Muito obrigado.Mantese
De: "Rogério" <rogerio727@yahoo.com.br> PARA: "marisamanso" <marisamanso@prestonet.com.br> Assunto: Re: Fw: Adeus ao Desfensor das Mulheres Data: quinta-feira, 2 de julho de 2009 20:14
Olhe para o céu numa noite qualquer, e verás, ali, as almas das boas pessoas que se foram; portanto ele ainda brilha e ainda brilhará por muitas eras; as pessoas boas não morrem, transformam-se em estrelas. E as estrelas, mais do que nos convidarem a sonhar, nos ensinam a ter esperança na grande noite do Tempo. Porque o Tempo não é propriamente a vida, é só um dos muitos caminhos neste intrincado e misterioso labirinto que é existir. O melhor está sempre no porvir. (apesar de eu ser irrevente e brincalhão, 'as vezes falo sério, como agora).
Rogério
From: adrianamazzoni To: isabel@isabelvasconcellos.com.br Sent: Friday, July 03, 2009 5:28 PM Subject: Re: Fw: Adeus ao Desfensor das Mulheres Oi querida,
Tb fiquei triste...Dou aulas sobre qualidade de vida para mulheres mastectomizadas há 8 anos num espaço cedido por ele que abraçou esta causa.... Bem, querida que saudades....e que máximo que vc está magra, linda e muito bem...estamos felizes demais por vc!!!! Um gde bjo
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From: j.a.pinotti@uol.com.br To: Isabel Vasconcellos Sent: Tuesday, July 07, 2009 4:35 PM Subject: Re: Traição, Vinicius de Moraes, Adeus, Bruxas e mui to +
ISABEL, HOJE FOI A MISSA DO PROF. PINOTTI. A DRA. MARIANNE ABRIU A FALA DELA DE HOMENAGEM AO PAI COM O QUE VOCÊ ESCREVEU E CITOU QUE FOI UM E-MAIL RECEBIDO DE VOCÊ, FOI MUITO LEGAL. VOU PASSAR PARA ELA SOBRE O PROGRAMA, PROVAVELMENTE ELA IRÁ.
BEIJOS NEUZA
Comunicados Oficiais: De: "Luiz Roberto Serrano" <serrano@serranoassociados.com.br> PARA: <Undisclosed-Recipient:;> Assunto: FMUSP comunica falecimento Dr. Pinotti Data: quarta-feira, 1 de julho de 2009 10:45
Nota à Imprensa
Faculdade de Medicina da USP comunica o falecimento do professor emérito Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti
A diretoria da Faculdade de Medicina da USP comunica com pesar o falecimento do professor emérito Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, ocorrido hoje, aos 74 anos, de câncer do pulmão. O velório terá início às 11 horas, no Teatro da FMUSP, situado na av. Doutor Arnaldo, 455, em Cerqueira César, na Capital paulista. O enterro está marcado para às 17 horas, no cemitério da Consolação. Ex-professor titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, José Aristodemo Pinotti era secretário especial da Mulher da Prefeitura de São Paulo. Estava no terceiro mandato de deputado federal, ao qual teve de se licenciar para assumir o cargo de secretário na Prefeitura. Pinotti foi reitor da Unicamp e secretário de Estado da Educação.
A diretoria da FMUSP
Informações p/ a imprensa Assessoria de Imprensa da FMUSP Tel.: 3078-2356 / 9125-8925 E-mail: cacilda.luna@serranoassociados.com.br
De: "AGENCIA SAUDE" <AGENCIA.SAUDE@saude.gov.br> PARA: <undisclosed-recipients:> Assunto: 01/07/2009 - AGÊNCIA SAÚDE - NOTA DE PESAR - Falecimento do Dr.José Pinotti Data: quarta-feira, 1 de julho de 2009 16:44
01/07/2009 - NOTA DE PESAR
Falecimento do Dr.José Pinotti
É com muito pesar que recebo a notícia do falecimento do Dr. José Pinotti. E é com carinho e solidariedade que me dirijo a sua família neste difícil momento. Para todos nós, ficam a admiração e a saudade do homem que dedicou praticamente toda a vida à luta pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
Ele sempre esteve engajado nos mais modernos projetos relacionados à saúde pública. Idealizou e implantou programas de prevenção e atendimento à população, sobretudo aos mais carentes. Médico ginecologista e obstetra, o professor Pinotti era referência obrigatória nas discussões sobre os destinos da saúde em nosso país, sobretudo em relação às mulheres, das quais defendeu o direito de decidir sobre os mais diversos temas ligados à sua vida sexual e reprodutiva.
Homem público da maior envergadura, participou dos projetos de construção de diversos hospitais, entre eles o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), situado em Campinas e que é considerado referência no continente pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O Brasil pode se orgulhar de ter tido um filho como o Dr. Pinotti. E nós, brasileiros, de ter convivido a aprendido com um irmão como ele. Através de seu legado, o Dr. Pinotti continuará a nos inspirar na direção do que pautou toda sua trajetória médica e de homem público: a dignidade do ser humano e o atendimento adequado às suas necessidades de bem-estar.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE
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Clique AQUI para assistir um programa meu, Condição de Mulher exibido pela TV Gazeta e outras emissoras do Brasil em fevereiro de 1987. O entrevistado é o Dr. Pinotti, na época, Secretário Estadual da Educação. O tema? Planejamento Familiar! |
(Os Ídolos Vão Primeiro)Dr. José Ângelo Gaiarsa 19/08/1920 – 16/10/2010 |
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Quanto mais a gente envelhece, mais vai perdendo os ídolos. É, porque geralmente aquelas pessoas que nos serviram de modelo, de inspiração, costumam ser mais velhas que nós e, pela ordem natural da vida, se vão primeiro pro lado de lá.
É outro médico ídolo que se vai.
Diferentemente do Prof. Pinotti – que era polêmico porque era político e enxergava adiante do seu tempo mas também era academicamente respeitado e foi até Professor Titular de Ginecologia da USP – o meu mestre que se vai agora chegou a ter o seu direito de exercer a Medicina contestado por alguns de seus colegas. José Ângelo Gaiarsa, assim como Pinotti, estava sim à frente do seu tempo, mas as bandeiras dele eram ainda mais polêmicas do que as do seu colega gineco: Gaiarsa ia fundo na grande repressão sexual que a humanidade vivenciou e ainda vivencia. Gaiarsa e eu no programa Condição de Mulher, na TV Gazeta, 1986 |
Veja Vídeo da entrevista que fiz com Gaiarsa e Kalil sobre CIÚME - 10 minutos
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Nascido nos revolucionários anos 1920, Zeca Gaiarsa enxergava longe. Publicou mais de 40 livros. Denunciou a fofoca como manifestação da insatisfação coletiva. Trouxe o também revolucionário Reich para o Brasil. Na década de 1960 – junto com outro psiquiatra também revolucionário mas menos bombástico, Paulo Gaudêncio – ajudou a colocar lenha na fogueira da juventude contestadora. Foram 50 anos de clínica, mais de uma década com seu próprio programa na TV Bandeirantes (1983-1993) e sempre participando da mídia, como entrevistado ou como quadro de programas femininos, inclusive do meu Condição de Mulher, na década de 1990, na Rede Mulher de TV (1994-1999).
Lembro-me de , um dia, depois de um programa, ele ter olhado pros livros que eu conservava sobre a bancada, no cenário, e dito: - Isabel, eu já te dei tantos livros na vida, você bem que podia me dar esse aqui. Era "O Mito do Amor Materno", da Elizabeth Badinter. E lá se foi o Gaiarsa com o Badinter debaixo do braço. Pensei: um pensador maravilhoso carregando outro pensador maravilhoso. Lembro-me dele admirando, aqui em casa, as minhas estantes de livros. Estava rolando uma festa, toda animada, e ele olhava pros livros...
Gaiarsa nasceu em Santo André e entrou em primeiro lugar na Faculdade de Medicina da USP. Fez todo o curso como o primeiro da classe. Não era, como muitos queriam julgar, um aventureiro. Era um gênio. Ele se casou com uma colega de turma, da Universidade, que também era uma exceção em sua época, era cirurgiã e se chamava Maria Luiza Martins. Com ela, teve quatro filhos homens: Flávio, Marcos (morto em acidente de carro), Paulo e Dácio. Foi na Revista Realidade o seu primeiro artigo: “ A Juventude Diante do Sexo”, uma ousadia para os anos 1960. Tenho gravações dos meus programas de TV com ele desde 1985.Em todos, alguma revelação surpreendente. Ele dizia que, se as mulheres se unissem, seriam uma força política imbatível. Não sei porque, mas são essas mentes abertas (e por isso mesmo sofredoras) que acabam fazendo com que a vida sobre a terra evolua também socialmente, não apenas tecnologicamente.
Se existe de fato Deus, Ele foi receber o Gaiarsa na porta do céu. |
("mas as cores estão por dentro")
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Clique para ver um vídeo com vários momentos em que o Thiago participou das nossas vidas
foto por Cecília Saint Pierre
De: "claudionor" <oliveira.claudionor@yahoo.com.br> PARA: "'Isabel Vasconcellos'" <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: RES: Saído do forno Data: terça-feira, 28 de julho de 2009 09:05
Isa Acabo de ler antes descer para uma reunião de trabalho para a seleção e contratação do novo funcionário que irá ocupar a vaga do Tiago. Ficou excelente! Parabéns! É motivo de orgulho ter você no convívio do nosso condomínio. Vou parar por aqui porque a emoção está chegando e os três candidatos estão me esperando. A vida tem que seguir seu curso natural. Grato pela honra de ser o primeiro a ler Beijos. Claudionor (síndico do Condomínio Paulicéia São Carlos do Pinhal)
De: "Daniela Warlet Caldeira de Sousa" <danibiacaldeira@yahoo.com.br> PARA: <isabel@isabelvasconcellos.com.br> Assunto: Eu sei mas não falei, logo falhei... Data: sexta-feira, 31 de julho de 2009 22:16
Querida Isabel, Linda a sua homenagem ao querido e sorridente funcionário S. Thiago. No dia 21 também presenciei, infelizmente, as circunstâncias que envolveram o silenciar deste sorriso. Fiquei muito triste! Principalmente quando me lembrei que passei por ele no sábado à noite, ele sorriu pra mim (como era de se esperar), retribuí o sorriso, disse-lhe boa noite, acenamos as mãos um para outro e segui para o meu destino - a cama! Logo que S. Thiago caiu, pensei: perdi a oportunidade de apresentar-lhe a maneira de sorrir para a nossa própria alma! Aquilo (ou melhor, Aquele) que nos enche, verdadeiramente de paz - Jesus Cristo! Ás vezes, um sorriso não traduz alegria e isso torna as coisas ainda mais difíceis de serem percebidas e solucionadas, pois retribuímos sorrisos, em contrapartida, choro dificilmente se retribui, pelo menos não na guarita de uma portaria e, se eu tivesse percebido o choro de sua alma... Eu tenho Jesus! E não percebi, falhei... Jesus não teria falhado! Não pense que sou uma fanática religiosa, porque não sou. Só tenho em meu coração o verdadeiro e VIVO motivo que nos tira da depressão, que nos enche de esperança e nos transforma por completo... Quando li seu texto, vacilei novamente, mas não posso mais privar as pessoas de ouvirem sobre este maravilhoso tesouro... Conheça Jesus... Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida... "Venham todos que estão cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei..." Estou à disposição... Com amor, Dani Caldeira * Parabéns pelo livro! Eu tenho!
[22:09, 21/06/2021] +55 11 96296-2221 Paula, Pauliceia: Parabéns Isabel por nos trazer essa merecida homenagem ao Sr. Thiago, através de filmagens e fotos. Me emocionou muito! Até hoje recordo e sinto falta. Pessoas raras assim fazem falta Alma boa, prestativo, sempre sorrindo com um sorriso tão brilhante que ajudava o dia a brilhar!! Fazia tudo com alegria e eu me alegrava ao vê-lo! Que ele esteja em bom lugar, com Luz, flores e sorrisos como os tantos que ele distribuiu. Obrigada Isabel.
Lili Drosophyla :Bom dia a todos. Isabel q linda lembrança e obrigada por nos relembrar do nosso querido Tiago
Elza: Nosso querido Thiago. Que saudades!!!!
Carmelo: Que esteja em nossas orações. Obrigado Isabel!
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A coisa que mais me impressionou quando nós nos mudamos para este prédio, há quase 25 anos, não foi nem a beleza do apartamento, nem o fato de vir morar em plena Avenida Paulista. O que mais me impressionou foi o humor do Thiago. Impossível ignorar o bom humor daquele porteiro, negro, feio e pobre, que lavava alegremente as janelas dos apartamentos, pendurado no parapeito, do lado de fora, e se recusando a usar cordas de proteção, como se tivesse certeza de que a vida o protegia, acima de tudo. Em todos os pequenos acidentes domésticos, nestas duas décadas, foi ao Thiago que eu recorri. Estourou a mangueira da máquina de lavar? O elevador parou entre dois andares? Caiu o pau da cortina? Deu curto circuito na caixa de fusíveis? Chama o Thiago. Thiaaagooo!!!A gente chama, ele vem. Sempre com um sorriso enfeitando a cara, sempre achando tudo muito engraçado e resolvendo tudo, tudo. A empregada está deprimida? O Thiago leva ela para comer feijoada no sábado, ali no boteco da Joaquim Eugênio de Lima.
E foi assim sempre. O Thiago já trabalhou em todos os horários, em todas as portarias, de dia e de noite, sozinho, na garagem. Está sempre rindo, sempre de bem com a vida, mesmo quando o colocam trabalhando de madrugada, longe dos papos das empregadas (ele é o rei das empregadas do prédio!) e na escuridão da garagem. Quando eu trabalhava na Rede Mulher de TV, às vezes o encontrava de manhã, quando estava saindo para a TV e ele terminando seu turno, e o levava de carona até o ponto de ônibus que ficava na frente da emissora. E lá ia ele, pra periferia, muito além de Santo Amaro, todo lépido, todo alegre.
Quando eu estava aprendendo a ser dona de casa, às vezes o trabalho doméstico me exasperava. Nunca vou me esquecer de uma manhã em que eu dera um duro danado pra conseguir ajeitar os lençóis nos varais quando a mangueira da máquina estourou e um chafariz invadiu a área de serviço molhando tudo, inclusive eu e os benditos lençóis. Comecei a chorar. Fechei o registro da água e chamei o Thiago pelo interfone. Quando ele entrou e viu aquela cena deplorável – eu, em prantos, olhando os lençóis encharcados que já, pelo peso, arqueavam os varais, no meio de um verdadeiro lago de água e sabão – não teve dúvida: Soltou uma daquelas deliciosas gargalhadas e, de repente, eu estava rindo com ele. Num piscar de olhos remendou a mangueira, botou os lençóis pra centrifugar e enxugou a área. Tudo enquanto eu fazia um café pra nós.
Tivemos inúmeras brigas por causa das janelas. Ele vinha lavar as janelas do apartamento, enormes, e ficava de pé no parapeito, do lado de fora, esfregando os vidros com um pano cheio de sabão, o sabão escorrendo pelo parapeito e ele sem nenhuma proteção. Na primeira vez que eu vi isso, fiz um escândalo. Se você cai, morre, mas eu é que vou responder processo por ter permitido que você se arriscasse. Ele ria: Não caio não, dona Bel. Nós o obrigávamos a usar o cinto e a corda de proteção mas bastava virar as costas pra ele tirar tudo.
Quando minha mãe, em 1998, veio morar também aqui no prédio, o apartamento que eu conseguira para ela estivera fechado e sem limpeza por três anos. Era um apartamento lindo, mais bonito do que o meu, mas estava literalmente imundo. A faxineira que eu contratei para limpá-lo, no primeiro dia, às seis da tarde, me interfonou em prantos. Estava desesperada porque passara o dia limpando e não via nenhum resultado. Chamei o Thiago e fui pro apartamento. A moça chorava, explicando que eu não iria acreditar que ela tivesse trabalhado direito. Ela chorava e ele ria. - Pode deixar, dona Bel. Eu venho ajudar ela amanhã e, nuns cinco dias, a gente deixa tudo brilhando... E veio mesmo, trabalhar ainda mais,depois do seu turno no prédio. Em cinco dias... Claro, tudo brilhava, inclusive os brancos dentes do Thiago.
Sempre, há anos, desde que o conheci, eu me perguntava que benção era essa que a vida deu ao Thiago. De onde ele tirava esse inesgotável estoque de sorrisos e de bom humor? Para mim, que descendo de uma estirpe de reclamões, mal humorados, deprimidos e similares, este é um dos maiores mistérios. No entanto, agora que estou ficando velha, é muito fácil identificar as crises de depressão que tentam solapar a minha alegria de viver. Está certo que a minha alegria de viver não chega aos pés da alegria de viver do nosso amigo Thiago. Eu sou muito diferente dele. Qualquer pedra no caminho, para mim, parece o Muro de Berlim da minha vida e me custa grande esforço superar as dificuldades normais do cotidiano. Além dos antidepressivos, uso de todos os artifícios do mundo para me alegrar: penso em tudo o que a vida me deu de bom (bom marido, sem nenhuma depressão; bom trabalho, etc.),me mato de fazer ginástica (que produz endorfinas cerebrais, a droga natural do bom humor), me obrigo a ouvir música e até acendo incensos. Mas resta a questão misteriosa: onde está a diferença entre o Thiago e eu? Está nos gens? Está na história pessoal de vida?
Na manhã do dia 21 de julho a vida me mostrou que o mistério pode ser sempre maior. Estava frio, as janelas estavam fechadas. Ouvi um baque surdo e pensei que alguma coisa caíra no apartamento de cima. Meia hora depois fui à janela da sala para ver se o carro da Band já estava me esperando pra me levar à emissora. Havia um carro da Rede TV na calçada rebaixada em frente ao prédio. Então eu reparei nos três carros da polícia, sobre a calçada, bem na nossa porta. Vi dois policiais entrando. Ué. Nunca acontece nada nesse prédio. Quem entrar aqui pra roubar certamente não conseguirá sair porque as entradas e saídas são tão complicadas que até os moradores se perdem de vez em quando... Liguei lá pra baixo: - César o que foi? - O rapaz que se atirou, dona Isabel. - Outro, César? - Pois é, pra senhora ver. - Mas quem foi? Será que eu conhecia? - Foi o Thiago, dona Isabel. - Que Thiago, o jornalista da bicicleta? Não pode ser!!! - Não, foi o Thiago mesmo, o nosso funcionário. - Não, César – disse eu já em lágrimas – o Thiago jamais se atiraria. Ele deve ter caído, quando limpava as janelas. - Faz anos que ele está proibido de lavar janelas. Eu sabia. E concordava com a proibição.
Naquela manhã, como em quase todas as manhãs, Josias rendeu o Thiago na portaria da garagem. Conversaram um pouco e ele disse que ia dar uma volta, tomar um café, estava esperando alguém. Saiu pela porta da garagem, na rua de trás, deu a volta no quarteirão, entrou pela porta da Paulista, passou pelo Cesar, foi ao elevador de serviço, desceu no 23º andar, subiu o lance de escadas para o terraço da cobertura e se atirou. Thiago trabalhava aqui desde quase a inauguração do prédio. Quatro décadas. Conheceu todos os moradores. Viu as crianças crescerem e se tornarem adultos. Limpou todas as janelas de todos os apartamentos. Namorou a maioria das empregadas. Alegrou a vida de muita gente, inclusive a minha. Nos últimos anos nos cumprimentávamos com uma intimidade de irmãos. Tinha 70 anos de idade. Seu corpo, como não poderia deixar de ser, aterrissou no canteiro, no meio das flores.
Isabel, 27 de julho de 2009
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Suicídio (As Cores Estão Por Dentro) (de"Dona Bel",Isabel,para Thiaguinho, o homem sorriso) Tudo parece cinza Na metrópole nublada. Cinza, a cor do gelo. Cinza, fogueira apagada. Cinza, o desespero. Nuvem na janela Sugere o desatino: Corpo atirado, acabado, Corpo que já foi lindo, E alma virando estrela... Resposta imediata A um silêncio repentino. Qualquer coisa, -- pediu a demência -- Que elimine o cinza imenso Desta insensata ausência. Neste delírio pretenso, -- Grita a alma, sem paciência— Revele-se o avesso, o inverso, Do corpo inerte, suicida, Pois as cores estão por dentro Por dentro acontece a vida. Por fora, o desespero habita. Assim parte, desiste da espera. Desperto, esfera, essência, Buscando enfim uma órbita Em algum colorido Universo.
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