Dom Hugo e Dona Huga telefonaram e convidaram para assistirmos ao
Show de Chorinho. No Palácio das Artes. 3ª feira, 07 de agosto, 19:30 hs.
Ingressos comprados. Pactuado que caso a satisfação não fosse garantida
o elevado valor pago pelo investimento, “cinco real”, ou não seria
reembolsado, ou seria feito em suaves prestações mensais. Como “serviço
plus”, Dom Hugo se ofereceu passar e nos conduzir. Casa teatro, teatro
casa. Serviço gentilmente recusado pelo fato de morarmos perto do local
do evento, possíveis engarrafamentos no percurso Buritis – centro e
horários inconvenientes para o tráfego de veículos.
E lá, nos encontramos. Bem à frente de músicos e pandeiro, flauta,
violão, cavaquinho, bandolim e viola de sete cordas. Televisão presente.
E os primeiros acordes foram fatais para uma longa viagem. Na memória e
no tempo. A uma velocidade incrível. Recordações se fizeram necessárias.
Primeiro, me encontrei dentro da famosa “Rural Willys cinza e branca” da
família. Não sozinho. Lá estavam Seu Osvaldo, pilotando, e Dona Maria,
controlando a filharada e amigos agregados, que não chegavam a um acordo
quanto ao local a ser ocupado – bancos dianteiro e traseiro - janelas ou
centro, mais as 02 cadeiras colocadas no amplo porta malas. Sempre entre
07 e 10 pessoas. Durante os 600 km e diversas horas que separavam Beagá
de Sampa.
Fim de uma música e explicação do que seria tocado na seqüência.
A flauta, nova melodia, novas lembranças.
Casa dos
tios Wanda e Alfredo. Palco de inúmeras reuniões familiares. Casa e
estúdio. Separados e unidos. Corredor longo, cheio de quartos, unindo
amplas sala de estar e copa cozinha. O quarto de costura, facilmente
transformado em quarto, fazia a junção da casa com o estúdio. Estúdio de
filmagem. Local de trabalho e diversão. Tudo permitido. Diversas salas
de trabalho e lazer: de som, de revelação de filmes e fotografias, de
edição e de projeção. Todas com equipamentos modernos. Entre câmeras e
projetores, holofotes de iluminação, aeromodelos, protótipos de lanchas,
fotografias, aparelhos de som, os instrumentos: flautas, saxofones,
violões e cavaquinhos. O piano, imponente, na sala. Família de muitos
artistas. Alfredo tocava todos eles. Por intuição. E a tudo filmava.
Ceia de Natal, nascimentos, batismos, primeira comunhão, aniversários e
casamentos, construção de lanchas e aeromodelos e o que tivesse vontade.
Tudo. Em 8 ou 16 mm. Nada do lado Almeida da família era esquecido. Vó
Amélia com seus bordados. Tia Wanda, Dona Maria e Jeannete, irmãs
pianistas. José o irmão, nas artes ligadas ao além. Osvaldo na
ourivesaria. Sempre havia uma peça a ser oferecida. Otto da Jeannete na
fabricação de televisores e posteriormente prestando serviços de
manutenção.
Os aplausos, lembravam a presença na platéia e, não impediam os
pensamentos no passado. A viagem ia e vinha. A quantidade de primos e
agregados. Éramos numerosos. Cada encontro, cada refeição, exigiam mesas
grandes. E fartas. Leca lá estava com sua saborosa comida. Fiel
agregada. Alfredinho no seu mundo, no infindável ir e vir. Havia tumulto
mas reinava a paz. O único primo que trabalhava, Alvan – o mais velho,
sempre envolvido com emissoras de televisão. Ás dos “videos tapes”.
O apresentador solicitou o recomeço de uma música. Os ouvintes
sabiam desta possibilidade, anunciada no início. Estavam aproveitando
para gravar um programa para a tevê. O “operador da câmera” havia se
levantado. Perdeu o tempo. No novo foco, o transporte. Diretamente do
Palácio ao Castelo. Clube de Campo do Castelo. Represa do
Guarapiranga. Lá estávamos nos preparativos para colocar a Bebel dentro
d’água. Bebel lancha e prima. A expectativa de mais um dia de esqui.
Agora o “câmera man” era Alfredo. Ou Alvan. Piloteiros ou câmeras. Se
alternavam. Os músicos se colocaram em posição para mais uma música.
Lançadas a primeira nota da flauta e a lancha no espelho d’água. Do
alto ou do fundo, tudo assistia. Ora ouvinte, ora protagonista. A tudo
ouvia. Instrumentos e o som da lancha. Bebel navegando. Todos esquiando.
Tios e primos. Ou simplesmente passeando na lancha. Ao sabor das ondas.
Sonoras e aquáticas.
A realidade aportou com a chegada das três choradinhas finais. E
os merecidos aplausos. De pé.
Merecia uma comemoração. Empanadas, vinhos e champagne. A madrugada ia
diminuindo. O concerto viagem terminara, permanecia, mas havia trabalho
no novo dia. Realidade.
Agosto de 2007
OAM
Obs.: O reembolso foi efetuado logo após o espetáculo. Integralmente!
Nota da
editora: O autor mora em Belo Horizonte, MG. |