voltar para a página Memória de Isabel Fomm de Vasconcellos

 

Show de Chorinho  por Osmar de Almeida Marques

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Alfredo, Beth e Bel, na lancha Bebel

 

Osmar (o autor do texto) e seu irmão Ivan, felizes da vida, esquiando em Guarapiranga.

 

A sala de Projeção

O autor viaja no Tempo e contribui para as nossas memórias comuns.        


Dom Hugo e Dona Huga telefonaram e convidaram para assistirmos ao Show de Chorinho. No Palácio das Artes. 3ª feira, 07 de agosto, 19:30 hs. Ingressos comprados. Pactuado que caso a satisfação não fosse garantida o elevado valor pago pelo investimento, “cinco real”, ou não seria reembolsado, ou seria feito em suaves prestações mensais. Como “serviço plus”, Dom Hugo se ofereceu passar e nos conduzir. Casa teatro, teatro casa. Serviço gentilmente recusado pelo fato de morarmos perto do local do evento, possíveis engarrafamentos no percurso Buritis – centro e horários inconvenientes para o tráfego de veículos.

E lá, nos encontramos. Bem à frente de músicos e pandeiro, flauta, violão, cavaquinho, bandolim e viola de sete cordas. Televisão presente. E os primeiros acordes foram fatais para uma longa viagem. Na memória e no tempo. A uma velocidade incrível. Recordações se fizeram necessárias. Primeiro, me encontrei dentro da famosa “Rural Willys cinza e branca” da família. Não sozinho. Lá estavam Seu Osvaldo, pilotando, e Dona Maria, controlando a filharada e amigos agregados, que não chegavam a um acordo quanto ao local a ser ocupado – bancos dianteiro e traseiro - janelas ou centro, mais as 02 cadeiras colocadas no amplo porta malas. Sempre entre 07 e 10 pessoas. Durante os 600 km e diversas horas que separavam Beagá de Sampa.

Fim de uma música e explicação do que seria tocado na seqüência. A flauta, nova melodia, novas lembranças.

Casa dos tios Wanda e Alfredo. Palco de inúmeras reuniões familiares. Casa e estúdio. Separados e unidos. Corredor longo, cheio de quartos, unindo amplas sala de estar e copa cozinha. O quarto de costura, facilmente transformado em quarto, fazia a junção da casa com o estúdio. Estúdio de filmagem. Local de trabalho e diversão. Tudo permitido. Diversas salas de trabalho e lazer: de som, de revelação de filmes e fotografias, de edição e de projeção. Todas com equipamentos modernos. Entre câmeras e projetores, holofotes de iluminação, aeromodelos, protótipos de lanchas, fotografias, aparelhos de som, os instrumentos: flautas, saxofones, violões e cavaquinhos. O piano, imponente, na sala. Família de muitos artistas. Alfredo tocava todos eles. Por intuição. E a tudo filmava. Ceia de Natal, nascimentos, batismos, primeira comunhão, aniversários e casamentos, construção de lanchas e aeromodelos e o que tivesse vontade. Tudo. Em 8 ou 16 mm. Nada do lado Almeida da família era esquecido. Vó Amélia com seus bordados. Tia Wanda, Dona Maria e Jeannete, irmãs pianistas. José o irmão, nas artes ligadas ao além. Osvaldo na ourivesaria. Sempre havia uma peça a ser oferecida. Otto da Jeannete na fabricação de televisores e posteriormente prestando serviços de manutenção.

Os aplausos, lembravam a presença na platéia e, não impediam os pensamentos no passado. A viagem ia e vinha. A quantidade de primos e agregados. Éramos numerosos. Cada encontro, cada refeição, exigiam mesas grandes. E fartas. Leca lá estava com sua saborosa comida. Fiel agregada. Alfredinho no seu mundo, no infindável ir e vir. Havia tumulto mas reinava a paz. O único primo que trabalhava, Alvan – o mais velho, sempre envolvido com emissoras de televisão. Ás dos “videos tapes”.

O apresentador solicitou o recomeço de uma música. Os ouvintes sabiam desta possibilidade, anunciada no início. Estavam aproveitando para gravar um programa para a tevê. O “operador da câmera” havia se levantado. Perdeu o tempo. No novo foco, o transporte. Diretamente do Palácio ao Castelo. Clube de Campo do Castelo. Represa do Guarapiranga. Lá estávamos nos preparativos para colocar a Bebel dentro d’água. Bebel lancha e prima. A expectativa de mais um dia de esqui. Agora o “câmera man” era Alfredo. Ou Alvan. Piloteiros ou câmeras. Se alternavam. Os músicos se colocaram em posição para mais uma música. Lançadas a primeira nota da flauta e a lancha no espelho d’água. Do alto ou do fundo, tudo assistia. Ora ouvinte, ora protagonista. A tudo ouvia. Instrumentos e o som da lancha. Bebel navegando. Todos esquiando. Tios e primos. Ou simplesmente passeando na lancha. Ao sabor das ondas. Sonoras e aquáticas.

A realidade aportou com a chegada das três choradinhas finais. E os merecidos aplausos. De pé.
Merecia uma comemoração. Empanadas, vinhos e champagne. A madrugada ia diminuindo. O concerto viagem terminara, permanecia, mas havia trabalho no novo dia. Realidade.
 

Agosto de 2007
OAM
Obs.: O reembolso foi efetuado logo após o espetáculo. Integralmente!
 

Nota da editora: O autor mora em Belo Horizonte, MG.

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