É noite. Estou dirigindo meu carro, em direção à Zona Sul do Rio de
Janeiro, quando tudo fica escuro. Estava entrando no túnel Rebouças...
Tudo escureceu. A cidade, o túnel, meu carro. Como se tudo tivesse se
apagado. Mas eu continuava lúcida, consciente e dirigindo. Pensei
rapidamente: Tenho que parar, pois posso bater em alguém, ou alguém
em mim.
Diminuí a velocidade.
Tem que ser devagar, pois parando devagar, se houver uma batida, será
menor o dano, pensei. E senti o carro parando. Como se estivesse no
vácuo. Fui parando... Parei.
Escuto apenas minha respiração ofegante. Fico à espera, talvez de um
choque. Coração acelerado.
Sabia que não teria controle sobre quem pudesse estar atrás de mim. Era
assustadora a sensação.
Permanecia o escuro... Angústia e asfixia. Senti medo. Alguns ruídos
distantes. A sensação de impacto iminente.
Depois alguém, que não via, mas ouvia a voz, falava com clareza, e me
dizia:
- É assim que ocorre: as pessoas adoecem e de repente são entubadas.
Ficam mesmo num túnel escuro. Não tem saída ou percepção de qualquer
tipo de luminosidade. Alguns ruídos apenas...E ficam assim por muito
tempo... não sabem o que lhes acontece, muitos dias.
-- Algumas voltam. Outras morrem.
-- É uma tênue, mas prolongada passagem. Difícil para todos nós. Não
sabem o que lhes aconteceu. Estão confusas, perdidas, assustadas,
sentem-se sozinhas, desorientadas. E permanecem perambulando no túnel
escuro. Além da dimensão do tempo material. Como não queriam e nem mesmo
pensaram na possibilidade da própria morte, permanecem paradas esperando
ou andando em busca de uma saída.
-- Precisamos retirá-las deste lugar. E precisamos de muita energia para
iluminar este túnel. São muitos ... Precisamos de vossas preces, de
vossos fluídos energéticos, para acompanhá-las neste túnel. Mentalizem
Luz. Estão muito sem energias. O vírus consome suas reservas, o medo e o
estresse deixam todos sem força. O mundo precisa orar também por seus
passageiros em transição.
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