(Helene Schferbeck 1915, Auto Retrato, Museu Nacional da Finlândia)
Pepo pensou em ir embora, voltar a caminhar pelo mundo como fizera anteriormente, esquecer tudo, como quando saiu da casa de seus pais. Vender o humilde casebre. Entretanto o destino lhe apontaria nova direção.
|
1.Pepo
2.Azul e Vermelho |
Pepo era um homem
descontraído, gostava de conversar com todos que lá chegavam, contando e
ouvindo histórias, transmitia notícias e cativava seus clientes com quem
mantinha relacionamentos festivos e espontâneos.
Pepo nascera na Grécia, país longínquo, terra quente e próspera,
aprendera a arte de comercializar com seu pai, e que desde menino
ensinara-lhe o ofício. Seu pai fora contra sua saída de casa e somente lhe permitira levar poucas moedas de ouro que lhe garantiriam a sobrevivência por alguns meses.
Entretanto, Pepo sabia multiplicar as moedas, seu carisma
pessoal, era um atributo importante e mesmo com as mulheres irradiava
forte energia, o que lhe possibilitava deitar-se com aquelas que
escolhesse.
Após longa peregrinação, uma jovem lhe encantou com seus predicados de
mulher. Havia chegado fazia poucos dias naquelas paragens, terras
geladas da Finlândia, e resolveu permanecer naquele lugar...
Foram tempos difíceis para o jovem Pepo, que procurava seduzir sua
escolhida e proporcionar-lhe tudo aquilo que seu coração galanteador e
generoso gostaria de ofertar para uma mulher. Contudo o inverno rigoroso
dificultava que pudesse sair e efetuar suas atividades como de costume.
Viveram num pequeno casebre, simples e humilde, quando sua amada
comunicou-lhe estar grávida de um filho seu. Pepo, não se conteve de
felicidade, afinal aquele amor seria agora abençoado. Tinha saudades da
vida familiar, seu pai, sua mãe e irmãos todos reunidos.
No passado distante, sua mãe contava-lhe histórias, era mulher
trabalhadeira e respeitada. O relacionamento com Judith fazia com que
revivesse estas lembranças, apesar da preocupação com a sobrevivência,
pois seriam três para alimentar e vestir, sua esperança na vida
renascia...
Entretanto a falta e a aspereza da vida foram tão fortes naqueles
tempos, que poucos meses depois, Judith levou embora sua menina, sem
muita satisfação, como se o amor simplesmente tivesse se esvaído. Seguiu
outro homem, que lhe prometeu uma vida mais fácil. E com eles também
suas esperanças...
A mágoa e o ressentimento invadiram o coração de Pepo, que havia
depositado em Judith seus sonhos, a dor pungente de saber que sua
filhinha de cabelos encaracolados seria criada por outro homem, tornavam
suas noites cheias de tumultuados pesadelos. Pepo pensou em ir embora,
voltar a caminhar pelo mundo como fizera anteriormente, esquecer tudo,
como quando saiu da casa de seus pais. Vender o humilde casebre.
Entretanto o destino lhe apontaria nova direção.
Numa manhã quando a neve caía em abundância e o frio enregelava todos
que não buscassem abrigo, uma jovem senhora teve sua carruagem atolada
numa fenda na neve, muito próxima a sua casa. Pepo aproximou-se
oferecendo ajuda aos serviçais que a acompanhavam, pois percebeu que os
mesmos não tinham destreza e conhecimento necessário para tirar sua
patroa daquela situação. Assim que a carruagem estava pronta para seguir
viagem, a jovem senhora com muita generosidade retirou de uma pequena
sacolinha, algumas moedas de ouro e ainda informou seu endereço para que
em outro momento pudesse retribuir-lhe tão nobre gesto.
Pepo aturdido com a situação agradeceu a generosidade da oferta e
imediatamente lhe informou que necessitava de uma oportunidade de
trabalho. A jovem senhora desconcertada com a inesperada recusa,
prontamente comunicou-lhe que estaria providenciando um trabalho digno
com sua firmeza de caráter.
No mesmo dia, quando o sol já estava se pondo, um homem de idade
avançada, bate à sua porta dizendo ali estar em nome da Srta. Fhaãyna,
dizendo-lhe:
- Minha jovem patroa me pediu para avisá-lo que já providenciou sua
solicitação e que deseja falar-lhe amanhã logo pela manhã.
- Pediu-me ainda que procure arrumar seus objetos pessoais e de sua
família, pois, pretende fornecer-lhe uma moradia que esteja de acordo
com a atividade que irá executar.
Pepo mais uma vez ficou surpreso e disse:
O velho homem saiu de sua casa e Pepo acompanhou com seus olhos o
direcionamento da carruagem, até que esta desapareceu no horizonte. Mal
podia acreditar no que estava acontecendo. Um trabalho digno, com uma
jovem senhora que parecia querer apadrinhá-lo. Como fora oportuno sua
gentileza naquela manhã e como um simples gesto poderia modificar a sua
vida. Pensava em Judith e na sua filhinha. Onde estariam neste momento?
Muito cedo, suas roupas já estavam numa grande sacola e também alguns
objetos de uso pessoal, conversou com sua vizinha que estaria viajando e
que não sabia quando ao certo voltaria, mas que em breve mandaria
notícias.
Encaminhou-se para o endereço que lhe fora fornecido e logo estava na
presença da mulher que o auxiliara no dia anterior.
Fina residência em localidade próspera, já havia entrado em lugares tão
finos, mas há tempos atrás, quando de suas andanças em outras paragens,
mas não ali em Torku, pois até então somente conhecera os escombros
desta cidade, somente as dificuldades desta terra tão fria. - Bom dia senhorita, aqui estou como me pediste. -- Falou Pepo, com aparente tranquilidade.
- Pepo é assim que todos me chamam, e como posso chamá-la?
- Meu nome é Fhaãyna, seja bem-vindo a esta casa.
- Eu falei com meu pai. Sr. Pepo, sobre as ocorrências de ontem pela
manhã e de como lhe sou grata pelo cuidado e por sua honradez, pois não
aceitou as moedas que lhe ofereci, mesmo não sendo um homem rico e que
com certeza tem suas necessidades de sobrevivência.
- E como o senhor manifestou seu desejo de trabalhar, meu pai concordou
em permitir que o senhor trabalhasse em seu mercado, talvez no balcão ou
com entregas de mercadorias.
- Sim senhora, tenho muita experiência no comércio e creio que não vou
decepcionar seu pai.
- Ele já tem certa idade, e o peso dos anos já diminuíram suas forças
para o trabalho, há tempos ele quer encontrar alguém de confiança para
auxiliá-lo na lida, e ficou muito bem impressionado com o que lhe contei
sobre sua conduta.
- Obrigada senhora, pode ficar certa de que farei o possível para
corresponder às expectativas e anseios de seu pai.
Neste momento era inevitável observar os dotes femininos atraentes da
senhorita Fhaãyna, e não podia deixar de perceber que ela olhava-o com
cuidado.
Pepo foi apresentado ao pai de Fhaãyna e rapidamente estabeleceu-se
entre os dois um vínculo de confiança. Sr. Rolphir era um homem severo, de princípios rígidos, muito responsável e dedicado em seu trabalho, mas tinha em seu coração uma preocupação muito grande com sua única filha, que crescera na riqueza e ostentação, apesar da família ser de origem humilde.
Pepo passou a morar numa pequena casa, nos fundos do mercado. Desde que foi residir lá, tinha a responsabilidade de abrir e fechar o mercado, o que era uma segurança a mais para o Sr. Rolphir, visto que toda a clientela sabia de sua permanência no mercado evitando assim, a possibilidade de saques e roubos, que anteriormente aconteciam com frequência durante a madrugada.
Certa noite, após a lida intensa de um dia muito movimentado, pois
vários navios atracaram no porto, vendendo e comprando mercadorias, Sr. Rolphir chamou Pepo para tomar um gole de rum e aquecer um pouco o corpo
cansado.
- Pepo, há muito queria lhe contar de minha preocupação com minha filha,
ela é uma moça atraente, recebeu a melhor orientação que um pai pode dar
a uma filha. Estudou música, sabe falar vários idiomas e tem muito gosto
pelas artes, mas parece guardar um ressentimento ou dor muito grande em
seu peito.
Pepo ouvia com muito interesse o que seu patrão lhe contava, até porque
aquela mulher com olhar penetrante sempre o perturbara, e com certeza
lhe era muito grato por tudo que estava vivenciando. Além do digno
salário, que lhe possibilitava guardar algumas moedas, percebia o
reconhecimento de todos no mercado, inclusive do Sr. Rolphir.
Aquele momento em que conversavam sobre questões pessoais pela primeira
vez, realmente lhe comovia muito.
Pepo permanecia atônito com tamanha revelação, e ouvia tudo atentamente.
- Assim meu amigo, não sei bem ao certo o que esta terrível situação
influenciou em minha filha, mas o que percebo é que ela apresenta
comportamentos muito diferentes das demais moças. Praticamente não se interessa em namorar e encontrar um companheiro.
Tenho me preocupado muito com isso, pois não tenho herdeiros, e agora
que ela está com 19 anos, creio que já seria oportuno seu casamento.- Por outro lado ela é sempre muito voluptuosa, desde criança tinha que
lhe fazer todas as vontades, comprar-lhe tudo o que desejava e nada a
satisfazia, mesmo seu comportamento com as empregadas que lhe servem
desde menina, é muito contraditório, ora deita-se no colo destas
mulheres e pede chamego e carinho, e em outros momentos humilha-as
veementemente com muito rancor, como que se desejasse se vingar de todas
elas...Comigo mostra-se ressentida, sinto-me muitas vezes como se fosse um
cofre que guarda sua fortuna e herança, e não seu pai. Em alguns momentos chego a sentir que deseja a minha morte para reinar
sozinha.Entretanto, não cabe a uma mulher desempenhar a administração de um
grande mercado como este, e desde que minha filha conheceu o senhor e
solicitou-me que o empregasse que me senti aliviado, com relação às
responsabilidades deste pequeno império construído durante uma vida
inteira de intenso labor. Tenho que lhe ser sincero neste momento, e dizer-lhe que venho
acalentando dentro de mim, o sonho de quem sabe um dia, o senhor vir a
desposá-la.Tenho observado que ela demonstra grande admiração por sua pessoa, e
sempre ouve atenta, quando falo de seu nome. Quem sabe os céus,
permitiram que sua carruagem quebrasse em frente ao seu casebre,
justamente para proporcionar-me este alento e descanso na velhice que se
aproxima.
Pepo agora estava aturdido com o que ouvia, afinal já era muito grato
aos céus por estar ali, mas pensar em casar-se com aquela mulher
belíssima e por anseio do próprio pai e quem sabe com o desejo dela
mesma, isto realmente era muito além de suas expectativas.
Foi com dificuldade que articulou algumas palavras:
Rapidamente Pepo respondeu:
-
Quis eu mesma acompanhar meu pai até aqui hoje, é certo que depois da
longa conversa que mantivemos, adormeci até a poucos minutos atrás, mas
fiz questão de pessoalmente lhe dizer que considerei muito oportunas as
considerações de meu pai, e na verdade elas atendem aos meus interesses.
Não conseguiu dizer mais nada, até porque Fhaãyna virou-se rapidamente e
se encaminhou para a porta...
- Não se preocupe, creio que poderão morar em minha casa, talvez reforme um dos quartos para melhor poder abrigá-los em sua privacidade, e quanto aos preparativos para a festa, Sra. Josrieth saberá cuidar de tudo com a orientação de minha filha. Fhaãyna adora festas!
No dia seguinte preparou-se para o jantar, contando com o apoio do futuro sogro, que o dispensou mais cedo da lida para que pudesse comprar roupas que pudessem traduzir sua aparência, para a cerimônia de noivado. Foi levado com a carruagem da família, até a casa de um homem que confeccionava roupas finas. Nunca estivera num lugar assim e sentiu neste momento que a transformação seria muito maior do que imaginara, lembrou-se do Sr. Rolphir lhe dizendo que sua futura esposa gostava de festas e assim passaria a comprar muitas roupas naquele lugar. Srta. Fhaãyna vestia-se sempre com trajes finos e elegantes.
Marcaram o casamento para pouco mais de um mês, a partir daquele dia,
tempo suficiente de acordo com a Srta. Fhaãyna, para se organizar a
festa e providenciar as modificações naturais em seus aposentos.
A noiva deixou claro também para o futuro cônjuge, que gostaria que
fossem arrumados dois quartos com comunicação entre si, visto que
gostaria de manter certa privacidade em seus aposentos mesmo depois de
casada.
Pepo não conseguiu entender este pedido, mas teve certa sensação de
desconforto, como se a futura esposa lhe sentisse como um intruso ou
mesmo invasor. Contudo não entendeu muito bem, visto que como ela
falara, era de seu interesse, celebrar as núpcias o mais rapidamente
possível. O tempo passou muito rápido naqueles dias, envolvido com o trabalho no mercado, quando se deu conta, já estava na ante véspera de suas núpcias com Fhaãyna e os preparativos estavam seguindo com muita intensidade. Nestes tempos, seu futuro sogro, Sr. Rolphir, quase não aparecia no
mercado, o que por sua vez aumentava suas responsabilidades,
sobrando-lhe pouco tempo para pensar em tudo o que estava acontecendo e
o que estava por acontecer em sua vida.
Na manhã do grande dia, o mercado não abriu as portas por determinação
do Sr. Rolphir que convidou pessoalmente todos os homens que trabalhavam
lá para comparecer na cerimônia.
Pepo sentia-se muito entusiasmado e era grande sua expectativa...
Procurava não pensar, mas imaginava como seria a noite de núpcias com
Fhaãyna, como seria aquela mulher em sua intimidade e como seriam os
primeiros contatos com sua esposa, visto que até então não tinham tido
nenhuma aproximação.
Estivera depois do noivado para jantar na residência do Sr. Rolphir, por
duas vezes, mas em nenhum momento esteve a sós com sua noiva, sempre
rodeada de empregadas ou mesmo com a presença do pai. Realmente Fhaãyna sabia como organizar uma festa. A cerimônia esteve magnífica, muitas flores e ornamentos no suntuoso salão, ricamente decorado, pratarias e porcelana inglesa. O menu com certeza de grande categoria, assados diversos, salmão, trutas, diferentes vinhos e muitas frutas vermelhas, tudo com muito requinte.
- Tratamos de um desejo de meu pai e de meus interesses, visto que
realmente não poderia carregar sacas de batata nas costas, quando o
velho morrer... Pepo ficava aturdido mais uma vez com a jovem esposa que lhe falava coisas que jamais pensara ouvir de uma mulher. Dizia da morte do pai com tamanha frieza, e agora ele não podia deixar de se lembrar da fala do Sr. Rolphir, de que sentia que a filha desejava sua morte.
Uma forte gargalhada ecoou no quarto, Fhaãyna, mostrava-se cruel, como
alertara seu pai, tal qual fazia com seus serviçais, parecia feliz em
humilhá-lo!
- Pensei que começaríamos a nos conhecer a partir desta noite, pensei
que a senhorita conseguisse me ver como homem, da mesma forma que posso
vê-la como uma encantadora mulher.
- Engano seu Pepo, talvez um dia possa compartilhar de meu leito com o
senhor até porque meu pai espera de mim um herdeiro para gerenciar
nossos negócios, mas para tal espero conhece-lo melhor daqui para
frente.
Pepo saiu do quarto sem nem ao mesmo olhar para Fhaãyna. Pensou em
descer as escadas e procurar o velho amigo Sr. Rolphir e lhe contar tudo
e dizer-lhe de seu desejo pela anulação do casamento. Entretanto
imaginou qual desgosto daria para o ancião que justamente há poucos
minutos quando subiam para o quarto, lhe apertara a mão e lhe dissera
que este sem dúvida era o dia mais feliz de sua vida.
Mais uma vez Fhaãyna retirou-lhe o sono, mas infelizmente desta vez as
perspectivas não lhe eram favoráveis como nas anteriores, intuía que
dali para frente beberia de um cálice amargo junto de sua jovem esposa.
Foi até os aposentos de Fhaãyna e ela não estava lá. Arrumou-se e desceu
às escadas e encontrou o velho Sr. Rolphir que parabenizava-o pelas
núpcias.
- Muito bem meu jovem, faz muito tempo que minha filha não amanhece tão
feliz e radiante. Ela saiu para passear, cantarolando e pediu os
serviçais que preparassem um reforçado desjejum para o querido esposo.
Pepo não podia acreditar no que ouvia. Quis dizer-lhe que isso era uma
grande fraude de sua filha, um grande engano, mas não conseguiu dizer.
Agradeceu a homenagem e disse que sua filha se mostrava uma esposa
maravilhosa.
Começaram a conversar sobre o mercado e quando Fhaãyna chegou do
passeio, aproximou-se do marido e lhe deu um afetuoso beijo na testa.
Nas noites que se seguiram, Pepo tentava chegar ao quarto de sua esposa,
mas sempre encontrava a porta do quarto fechada, trancada,
impossibilitando sua entrada.
Retornou para o trabalho e os dias e semanas foram se passando, sem
muitas vezes trocar sequer uma palavra com sua esposa. Somente em
presença do pai, é que ela lhe dirigia a palavra demonstrando muita
felicidade e ternura.
Entretanto certa noite foi acordado com alguns sons no aposento de sua
esposa que lhe pareciam que ela estava a vomitar. Bateu na porta:
- Fhaãyna, abra a porta, está precisando de ajuda?
- E depois de um longo tempo percebeu que a porta foi destrancada.
Confirmava as idéias do pai de que aquela situação em sua infância
marcara profundamente sua personalidade.
- Obrigado Pepo, demonstrou ser digno de se deitar comigo e ser o pai de
meu filho.
Na verdade Pepo se sentiu feliz com aquela fala, pois desejava muito se
deitar com esta mulher. Entretanto mais uma vez sua fala humilhava-o,
não havia feito tudo àquilo com este interesse, que ela mais uma vez lhe
apontava. Fazia-o sentir-se vendido.
Mas alguns dias depois, numa noite em que estiveram proseando após o
jantar com o Sr. Rolphir, Fhaãyna pediu ao marido enquanto subiam as
escadas que viesse ao seu aposento logo a seguir. Pepo foi até seus
aposentos, arrumou-se e logo a seguir dirigiu-se ao quarto de sua esposa
que estava com a porta sem trancas.
- Pois não, Fhaãyna, aqui estou.
De maneira insinuante se aproximou do marido e pediu que soltasse os
seus cabelos.
Pepo puxou-a pelo braço e de maneira viril arrancou-lhe a roupa,
encontrando certa oposição em seus movimentos, mas não lhe deu atenção,
nada falou, e como se já se deitasse com ela há muito tempo, tocou seu
corpo com segurança e desenvoltura impossibilitando-a de qualquer
reação.
- Esta cadela vai me pagar por tudo o que me fez sentir nestes meses.
Fez de mim um animalzinho, como se pudesse me dominar e subjugar, agora,
ao menos nesta noite saberá tudo o que um homem faz com uma mulher, e
não digo com sua mulher, mas com todas aquelas com as quais ele se
deleita durante a vida. As mais sujas, as mais imundas, aquelas que os
homens usam apenas uma vez e depois pagam pelo serviço.
Fhaãyna tentou gritar e fugir, assim que percebeu a fúria de Pepo, mas
percebeu que nada poderia fazer naquele momento.
Sabia que talvez nunca mais se deitasse com Fhaãyna, mas estava ciente
de que agora nem ele mesmo iria desejá-la mais, pois havia esgotado toda
a sua volúpia de uma só vez e dali para frente seria ele a representar
um papel.
Na manhã seguinte Fhaãyna não saiu de seus aposentos, mas Pepo foi
trabalhar logo cedo e elogiou sua esposa para todos, inclusive para o
velho amigo Sr. Rolphir, dizendo que se sentia o homem mais feliz do
mundo por ter se casado com sua filha.
Algumas semanas depois Fhaãyna em jantar familiar, comunicou aos
presentes que esperava um filho. Pepo sorriu e se direcionou até sua
esposa dando-lhe um beijo na testa, parabenizando-a, sabia que ela iria
se recordar do beijo da manhã após a noite de núpcias.
Sr. Rolphir brindou o acontecimento e demonstrava grande felicidade
Entretanto o destino foi diferente do que pretendia Fhaãyna...
Anne fazia Pepo lembrar-se de Hasnna, sua pequena e muitas vezes em suas
noites de solidão lembrava-se de Judith, que apesar da miséria e das
dificuldades que haviam passado, havia sido uma verdadeira mulher,
enquanto estiveram juntos.
Com o nascimento da pequena Anne, Fhaãyna inicialmente apresentou crises
de profunda tristeza, não querendo nem mesmo amamentar a menina
dizendo-se traída. Olhava para Pepo com rancor e para a filha com ódio,
como se sentisse que fora amaldiçoada pelos céus, pois precisava de um
filho varão para poder romper definitivamente com Pepo.
Seu pai percebia-lhe a indiferença com a neta e suas crises de irritação
tornaram-se cada vez mais frequentes. Percebia que algo acontecia entre
o jovem casal até que numa noite pediu para conversar com o genro.
Sr. Rolphir ficou perplexo com tal solicitação, mas disse que não
poderia negar-lhe tal rogativa, mas pedia que respeitasse sua filha,
jamais permitindo que soubesse de suas andanças nestes lugares. Pepo
concordou prontamente.
A menina Anne crescia na verdade sob os cuidados dos serviçais e com o
aconchego do avô, mas sua mãe distante e fria muitas vezes a humilhava
com palavras duras, impunha-lhe castigo cruel e repetia sempre que ela
era fruto do pecado.
Pepo absorvido com o trabalho nem mesmo percebia o crescimento da filha.
Uma jovem linda de cabelos dourados e olhos muito verdes... Menina
alegre e divertida, muito inteligente, mas diferente de sua mãe, Anne
era muito doce e meiga com todos que a rodeavam.
Pepo, nos momentos de folga frequentava a casa de Edith, uma mulher da
vida, que o recebia muito bem e que sempre procurava propiciar-lhe bons
momentos, visto que pagava regiamente e sabia ser galanteador com todas
as moças.
Os anos se passaram e certa noite encontrou a porta do quarto de sua
esposa novamente aberta, desta vez por descuido de sua parte, e mais uma
vez subjugou-a na cama, contudo agora entre gritos e gemidos, que todos
puderam presenciar na casa.
Mais uma vez e Fhaãyna ficou grávida, mas agora com uma tristeza
interminável em seu semblante, apresentava frequentes acessos de raiva e
dizia que caso não fosse um menino, mataria a infeliz logo ao nascer.
Carollinne nasceu. Sr. Rolphir evitou a tragédia da morte da neta,
levando-a embora dali para ser criada por uma parenta sua que não pudera
ter filhos, mas que desejava muito um bebê.
Natelie era moça simples, mas muito direita, apegou-se logo a pobre
menina, rejeitada pela mãe e que demonstrava grande fragilidade,
adoecendo constantemente. Pepo ia visitar a menina algumas vezes, mas
sentia forte emoção cada vez que via seu frágil corpo se desenvolver.
Percebia que na verdade aquela criatura não tinha os cuidados
necessários e culpava-se, pois tinha consciência que ele de alguma
forma, era o responsável por tão triste situação. Agradecia Natalie, por
sua dedicação pela menina, mas questionava se ela conseguiria sentir-lhe
como se fosse realmente sua mãe. Inquietava-se também com sua saúde que
notoriamente muitas vezes inspirava cuidado...
Em dezembro de 1277, Sr. Rolphir veio a morrer com fulminante ataque de
coração. Pepo chorou muito a morte do querido sogro, que lhe fora tal
qual um substituto de seu pai.
Fhaãyna não derramou nenhuma só lágrima durante todo o sepultamento. Mas
seus desequilíbrios aumentaram após sua morte, e a convivência
tornava-se cada vez mais difícil.
Pepo somente não saía de casa pelo compromisso assumido com o velho
Rolphir e por sua filha Anne, que nesta época já demonstrava também
apresentar fortes crises de dores de cabeça, permanecendo por longos
períodos, trancada em seu quarto. Preocupando-o sobremaneira.
Todos os homens, assíduos frequentadores da estalagem gostavam de
prosear com Verônica, muitos deles faziam propostas tentadoras para que
ela se deitasse com eles, entretanto ela sempre lhes dizia que o brilho
das estrelas nos escapa das mãos e somente podemos conter a luz, quando
formos Luz, e somente tocamos numa rosa, quando nosso toque de Luz não
despetalá-la.
Entretanto numa noite de luar, quando as estrelas luziam na negritude do
céu de Torku, Pepo que há algum tempo não aparecia na estalagem,
resolveu conversar com Verônica.
Desde a noite em que ele a socorrera e tinha levado-a em seus braços até
o quarto que fora preparado para o seu "batismo", não se aproximara
dela, apesar do contato de olhar que Verônica lhe lançara diversas
vezes.
Pepo sentia-se muito atraído, mas não entendia porque aquela moça
causava-lhe certo respeito, diferente das demais. Chegou a pensar que gostaria de tê-la possuído pela primeira vez, naquela noite, e como ouvira os boatos com relação ao Lord Huen, ficava particularmente intrigado. Algumas vezes quando subia para o aposento acompanhado de outras moças da estalagem, lembrava-se de subir aquelas mesmas escadas, com Verônica desmaiada em seus braços, e imaginava como seria se um dia subisse com ela em seus braços, mas desta vez, estando consciente.
Recordava-se que naquela noite,
quando saiu do quarto e deixou-a com Lord Huen, ficou preocupado com o
que poderia lhe acontecer, pois viu em seu olhar o medo, talvez até
mesmo o pânico de ser possuída sem desejo.
Pepo lembrava-se de Judith, de seus momentos de paixão e arrebatamento,
quando uma mulher deseja um homem e entrega-se com prazer. Também
comparava com Fhaãyna, com os momentos em que a possuiu contra a sua
vontade, quando rasgou suas vestes e violou-a com ódio. Como pode ver o
medo em seus olhos! Mas Verônica lhe inspirava contrariamente um
sentimento diferente, um desejo de despertar seu desejo de mulher, de
fazê-la sentir-se protegida ao seu lado. Por
isso resolveu conversar com ela naquela noite. Havia saído de casa
depois de nova explosão de Fhaãyna. Sua esposa havia batido muito em
Anne, e agora que Sr. Rolphir não estava mais em casa para protegê-la,
os serviçais não conseguiam evitar que durante suas crises, ela
maltratasse a menina.
Quando chegava em casa encontrava sua filhinha em estado deprimente,
chorando muito. Chegava a pensar que devesse sair de casa, levar a filha
para outro lugar. Entretanto, indagava-se, como poderia abandonar o
mercado? O patrimônio que lhe fora confiado pelo sogro?
Talvez a fragilidade de sua filha Anne, é que tenha feito com que ele se
aproximasse de Verônica, que apesar de demonstrar para todos, equilíbrio
e segurança, Pepo conseguia intuir sua necessidade de carinho e
aconchego. Na verdade, ele já havia aprendido muito sobre a alma
feminina. Há
tempos Verônica esperava esta oportunidade. Aqueles olhos haviam marcado
seu coração, nenhum outro homem, de tantos que frequentavam a estalagem
possibilitavam este mergulho. Recordava-se de suas palavras:
Como poderia dizer-lhe que precisava que alguém a retirasse dali naquele
momento! Mas
somente o fato de ter olhado para ela e sido solícito, humanizou-a no
momento exato em que se sentia sem vida. E
agora Pepo se aproximava e perguntava. -
Sim, e como me esqueceria?
Retrucou rápida e espontaneamente Verônica. -
Claro, o senhor quer que eu veja o seu futuro? -
Quero sim.
Verônica apesar de sentir-se constrangida falou: - E
irei viver com esta mulher, Senhorita?
Curioso questionava-lhe algo que gostaria muito de saber, pois era certo
que vinha sofrendo muito por causa das coisas do coração, e não se
imaginava tendo uma terceira oportunidade de ser feliz com relação a sua
vida amorosa. Na
verdade frequentava a Estalagem, como forma de embriagar seu peito, mas
sem a ilusão do amor. Aliás, em muitos momentos questionava-se sobre o
amor, este sentimento que não tinha tido a possibilidade de viver da
forma que desejava, quando era mais jovem! E Verônica retira-o de seus
pensamentos falando: -
Seus caminhos apontam para o mar, fique atento e cuide-se, pois ainda
viverás muitos dias de grande turbulência. -
Quer dizer que ainda vou sofrer? -
Sim, estou dizendo, que o futuro espera muitas transformações em sua
vida, e algumas difíceis. -
Mas, me diga uma coisa senhorita Verônica? -
Pois não senhor. -
Naquele dia em que nos conhecemos ficou tudo bem com a senhorita? - O
senhor está me perguntando sobre meu batismo? Não acha muito prematuro
de sua parte me fazer uma questão de tamanha intimidade? -
Sim é claro. Falou Pepo com elegância. -
Mas desculpe-me se lhe perguntei sobre isso, mas de verdade, naquele dia
fiquei muito preocupado quando saí de seu quarto. -
Preocupado Sr. Pepo? Como assim? -
Não sei lhe explicar, mas senti que me pedia ajuda. E nada fiz.
Simplesmente saí do quarto, como se a senhorita fosse como as outras
desta casa. - E
não me considera igual às demais? -
Não, senhorita Verônica. -
És muito bela e parece-me que muito verdadeira também tenho lhe
observado desde aquela noite. -
Obrigada Sr. Pepo, mas as demais moças desta casa, também são muito
bonitas. -
Sim, eu sei, mas sinto certa fragilidade em seu olhar. E me envolvo
nele. -
Senhor Pepo, não sei se a Sra. Edith chegou a lhe dizer que não me deito
com os homens que frequentam este lugar. -
Falou-me sim, mas desculpe-me, irei te confidenciar algo, se a senhorita
me permitir à liberdade. -
Pois não, diga. -
Desde que a carreguei desmaiada até os aposentos, que fico fantasiando.
Penso em carregá-la novamente. - E
espera que eu desmaie de novo, Sr. Pepo? -
Não, é claro que não senhorita, eu lhe peço desculpas. Digo isso porque
penso em levá-la para lá, com consciência, desejosa sabendo o que quer
deste homem.
Pepo não podia imaginar o quanto suas palavras marcavam-na neste
momento. E visualizou a cena em sua mente.
Verônica percebia-se atraída por aquele homem. Mas não sabia explicar o
motivo, mas sentia-o como se fosse um amigo. Ele era diferente, olhava-a
e parecia compreender sua dor e fragilidade. Havia uma cumplicidade em
seus olhos, que jamais percebera em nenhum dos homens que frequentava a
estalagem. Mas derrepente um dos clientes chamou Verônica, e esta teve
que interromper a conversa que lhe era tão agradável naquele momento. Sr.
Rewhu sempre lhe assediava, era homem casado, inteligente e
comunicativo, outras moças que já haviam se deitado com ele diziam que
ele era surpreendente na cama, mas absolutamente explosivo, chegando até
mesmo a ser grosseiro em alguns momentos. Entretanto era um homem
galanteador.
Verônica percebia seu interesse e permitia-lhe a insinuação, sem,
contudo ultrapassar certos limites sabia que seria somente mais uma
mulher a se deitar com ele, apesar de suas generosas ofertas e suas
falas cheias de sedução. Assim seu interesse em aceitar seus convites
diminuía a cada contato, principalmente agora que começava a conversar
com Sr. Pepo.
Pepo continuava observando Verônica, e mesmo a certa distância procurava
entender a conversa que mantinha com Sr. Rewhu, e não podia deixar de
perceber seu próprio desejo em poder continuar a conversa que iniciara. -
Realmente tive alguns problemas familiares nestes últimos dias e não
pude vir até aqui como de costume. -
Seria inconveniência de minha parte perguntar-lhe o que houve com o
senhor? -
Não claro que não Verônica, aliás, se vim até aqui, é porque queria
conversar com você. Não sei se terei que pagar para ter esta conversa,
pois sei que nesta casa costuma-se pagar tudo, mas sei que seus serviços
já estão incluídos nos demais.
Verônica sentiu-se constrangida com o comentário e falou: -
Sim, desculpe-me não quis de forma nenhuma ofendê-la, mas há dias que
venho pensando, como podíamos conversar, sem que os clientes venham nos
perturbar e sei que aqui é o seu trabalho. Sei que não poderás negar
suas consultas aos que quiserem ouvir suas orientações. -
Sim senhor, agora lhe compreendo. Será que me permitiria conversar com
Edith a este respeito? -
Como assim Sr. Pepo? -
Se eu poderia conversar com a senhora em alguma sala desta casa, sem
sermos incomodados, mesmo que para isso tenha que lhe pagar o valor
correspondente ao seu pagamento do dia? -
Senhor Pepo sabes que não me deito com os homens desta casa, nem mesmo
com o senhor! -
Sim Verônica, desculpe-me mais uma vez se não fui claro, mas gostaria de
conversar apenas. Não estou pensando em me dirigir para o andar
superior, ou melhor, até já lhe falei de minhas fantasias a este
respeito, mas no momento gostaria de conversar sobre as questões que
estou vivendo com minha família. -
Eu sou quem lhe peço desculpas então, Sr. Pepo, se interpretei mal sua
fala. -
Então a senhora consente que eu converse com Edith? -
Sim, é claro.
Pepo sentiu-se internamente realizado, não entendia muito bem, mas
aquela mulher lhe inspirava confiança e imediatamente se afastou
tocando-lhe a mão e dizendo: -
Verônica me aguarde por alguns minutos.
Verônica sentiu um forte arrepio ao sentir o toque de suas mãos, e
estava comovida com o que acabara de ouvir. Gostaria de ser livre
naquele momento e simplesmente dizer-lhe para irem conversar, na sala ao
lado do salão, mas sabia que a conduta de Pepo era a mais correta, pois
não poderia prejudicar Edith e seus clientes.
Pepo aproximou-se de Edith que estava conversando animadamente com Lord
Huen. A aproximação de Pepo causou certo desconforto no ambiente, mas
rapidamente Pepo disse: -
Edith preciso lhe falar, por alguns instantes, é muito importante, caso
contrário não lhe incomodaria. -
Pois não. Falou Edith imediatamente -
Gostaria de saber qual é o maior preço que pagam nesta casa para se
deitar com as moças? - O
maior preço é o do batismo no quarto principal, mas porque me pergunta
isso, se não temos nenhuma moça nova na casa? -
Certo, pois vou pagar este preço para poder conversar em alguma das
salas desta casa com a Srta. Verônica, mas com a condição de não ser
importunado por nenhum outro cliente. -
Mas Sr. Pepo sabes que Verônica não se deita com os homens da casa. -
Sim Edith eu sei, e não estou pagando para ela se deitar comigo, mas
apenas para conversar comigo durante o tempo de minha permanência nesta
casa hoje. -
Sim Sr. Pepo, mas os serviços de Verônica já estão inclusos, visto que
depois com certeza irá se deitar com uma das moças. -
Não senhora. Não pretendo, não nesta noite.
Edith estava perplexa com o que acabava de ouvir, sabia que Verônica se
destacava das demais, e sabia que isto poderia em algum momento lhe
causar problemas, mas jamais imaginara tal solicitação, vinda
principalmente do Sr. Pepo, que era tão considerado por todas as
raparigas da estalagem. Entretanto Edith sabia que não poderia negar
esta proposta, mesmo que trouxesse algum problema posteriormente, seja
com seus clientes, seja com suas moças, que estavam acostumadas com os
presentes do Sr. Pepo e disputavam entre si a possibilidade de deitar-se
com ele, mas enfim seria apenas uma noite! -
Sim senhor Pepo, vou considerar válida a sua proposta, claro, se
Verônica tiver concordado. -
Mas é claro Edith que se estou aqui lhe falando é porque Verônica já
concordou. - Pois bem, então podem ficar na sala ao lado do salão, lá existe um ambiente
confortável, vai querer que sirva alguma coisa? -
Sim, prefiro tomar algo quente, mas nenhuma bebida alcoólica se for
possível. -
Avisarei Malka para servi-los. O
coração de Verônica batia descompassadamente, jamais estivera com um
homem desta forma. Pepo deixava claro seu interesse por ela como mulher,
mas neste momento queria conversar. Saber sua opinião.
Pensava que esta talvez fosse à forma mais veemente de sedução e
assédio, entretanto, sentia-se comovida e interessada em saber de sua
história. Como ele lhe falara em poucos minutos, percebia que Pepo se
aproximava. E
quando chegou bem perto pegou em sua mão e lhe disse: -
Claro, o senhor conversou com Edith? -
Sim, já está tudo acertado. Com
certeza a curiosidade de Verônica era grande com relação à proposta que
teria feito a Edith, contudo considerou mais correto não lhe questionar,
para não haver novo constrangimento. Caminharam pelo salão de mãos dadas
e Verônica pode perceber os olhares dos demais clientes em sua direção,
principalmente Lord Huen e Rewhu, mas rapidamente entraram na sala
finamente decorada com tapetes em cor verde escuro, e cortinas na cor
bege. Esta era a sala em que Edith costumava conversar com clientes ou
tratar de algum assunto importante e confidencial. Verônica não se
lembrava de que alguma moça tivesse entrado naquele ambiente acompanhada
de um cliente... -
Sente-se apontou Pepo para uma confortável cadeira... -
Pois não senhor, e reparou que ele também se sentou.
Pepo começou a conversa contando-lhe toda a história que viveu com
Judith e sua pequena Hasnna e logo a seguir contou-lhe como conheceu sua
esposa Fhaãyna. Verônica ouviu com muito interesse e ficou muito
impressionada quando Pepo lhe contou sobre seu casamento e as núpcias
com sua noiva. A
noite foi passando e em determinado momento Malka bateu na porta
dizendo:
Pepo assustado pediu desculpas, pois não havia percebido o transcorrer
do tempo.
Verônica um tanto aturdida agradeceu a conversa e disse-lhe: -
Sr. Pepo foi muito gratificante para mim esta nossa conversa e estarei
aqui a sua disposição sempre que quiser conversar.
Malka olhou constrangida para ambos e percebeu que uma energia diferente
pairava naquele ambiente, e disse: -
Desculpem-me mais uma vez, mas eu não quis incomodar. -
Não Srta. Malka, já está quase amanhecendo e preciso chegar em casa
antes que Fhaãyna perceba que não pernoitei em nossa residência.
Verônica observou Pepo saindo em sua carruagem, agora não mais chovia e
a perspectiva era de um amanhecer claro, mas muito frio.
Muitas noites se seguiram e agora Pepo frequentava quase todas as noites
a estalagem, mas sempre com o objetivo de conversar com Verônica, que
agora já o esperava com ansiedade. A
maioria das moças da estalagem não aceitava a situação, visto que Pepo
sempre se deitara com elas. Carena e Katrin passaram a competir com
Verônica, evitando sua companhia. Pepo sempre foi muito galanteador,
gostava de dançar, de conversar e sempre que se deitava com alguma moça
lhe dava algum mimo. Um pequeno presente além do preço acertado com
Edith. Assim, todas sempre disputavam por seus galanteios. E agora se
sentiam, traídas e reclamavam com Edith sobre os privilégios de
Verônica. Mas
Verônica procurava explicar que na verdade o relacionamento que se
estabelecera entre ela e Pepo era de grande amizade e confiança, e que
por ele ser muito solitário e viver muitos problemas com sua esposa, ele
necessitava mais conversar do que se deitar com elas naquele momento.
Contudo Verônica nutria uma admiração cada vez maior e começava a
compartilhar da fantasia de ser conduzida nos braços de Pepo até os
aposentos superiores.
Certa tarde Edith se aproximou para conversar. -
Talvez, respondeu Verônica timidamente.
Edith sentia nos olhos de Verônica mais uma vez o medo de estar com um
homem, mas percebia que ela desejava deitar-se com Pepo. -
Pepo conversou algo com a senhora a este respeito? -
Sim, ele me perguntou o mesmo que me perguntas. -
Creio que terão que dizer um ao outro. -
Sim, tenho pensado Edith, que se ele voltar a me falar de seus desejos e
fantasias a meu respeito, irei lhe dizer que também nutro os mesmos
desejos. -
Sim, menina, mas não te esqueças de uma coisa. Pepo apenas irá deitar-se
contigo, como sempre fez com as demais moças desta casa. Pepo é casado,
tem família e mesmo que não tivesse não seria homem para ti, ou para
qualquer mulher desta casa. -
Eu sei Edith, sei bem o que significa estar aqui. Hoje sei. Percebo até
mesmo nos olhares das mulheres, quando saio daqui para fazer compras,
todos pensam que somos diferentes!
Naquela noite, Verônica esperou ansiosa por Pepo, mas ele não veio, mas
na noite seguinte logo que a noite caiu, Pepo bateu na porta. Malka
imediatamente chamou por Verônica, mas Pepo curiosamente mandou que
chamasse Edith. -
Edith, hoje vim mais cedo, pois pretendo conversar com Verônica, mas
depois, se for possível, pretendo me deitar com uma das moças.É claro
que preferiria estar com ela mesma, contudo não quero ultrapassar os
limites que ela me colocou, quando conversamos pela primeira vez.
Entretanto, sou homem e assim sendo quero que seja discreta, mas oriente
uma das meninas a me encontrar lá em cima, logo mais. -
Creio que não será necessário Sr. Pepo. -
Como assim Edith? -
Estive conversando com Verônica esta semana e ela me confidenciou seu
desejo de deitar-se com o senhor, imagino que se conversares com ela
sobre esta questão, vocês poderão subir juntos estas escadas, ainda
hoje. -
Não terá que me pagar nada pela noite. Será com grande satisfação que
lhe entregarei Verônica. -
Pois bem, fico muito grato com esta informação, e manifestação de estima
de sua parte, com certeza logo mais falarei com ela.
Pepo percebia-se ansioso com a chegada de Verônica, e sentia uma
satisfação jamais sentida antes naquela casa. Não se lembrava nem ao
menos o que queria conversar com ela. Somente conseguia agora pensar em
seu desejo de tocar seu corpo, de beijar sua boca, de possui-la.
Verônica desceu a escada também ansiosa, mas não imaginava o que se
seguiria. -
Boa noite Verônica. -
Boa noite Sr. Pepo, não pode vir ontem até aqui? Algum problema em sua
casa? -
Sim, mas o de costume, Fhaãyna teve mais uma de suas crises nervosas e
bateu muito em Anne. - Não sei mais o que fazer, às vezes penso que ela ainda irá matar a minha filha e que terei que fazer algo, antes que isso aconteça. Entretanto, hoje vim mais cedo por outro motivo.
-
Sim, há muito temos conversado e posso garantir-lhe a senhora que nossas
conversar tem sido muito importante para mim. Não tinha alguém para
contar meus problemas e dividir minhas dificuldades, e a senhora tem
sido muito atenciosa comigo. -
Mas para mim Sr. Pepo tem sido muito interessante nossas conversas,
nunca antes tive a oportunidade de conversar tão abertamente com alguém. -
Sim, mas hoje queria lhe falar como homem.
Verônica percebeu o rubor subir em suas faces imediatamente, mas
controlou-se e disse: -
Pois não, diga-me o que está pensando. -
Estou pensando Verônica, que como homem tenho outros desejos e
necessidades naturais de um homem, e como sabes meu casamento, não se
constituiu como uma união carnal, mas apenas como uma troca de
interesses. -
Já há algum tempo venho frequentando esta casa, onde sempre fui muito
bem recebido e me deitei com muitas moças aqui. -
Sim, e o senhor quer se deitar com uma delas? -
Eu sei que há tempos não se deita com ninguém ficamos aqui até altas
horas... -
Não Verônica, eu queria dizer-lhe que gostaria muito de deitar-me com
você, que tem se mostrado uma mulher companheira e amiga...
Verônica sentiu o chão sumir, frente ao que ouvia, mas respirou fundo e
disse: -
Sr. Pepo, não posso negar que estas conversas têm sido muito
proveitosas, mas tenho que confessar que venho acalentando o sonho de
ser conduzida pelo senhor até os aposentos superiores para deitar-me
contigo. -
Mas porque não me sugeriu nada antes? -
Até o momento somente o senhor falou de si, mas se puderes gostaria hoje
de falar um pouco de mim, e quem sabe ao final da noite possamos juntos
realizar este desejo que também me inflama o coração. -
Mas é claro, terei o maior prazer em ouvi-la. -
Quando vim para esta casa, não sabia que se tratava de uma casa de
prazeres, havia chegado a poucos dias em Torku, e tinha me abrigado em
um pequeno casebre que estava fechado há muito tempo nos arredondes da
cidade. Provavelmente pela descrição que o senhor fez do lugar em que
morou com Judith, trate-se do mesmo local, fechado e abandonado.
Entretanto os vizinhos me pediram para desocupar a casa e foi assim que
numa noite muito fria me aproximei desta estalagem e fui surpreendida
por Lord Huen, creio que o senhor sabe do restante da história. -
Sim senhorita, Edith me contou, mas não sabia que não tinha conhecimento
quando entrou aqui que se tratava de uma casa de prostituição. -
Sim, na verdade vim, a saber, no dia seguinte, e tenho contado com a
compreensão e o carinho de Edith. -
Mas posso lhe perguntar uma coisa? -
Sim é claro. -
Mas, o que ocorreu naquela noite com Lord Huen? -
Na verdade jamais havia me deitado com um homem e estava muito
assustada, por isso senti-me mal no salão, quando o senhor me carregou
gentilmente até o quarto. -
Lord Huen sempre me olhou com muita volúpia e dava risadas que me
incomodavam muito, naquela noite quando aquela porta se fechou, eu
procurei ficar impassível, estática, não movimentei sequer um músculo de
meu corpo. - E
o canalha lhe possuiu a força? -
Na verdade eu não fiz nenhum tipo de resistência, creio que meu corpo
dizia o que acontecia. -
Vou-lhe pedir total discrição Sr. Pepo, porque jamais contei isto para
ninguém, nem mesmo para Edith. -
Sim senhora sou claro, também eu lhe contei minhas intimidades e conto
com seu maior sigilo. -
Na verdade é muito doloroso e constrangedor dizer, mas creio que para
mim mesma talvez seja importante compartilhar o ocorrido. - Estou certo que sim, senhorita, abra seu coração. Continue, estou ouvindo-a, com atenção.
-
Ele não a tocou? - Ele ficou por muito tempo somente me olhando, seu membro estava ereto e ele
masturbou-se diante de mim. -
Mas Edith me falou que você foi violada, Que havia sangue nos lençóis! -
Sim Sr. Pepo, ele introduziu alguns objetos em mim, mas não me possuiu
como homem. O senhor entende? - Sim, maldito! Fazer isso com uma mulher. Eu sou quem vou dar uma gargalhada na cara daquele nojento.
-
Sim, senhorita Verônica, perdoe-me o ímpeto. - É
humilhante demais para mim, que alguém mais saiba desta história. -
Entendo, mas fico perplexo com sua compreensão dos fatos, afinal, fostes
a maior prejudicada. -
Sim, é verdade, e por isso que estou lhe contando tudo isto, pois apesar
de meu desejo de estar com o senhor, não posso negar minha ansiedade e
talvez até mesmo o meu medo. -
Claro senhorita, com certeza este momento é muito especial para mim, sua
confiança. -
Intuía que pudesse ter evitado aquilo tudo que aconteceu naquela noite,
mas agora vejo que talvez seja da minha responsabilidade reparar esta
situação e ensinar-lhe que o sexo entre um homem e uma mulher pode ser
maravilhoso, quando existe desejo. -
Imagino que sim, aliás, Yoddeff, o grande amigo que lhe contei que me
acompanhou das terras de meus pais até estas paragens, me falava do amor
e das paixões. E agora eu vou lhe perguntar Verônica. Gostaria de subir
em meus braços ou pretende subir por si mesma?
Verônica sorriu timidamente e falou: -
Posso pedir-lhe duas coisas, Verônica? -
Pode senhor. -
Não me chames de senhor, apenas de Pepo e caso algo lhe desagrade ou lhe
assuste, me fale. -
Obrigada Pepo sinto que terei uma experiência muito diferente da
primeira, até porque tenho muita vontade de ser tocada por ti.
Pepo aproximou-se de Verônica e beijou-a delicadamente, mas na medida em
que sentiu em seus lábios a força do desejo, imediatamente beijou-a com
volúpia. O
aposento do casal, Pepo mandara decorar em tonalidades de cor verde e
vermelho, lustrando a natureza que emergia sem pudores, mas cheias de
cores. E amores! |