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Uffizi, Quadro representando a Divina Comédia.

 

"Imagine there's no countries.

It's easy if you try."

(John Lennon, Imagine)

 

Foto de barco com imigrantes no Mediterrâneo.

 

Dante Di
Por Stela Maris Grespan

 


Hoje, 26 de março, é o Dantedi, ou Dia de Dante, com varias celebrações em Florença e outros locais da Itália. Em seu exílio perpétuo, escreveu sua Divina Comédia. Chamada comédia em razão de acabar bem, enquanto na tragédia, tudo acaba mal. Do inferno ao purgatório e deste ao Paraíso, um caminho das trevas para a luz. Como ele diz  "quem sabe da dor, sabe de tudo."
 

Por maior o sofrimento do exílio, jamais admitiu um retorno a Florença que fosse coberto por desonra e humilhação. Solidez moral e autoconsciência de valor.
 

Recordo que, graças às guerras, ocupações estrangeiras, ditaduras, morte lenta de povos pela fome, violência racial, estigmatização de grupos, jamais foi visto tamanho fluxo migratório como o que se vê desde o final do século passado. Milhões em busca de um lugar de sobrevivência, lançam-se do inferno ao paraiso.

 

Milhares ao encontro da morte nas águas do Mediterrâneo, do Egeu, das fronteiras turcas, na fronteira México/americana, no corredor da morte de Darien na selva panamenha, enfim, em todos os lugares onde não há justiça social nem a mínima preocupação do Estado pelo seu povo.

 

Enquanto vigorarem as ideias territorialistas e de segurança insana, seres humanos e não humanos serão cada vez mais intensamente coagidos à permanência, à imobilidade, ao desaparecimento por serem descartáveis ao sistema.

 

Sigo alimentando em mim a ideia utópica de um transnacionalismo que sei impossível. Sem o poder da imaginação que não pode conhecer fronteiras, e foi duramente atacada nestes últimos 4 anos, fica mais difícil resistir e sobreviver com graça, curiosidade e alegria.
 

Fico aqui, com uma tradução livre das palavras de Dante Aghlieri sobre o exílio que creio será semelhante à experiência de todas as gentes que imigraram forçadas ou mesmo que sob a aparência da espontaneidade e de aventura.


“Tu proverai sì come sa di sale / Lo pane altrui, e come è duro calle / Lo scendere e l’salir per l’altrui scale / E quel che più / Ti graverà le spalle / Sarà la compagnia malvagia e scempia / Con la qual tu cadrai in questa valle”. Na tradução livre “Tu
provarás o gosto de sal do pão dos outros, e como é dura a estrada, o descer e subir em escadas alheias / E o que mais Te pesará nos ombros, Será a companhia malvada e estúpida com a qual tu cairás neste vale”.
 

Obs: O pão em Florença, à época de Dante, não levava sal.