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(David Leira, Rio de Janeiro)

 

O Rio que Passou

por Stela Maris Grespan

 

 

Corria o ano de 71 e eu tinha um namorado, meio que por acaso. Estávamos os dois sozinhos e os amigos emparceirados nos levavam juntos pras noites de fim de semana. Éramos um grupo que se formou ainda na adolescência.

 

Bem, sai hoje, sai amanhã e o grande amigo, de repente, num rosto colado, ao som de um Frank Sinatra, vira amor. Meu lado romântico curtiu demais

(quem sabe um resquício das leituras de Contos de Amor, revistinha cafajeste que embalava os sonhos de uma geração de meninas mal púberes todos os meses nas bancas).

 

 

Coisa linda, como nos filmes, aquele amigo virar amor! Tinha uns olhos azuis, líquidos, indefiníveis, não sei se era de céu ou era de mar, e a música do Paulinho recentemente lançada, tornou-se para mim um hino, não portelense, mas toniquense. Não deu certo o amor. Foi mais um rio que passou em minha vida.
 

Foi numa noite quente de outubro ou novembro, de um ano qualquer dos anos 90, uma sexta-feira, parece. Estávamos hospedados no Hotel Glória que eu amava deveras, tarde na piscina, jam session no Hotel Novo Rumo ali pertinho, um bom jantar no próprio Glória e na saída vimos começarem a chegar homens e mulheres, instrumentos, e foram ocupando uma longa mesa, já devidamente preparada e à espera.


Demos uma volta, olhar a paisagem do terraço ( eu você, nós dois, aqui neste terraço à beira mar…) e no retorno começamos a ouvir o samba. Não deu outra, nos sentamos numa mesa do bar ao lado do restaurante e começamos a ouvir a música.

 

Seu garçom, faça o favor de nos trazer depressa um whisky que a noite vai continuar… quem são, perguntei curiosa e impressionada com a excelência da música, ah, respondeu-me ele, é o pessoal da velha guarda da Portela, vêm sempre aqui se encontrar e tocar. Os pais do Paulino ali estavam. Entre violões, cavaquinhos, pandeiros e belas vozes, a noite rolou linda e para sempre inesquecível!


Memórias de um Rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar…