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(Norman Rockwell, 1942, Freedom of Speech)
Em nenhuma ocasião vimos qualquer transgressão à Constituição, dita cidadã, por parte de nenhum destes perigosos comunistas e seus auxiliares.
Vera Krausz
Stela Maris Grespan |
Nos Desvãos da Memória por Stela Maris Grespan |
Que a história não se repita. Corria o ano de 1989. Ano em que Lula, o deputado federal mais votado em São Paulo, candidatava-se, pela primeira vez, ao cargo de Presidente do Brasil.
Num daqueles intervalos para o café, enquanto trabalhava no antigo INAMPS, ouço de meu colega, ilustre cirurgião cardiovascular e morador do condomínio mais elitizado de São Paulo, nas bandas de Barueri, que seu filho de 9 anos estava muito agitado por conta das eleições presidenciais. Disse que seus amiguinhos lhe haviam dito que, caso Lula fosse o vencedor, ele tomaria todas as suas casas, que teriam que dividir as suas piscinas com os empregados, pois ele (Lula) era um comunista. Contava às gargalhadas e eu o interrompi com a pergunta, para mim óbvia: - Você desmentiu e explicou, não ?
Ele,
surpreso, talvez por minha falta de “humor” respondeu que não, que o
candidato era comunista mesmo! Oi? Creio que no ano da graça de 1989,
53% da população acreditou na baboseira e elegeu Collor de Mello, de
triste lembrança. E seguiram com o mesmo temor nas eleições seguintes,
elegendo o sociólogo cuja obra mandou-nos esquecer. Não esqueço, por
desobediência civil. Lula foi eleito por duas vezes, em 2002 e 2006, e fez sua sucessora, a presidente Dilma, em 2010.
Em nenhuma ocasião vimos qualquer transgressão à Constituição, dita cidadã, por parte de nenhum destes perigosos comunistas e seus auxiliares.
As
propriedades foram mantidas como reza o inciso XXII, artigo 5 da Carta
Magna, mesmo que o Estatuto da Terra tenha sido desrespeitado inúmeras
vezes e o MST tenha criado inúmeras situações de confronto por ocupação
de terras irregulares. Poucas vezes a União tomou estas terras,
indenizou os seus proprietários e as distribuiu entre os sem terra.
Muito pelo contrário, foram os grupos de nossas elites secularmente
ligados à propriedade rural, mas também urbana, que incomodados com o
Bolsa Família,o Minha Casa Minha Vida e outras pequenas
“delinquências “ sociais destes comunistas, os que desrespeitaram
a nossa constituição e aplicaram o golpe de 2016, aquele da pretensa
pedalada fiscal, que tirou Dilma da Presidência. O resto, já estamos
vivenciando e não vou encher mais linhas. Por que estas memórias voltam à minha consciência, em 17 de novembro do inimaginável ano da desgraça de 2020?
Certamente, por imaginar o netinho de meu colega, correndo para o seu colo, agitado, a dizer:
- Vovô, meus amiguinhos disseram que se o Boulos ganhar, ou a Manoela, ou a Marília (ou seja quem for que não seja palatável à nossa classe média e até aos nossos trabalhadores sem classe que não a de escravos assalariados, ou desempregados, ou subempregados, ou PJ) vão tomar o nosso apartamento de três dormitórios e uma suíte, aqui (do Sumaré, Perdizes, Lapa ou no raio que o parta!!) E que vamos ter que dividir o playground com os filhos de nossa empregada!!
O que espero de Boulos e Erundina e de nossos legisladores municipais, não é uma “revolução sampista”, mas que cumpram, da melhor forma possível, a Lei No 10.257 de 10 de julho de 2001 que regulamenta os arts. 182 e 183, o assim chamado Estatuto da Cidade. Que utilizem todas as prerrogativas legais para uma gestão democrática e de intensa participação popular, voltada aos reais interesses da população, especialmente a marginal e exilada nas periferias impolutas de nossas cidades.
Que
alguém me ouça e em me ouvindo entenda, e entendendo procure ler e se
informar. Bom
segundo turno para todos! |