voltar para a página-site da Dra. Stela Maris Grespan

 

(Foto de Stela Maris Grespan)

 

 

21 de abril

por Stela Maris Grespan

 

 

Hoje é dia de duplo feriado na capital brasileira: Tiradentes, o nosso mártir da inconfidência e o 63.  aniversário de sua inauguração.
 

Apaixonada que sou por arquitetura e urbanismo, ao conhecê-la fui tomada pelo assombro de seu projeto, edificações, imensos espaços e a amplitude das avenidas. Perdi o fôlego ao subir na torre e contemplar sua monumentalidade! Já se vão 46 anos desde aquele momento.
 

Saída da mente genial de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer foi planejada detalhadamente. Desde a planta em formato de um avião, a praça dos três poderes para onde tudo convergia ou derivava, setores destinados às embaixadas, laser, cultos, educação, museus e cultura. Em suas asas, os prédios padronizados, sobre pilotis, de escassa verticalidade, materiais de construção sem luxo, concreto aparente, o necessário para uma vivência confortável, com amplos espaços de convivência em seus jardins com suas frutíferas, um ponto comercial para suprir as necessidades de sobrevivência em cada superquadra, tudo inspirado em suas visões de um mundo socialista e ordenado.

 

Funcionou muito bem, enquanto ideia e materialização de projeto.

 

Esqueceram da dinâmica impressa pelo ser humano.

 

Uma cidade que não foi feita para pedestres, onde o deslocamento é difícil, onde o transporte é fundamental.

 

Esqueceram da grande massa de trabalhadores migrantes que a construíram, que em sonho a tomaram como sua e que nela, não encontrando o seu lugar de moradia, rapidamente construiriam sua casas em seu entorno, nas cidades satélites, fora do plano urbano tão bem planejado.

 

Esqueceram que uma grande parcela de funcionários enriqueceriam, que não suportariam viver de forma mais simples em apartamentos que estariam aquém de suas “necessidades” e começariam a construir suas mansões ao longo do Paranoá artificial em sua origem. Lago Sul, Lago norte, Asa Sul, Asa Norte, cada qual com suas particularidades e riqueza.

 

Em poucos anos vieram os condomínios mais distantes e novas “ satélites” foram sendo construídas e o povo miúdo empurrado cada vez mais para a periferia, como em todos os grandes centros urbanos brasileiros e internacionais. Um projeto que não previu esta realidade e que foi sendo paulatinamente desfigurado.


Foi ela a rica expressão, não apenas da arquitetura moderna do país por seus projetistas, como de nossa admirável engenharia que venceu os incontáveis desafios propostos na doma do concreto. Juntou-se a riqueza de uma movelaria que buscou fixar e enriquecer a nossa identidade cultural desde Lafer, Sérgio Rodrigues, Lina Bo Bardi, Joaquim Tenreiro, entre outros, os maravilhosos painéis de azulejos de Athos Bulcão e os projetos paisagísticos de Burle Marx!
Milhões de turistas a visitam anualmente e desfrutam também das belezas de seus poentes, do cerrado hoje em processo planejado de destruição.


Disse Oto Lara Rezende que Brasilia foi o resultado da loucura de 4 personagens , Juscelino Kubitscheck, Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Todos eles imbuídos na construção não só de uma nova capital, como também de um novo Brasil, moderno do ponto de vista político e econômico e de uma democracia sólida como o concreto em que foi concebida e edificada.


Brasilia abrigou 21 anos de ditadura militar, 5 ditadores, atos institucionais, rasuras e rasgões na constituição deste país sonhado que ousava levantar-se de seu berço esplêndido.


Abrigou o sonho da redemocratização, de uma nova Constituição e os anos vindouros de um país que se erguia, combatia a fome, a pobreza extrema, a profunda desigualdade social, o analfabetismo, na ânsia sôfrega de se constituir como nação sem vergonha de seu passado, caminhando em direção ao futuro.


Abrigou golpistas travestidos de incorruptíveis cidadãos.

 

Abriga agora um outro tipo de loucura, de barbarismo, de elegia a tortura e torturadores, de caça aos seus opositores, de devastação das riquezas naturais e da liquidação de seus bens, de extermínio de seu povo, de retorno ao passado nefasto e jamais julgado e penalizado por seus crimes, de estímulo ao preconceito estrutural, da negação dos perigos desta terrível pandemia. Um genocídio em curso.


Um outro dia há de chegar para todos nós com a mesma esperança que JK a sonhou como fé e prova inquestionável da capacidade realizadora dos brasileiros, no triunfo do pioneirismo e da confiança da grandeza do país e que Brasilia, com seus crepúsculos de fogo confundidos às cores da aurora, simbolize a alvorada sempre aberta deste país para um novo amanhã.

 

Comente

 

Que belíssima foto, 

parabéns

 

Stela Maris Grespan

 👏💐

Sandra Martins

Que texto!!!!!👏🏼👏🏼👏🏼 sempre deleitando-nos com sua sensibilidade .

 

Maria Siliprandi

Brasilia não é para os fracos. É só chegar na Rodoviária que se vê o outro mundo, nenhum dos dois faz parte do sonhado "outro mundo possível". A vida do povão, sem regra, igual ao centro de qualquer cidade. No Centro, naquele local onde os ônibus urbanos saem, é o mundo cão.

Sofia Gularte

Incrível a tua descrição de Brasília, 

Ana Maria Marchese

Parabéns

 Stela... Perfeito... Nesse momento, Brasília é uma alegria ou uma tristeza???

 

Stela Maris Grespan

Amigas, neste momento, Brasília é de uma extraordinária Insuficiência. Mas mantenho minha relação de espanto com ela. E estou saudosa de minha família brasiliense.

 

Rosane Giacomelli

 

Stela Maris Grespan

 , Saudades, palavra que mais nos define😢

 

 

Ceíta Jansen

Foto maravilhosa e riqueza de detalhes na tua descrição. Adorei 😘

 

Raquel Durães

Uma beleza de texto e foto!

Stela Maris Grespan

Obrigada pelas palavras de todas as amigas!

Vania Merici

Foto divina e um texto que fiquei emocionada!! Somente verdades!!! 

Parabéns

!! Boa noite querida!!

 

Ivone Silva

Stela, que coisa linda. Foi passando um filme conforme ia lendo, um misto de alegria e esperança com um aperto no coração e insegurança em relação ao presente e futuro.

Sem falar na foto, uma verdadeira obra. Parabéns!!! Abraço

 

Stela Maris Grespan

 

Ivone Silva

 Eu gosto demais de lá! Do verde, dos pássaros, da comida mineiro/ goiana, de ser capital e tão interiorana, enfim... Obrigada pelo comentárioParte inferior do formulário

 

Carlos Alberto Izzo

Que texto , maravilhoso , você sempre brilhando!!

Stela Maris Grespan

 

Carlos Alberto Izzo

 ❤️❤️😘😘😘 Só na saudade!