Peter Paul Rubens, 1639,
As Três Graças
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Belo texto e sabias recomendações.
Stela
Maris Grespan Tema
corajoso e necessário! Parabéns! |
Não é pertinente às boas práticas
em ginecologia usar a consulta ginecológica para questionar a
homossexualidade. |
O atendimento ginecológico a mulheres lésbicas,
bissexuais
e mulheres que fazem sexo com outras
mulheres, tecnicamente e eticamente deve ser o mesmo que para mulheres
em geral, tendo importância a abordagem focada nas práticas sexuais, e
não na orientação sexual.
Explico: Não é pertinente às boas práticas em ginecologia usar a
consulta ginecológica para questionar a homossexualidade. Esta deve ser
tratada pelo ginecologista como mera característica pessoal, como são a
cor dos olhos ou a cor dos cabelos.
Por outro lado, importa muito à ginecologia
conhecer as práticas sexuais da paciente,
tais como o compartilhamento de dildos e vibradores na menstruação e sem
proteção (DST, AIDS), alternância entre parceiros homo e heterossexuais
(gravidez, HPV, etc....), e a existência ou não de sofrimento psíquico
crônico (preconceito e rejeição), que é fator de risco importante para
quadros de ansiedade, depressão psíquica e depressão imunológica (Infeção
Urinária de Repetição, Candidíase de Repetição, etc...).
Existe uma clara tendência entre mulheres
lésbicas de evitarem consultas ginecológicas,
em especial entre as mulheres que não assumem sua homossexualidade com
naturalidade. Tal tendência é consequência, predominantemente, da
somatória entre um grande medo e uma grande ilusão.
O grande medo é o ginecologista seja uma
figura que vá julgar ou condenar
sua homossexualidade, e evitam a consulta. A melhor maneira de trabalhar
com esse medo é encontrar um ginecologista com boa habilidade na relação
médico-paciente, que deixe a mulher totalmente à vontade durante a
consulta, devido a postura médica de acolher afetivamente e sem
julgamentos a paciente que o procura.
As mulheres necessitam de um ginecologista
que estude os fatores de risco
envolvidos nas práticas sexuais da paciente, e não que fique julgando o
fato de que a paciente seja homossexual. A esse medo soma-se ainda o
medo do exame especular vaginal. Algumas mulheres lésbicas consideram o
exame do canal vaginal como um procedimento extremamente invasivo,
perturbador e doloroso. Essa reação também existe em algumas mulheres
heterossexuais com diferentes graus de vaginismo. Para essas duas
categorias de mulheres é importante evitar a introdução do espéculo
vaginal logo na primeira consulta, preferindo-se realiza-lo quando a
relação ginecologista-paciente esteja com vínculo de confiança já
estabelecido. O ginecologista deve lembrar que sempre deve usar primeiro
o espéculo de menor tamanho e deixar para usar os tamanhos maiores
apenas se houver bom motivo para tanto.
A grande ilusão é acreditar que sexo entre
mulheres, sem a presença de uma figura masculina, seja uma prática
sexual sem riscos de transmissão de DSTs e AIDS.
Apesar dessa crença existir não apenas no
imaginário social, mas também no pensamento de muitos ginecologistas,
pesquisas demonstram que de 40% a 60% das mulheres que fazem sexo com
mulheres já tiveram pelo menos uma DST, e já existem vários registros de
casos de AIDS em mulheres que se auto definem como lésbicas. Esta ilusão
favorece uma falsa sensação de que a consulta ginecológica anual não faz
falta para mulheres que fazem sexo com mulheres.
O que está ao alcance dos ginecologistas fazerem para favorecer uma
maior frequência das mulheres lésbicas e bissexuais aos consultórios
ginecológicos é investirem na busca de capacitação técnica para uma
melhor relação ginecologista-paciente, que aumente a empatia com a
paciente, e que principalmente aumente a capacidade dos ginecologistas
para: lidarem com naturalidade em relação às diferentes orientações
sexuais; conhecerem mais sobre a realidade das lésbicas, para evitarem
qualquer atitude de discriminação e preconceito; compreenderem a
necessidade de mudança na postura com relação ao uso do espéculo,
escutando as mulheres quanto à forma mais adequada de examiná-las,
utilizando espéculos de menor calibre; e sendo adequados ao perguntarem
sobre orientação sexual para inclusão do quesito no prontuário único,
sem provocar constrangimentos.
Perante todas as questões que envolvem a temática da sexualidade os
serviços de saúde no Brasil, tanto do SUS quanto do sistema privado de
saúde, refletem o senso comum social que considera a heterossexualidade
como norma (portanto julgada como o “certo”) e a homossexualidade como
desvio da norma (portanto julgada como “o errado”). Tal cultura, que
exclui e discrimina o diferente como sendo “errado”, não pode existir
dentro dos serviços de saúde, cuja missão ético-profissional é garantir
a todos o direito constitucional à saúde.
Assim, é preciso dar início a processos de
mudanças:
1. nas universidades, através de investimento em
pesquisa sobre o desenvolvimento de meios adequados e eficazes de
proteção contra DSTs e HIV/Aids; elaboração de normas e protocolos de
atenção à saúde; e processos de formação para profissionais e gestores
de saúde, de modo a erradicar as situações de discriminação nos serviços
de saúde para mulheres que fazem sexo com mulheres
2. nos órgãos governamentais de gestão do SUS, através de capacitações
dos gestores e profissionais de saúde sobre a realidade das lésbicas, os
casos de discriminação e preconceito nos serviços de saúde, a
necessidade de mudança na postura dos ginecologistas com relação ao uso
do espéculo, recomendando que escutem as mulheres quanto à forma mais
adequada de examiná-las, utilizando os espéculos de menor calibre, e
quanto ao modo adequado de perguntarem sobre orientação sexual para
inclusão do quesito no prontuário único, sem provocar constrangimentos.
Enfim, investir em capacitações técnicas para uma melhor relação
ginecologista-paciente.
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