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Compulsão ou simples desejo

 por Dr. José Carlos Riechelmann

 
 

 

 Di Cavalcanti, Samba

Desejar é uma coisa saudável, um apetite sexual intenso é apenas resultado

da boa saúde

Frequentemente escuto as preocupações de alguns homens que se dizem felizes no casamento, sexualmente realizados com suas companheiras, e que ficam incomodados com o fato de estarem sempre sentindo desejo por outras mulheres, na rua, no trabalho, ou até as que aparecem na TV.

E vem a pergunta: -- Doutor, isso é normal? Ou é um vício?

 

Se o desejo desses homens (ou mulheres) for incontrolável, se leva-los a realmente tentar concretizá-lo, ainda que na contramão da conveniência, estamos diante de um quadro de compulsão sexual.

 

Para que se compreenda bem essa condição, vamos compara-la à compulsão alimentar: a pessoa está de dieta, ou é diabética, e não consegue, de forma alguma, controlar a vontade de comer chocolates. Racionalmente, a pessoa sabe que não pode comer o chocolate porque quer emagrecer e vai se sentir culpada depois, ou sabe que aquele chocolate vai atrapalhar o controle de seu diabetes e isso pode ter consequências para a sua saúde. A pessoa sabe, mas não consegue se controlar e come o chocolate.

Na compulsão sexual é a mesma coisa: o desejo tem que se realizar, mesmo que contra as convenções sociais, mesmo que com desdobramentos desagradáveis ou até colocando em risco a felicidade conjugal.

 

Agora, se, apesar de estar vivendo uma relação estável, a pessoa se flagra constantemente desejando alguém com quem, muitas vezes, ela não tem qualquer afinidade, ou nem mesmo conhece, e isso a leva a pensar que ela não é normal, que tem desejo demais... Bom, está acontecendo aí uma exacerbação da autocrítica.

 

Desejar é uma coisa saudável, um apetite sexual intenso é apenas resultado da boa saúde, de hormônios em ordem, mas a pessoa pode achar errado apenas por causa da nossa cultura, da educação, onde lhe foi ensinado que o desejo por outras pessoas não pode aparecer quando se está vivendo uma relação feliz e amorosa. É preciso encarar esses desejos como uma coisa natural e sadia e não como algo que necessariamente tem que ser realizado.

Há um mito em nossa cultura: a ideia de que o desejo é personalizado. Não é. Desejar, a gente deseja o mundo inteiro... O que é personalizado é o amor.