
Parte da nossa sociedade
(e, infelizmente uma grande parte!) está seriamente doente do ponto de
vista mental. É uma turma que não confia no próprio taco e sim na imagem
de si próprio que o espelho reflete. Sacrificam sua saúde na perseguição
de um ideal de beleza física, de boa forma, de um padrão estabelecido de
fora de cada um de nós.
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Saúde Mental e Social
por Isabel Fomm de
Vasconcellos Caetano
Revista UpPharma agosto 2023 |
Durante mais de 2 mil anos, as mulheres vem sendo socialmente
desvalorizadas. Consideradas pouco racionais e menos capazes, foram, por
décadas, chamadas de “o sexo frágil” e, na Constituição brasileira, até
1989, comparadas “aos silvícolas e às crianças, seres necessitados de
proteção”.
Até hoje, 2023, há quem pense (segundo pesquisa recente da PNUD –
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que é natural que
seus homens as agridam fisicamente. A agressão, porém, é bem mais do que
física, é também moral e sexual.
Existe no entanto —e ainda muito viva no nosso meio – a agressão social.
Essa é composta pelos muitos preconceitos que ainda cercam o sexo
feminino e pelas exigências da maternidade: nem todas as fêmeas, apenas
porque têm úteros e ovários, apresentam a vocação materna, mas a
sociedade praticamente “obriga” todas a serem mães, alardeando o mito do
amor materno (tão bem descrito pela filósofa francês Elizabeth Badinter)
e a ingênua ideia de que uma mulher não se “realiza” se não conceber e,
ainda, a agressão pela exigência do cumprimento de padrões de moda e de
beleza.
Esses padrões fazem muito mal à saúde feminina. Passando pelas vítimas
de supostos “cirurgiões plásticos” que frequentemente, com seus
procedimentos não reconhecidos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica, levam iludidas mulheres a sequelas e até a morte; por
“tratamentos” estéticos de grande agressão à saúde; por medicamentos e
métodos “milagrosos” de perda de peso e, mais recentemente, por
altamente discutíveis (e já condenados pelas sociedades e associações
médicas) “implantes de beleza”.
Esses implantes guardam grande semelhança ao uso de anabolizantes (por
homens e mulheres) na procura do corpo musculoso idolatrado por aqueles
que acreditam que o corpo é mais importante do que a mente... Hormônios,
em última instância, consumidos sem a devida necessidade física, causam
apenas prejuízos metabólicos e podem (geralmente o fazem) gerar sérias
consequências no funcionamento normal do corpo humano.
Essa práticas pouco saudáveis são sintomas da escravidão à opinião
alheia. São sintomas de baixa autoestima, de submissão a padrões sociais
e sensibilidade exacerbada às muitas críticas estúpidas que grassam pela
Internet.
Parte da nossa sociedade (e, infelizmente uma grande parte!) está
seriamente doente do ponto de vista mental. É uma turma que não confia
no próprio taco e sim na imagem de si próprio que o espelho reflete.
Sacrificam sua saúde na perseguição de um ideal de beleza física, de boa
forma, de um padrão estabelecido de fora de cada um de nós.
Vazios de ideais, de cultura, de felicidade, enfim, esses seres estão
indo buscar, nos mitos grandemente divulgados pela mídia e pelas redes
sociais, a sua “realização”.
O ser humano é muito mais que isso. A verdadeira felicidade não está no
mito da boa forma, da perfeição corporal, mas, sim na paz interior e na
saúde mental.
Segmentos discriminados socialmente – mulheres, negros, povos
originários, homoafetivos, e pobres – já saem perdendo no quesito saúde
mental, por sua própria condição de inferiorizados.
Mas é por ela – pela saúde mental – que deveríamos estar lutando e não
pela ilusão de uma suposta felicidade trazida por um “corpo ideal”. Você
pode até conquistar esse corpo, mas, olhando-se no espelho, perceberá
que ele sozinho está muito longe de trazer a sua realização, a sua paz,
o seu destino.
Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano é escritora, youtuber
e apresentadora. isabel@isabelvasconcellos.com.br
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