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Ver Chamada.
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Preconceito e
Saúde Mental Feminina
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Isso, porém, é apenas mais um
preconceito. Mas muitas mulheres , de fato, sentem-se assim,
incompletas, se ficam solteiras, viúvas ou divorciadas. Como se não
fossem capazes de nenhum sentimento de realização na falta de um
parceiro. E muitos homens, certamente a maioria deles, diante de uma mulher “desparelhada”, acreditam que tudo o que essa quer é agarrar o primeiro macho que se disponha a viver com ela. No entanto, uma relação a dois, um casamento (seja ele homo ou heterossexual) construído tendo por alicerce a dependência, (qualquer uma delas, a sexual, a econômica, a afetiva etc.) certamente não será satisfatório. Para construir uma vida a dois é preciso que haja a união de dois inteiros e não de um inteiro mais um incompleto. Enquanto a nossa sociedade acreditar que uma mulher só é completa ao lado de um companheiro não sairemos da visão machista do mundo. Enquanto as próprias mulheres acreditarem nessa ideia equivocada não conquistarão independência alguma, por mais bem sucedidas que possam ser em suas carreiras profissionais, por exemplo. Um ser que se assume como dependente não é inteiramente sadio do ponto de vista da saúde mental. É claro que existem, no Brasil e no mundo, muitas mulheres independentes e realizadas e que estão simplesmente sozinhas; algumas não sentem necessidade de sexo, outras descobriram o prazer do sexo solitário. E dão conta de sua vida, com ou sem filhos, muito bem. Quer um exemplo? Eu! Fiquei viúva em 2021, depois de um casamento feliz e bem sucedido que durou 38 anos. Vivi – e talvez ainda viva hoje – um luto profundo. Mas, nem por um dia, abandonei o meu trabalho, as minhas atividades. Hoje me sinto feliz e realizada, mesmo que o meu amor viva apenas dentro de mim. Tenho minha casa, meus periquitos australianos (Philip e Elizabeth), tenho muitos amigos queridos e tudo o que eu não preciso agora é de um homem ao meu lado. Já tive o melhor deles, pelo menos o melhor para mim, por quase quatro décadas. Minha casa é linda, alegre, cheia de plantas, de livros e de música e, principalmente de amizades sinceras. E não há espaço, nem em minha cama, nem em meu coração, para outro homem. No entanto, já houve alguns que chegaram aqui certos de que eu sucumbiria rapidamente aos “encantos” deles, que eles seriam, para mim, uma espécie de “salvação”. É a arrogância machista falando bem alto! Nós mulheres precisamos desfazer-nos, de uma vez por todas, dessa ideia esdrúxula de que não somos nada sem um companheiro ao lado. Se formos completas, mentalmente sadias, se nos dedicarmos a nós mesmas, ao nosso trabalho, à nossa real vocação e aos nossos sonhos e ideais, aí, sim, seremos capazes de até encontrar um companheiro a quem amemos de verdade e que nos ame também. Mas, se a cada bobão que aparecer em nossas vidas -- por quem sentirmos atração sexual ou atração pelo poder político ou econômico -- nos julgarmos capazes de viver toda a vida ao lado dele, estaremos dando voz à nossa incapacidade mental e social, estaremos reafirmando que precisamos, sim, de uma tábua-de-salvação e que não somos seres inteiros, mas metades dependentes. É por isso que, em pleno século XXI, 84.5% da população mundial tem algum tipo de preconceito contra nós. Porque literalmente vestimos o traje de dependência que, em dois mil anos de preconceito, tricotaram para nós. Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano é escritora, produtora e apresentadora de TV, além de YouTuber. isabel@isabelvasconcellos.com.br |