A primeira deputada federal no Brasil foi a paulistana Dra. Carlota
Pereira de Queiroz. Ela era médica. Imagine ser médica, no Brasil, nos
anos 1930! Era simplesmente uma grande ousadia. A Dra. Carlota foi
Constituinte em 1934 e 35.
Francisca Praguer Góes, em Salvador, foi outra pioneira na Medicina no
Brasil. É nome de rua, no bairro da Barra.
Muitas se aventuraram, desde a primeira médica brasileira, Augusta
Estrela, que teve seu curso financiado, nos EUA, pelo próprio D. Pedro
II, então nosso Imperador.
No Rio Grande do Sul, Ermelinda Vasconcellos. Foi cursar Medicina na
Universidade Federal da Bahia, porque, em sua terra, não seria possível.
Mesmo assim, seu pai a acompanhava até a porta da escola, para evitar
que ela fosse vítima de outros estudantes, violentos, que não aceitavam
que uma mulher pudesse ser médica.
O caminho fôra aberto por Elizabeth Blackwell, em 1848, a primeira
mulher diplomada médica no mundo, nos EUA. Ainda assim, teve ela que se
restringir à prática da ginecologia e obstetrícia: mulher cuidando de
mulher...
No Brasil, a Dra. Angelita Gama foi a primeira cirurgiã. Teve que ouvir
de seu orientador, na USP: “Você vai se casar, ter filhos e abandonar a
carreira. Por que eu deveria te orientar?”
Angelita renunciou à maternidade para se dedicar à carreira. É hoje, aos
92 anos de idade, a maior autoridade em câncer do intestino.
As Dras. Albertina Duarte e Tânia Santana foram, nos anos 1980,
redatoras das normas técnicas do PAIMS (Plano de Assistência Integral à
Saúde da Mulher) e revolucionaram a visão do que fosse saúde feminina. A
Medicina, até então, via a mulher como apenas uma parideira, sem
considerar a dança hormonal que os diferencia dos homens.
Hoje, as mulheres são maioria nos bancos dos cursos de Medicina. Mas
quantas delas ocupam posições de direção e condução nas instituições
médicas? Muito poucas. Hoje, temos uma Ministra da Saúde. Estamos
melhorando.
No entanto, na Idade Média, éramos nós as curandeiras. Éramos nós as
responsáveis pela saúde de nossos povos. Por isso, a igreja passou 600
anos queimando, vivas, nas fogueiras da inquisição, essas mulheres
sábias, que preparavam porções em seu caldeirões e sabiam tudo sobre o
poder curativo das ervas. Hoje, a USP estuda os fitoterápicos: ou seja,
tenta recuperar o que, na Idade Média, as mulheres já sabiam.
E esse saber se perdeu, virou cinzas nas fogueiras da inquisição.
Mas, aqui dentro das nossas almas, todas nós sabemos. Todas as mulheres
são bruxas.
Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano é escritora,
produtora e apresentadora de TV e youtuber. isabel@isabelvasconcellos.com.br
|