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Esporte e Menstruação Podem Andar de Mãos Dadas

Por Isabel Fomm de Vasconcellos

 

Apesar de, para muitas mulheres, em tempos passados, a menstruação ter sido considerada um obstáculo, atletas pioneiras como, por exemplo, Maria Lenk, brilharam em suas respectivas modalidades em épocas em que o período menstrual era chamado de “incômodo” e nem mesmo havia produtos específicos para o conforto feminino, como os há hoje, desde as muitas variedades de absorventes até medicamentos.

 

Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira a brilhar nos Jogos Olímpicos de Verão. Isso em 1936. Como será que ela fazia para driblar as limitações, existentes então, nos dias em que entrava na piscina menstruada?

 

Hoje, derrubadas as crendices e preconceitos (como a proibição de lavar a cabeça estando menstruada, só para exemplificar), as atletas ainda têm, é claro, que lidar com as mudanças que ocorrem em seus organismos quando menstruam.

 

Um estudo realizado pela organização Women in Sport, através de pesquisa executada pela University of London (UCL) mostra que o ciclo menstrual tem realmente impacto na performance das atletas. Pelo menos assim afirmaram mais de metade das mulheres que responderam às questões colocadas pelos pesquisadores.

 

De fato, a baixa dos níveis de estrogênio e progesterona, nessa fase, repercutem por todo o organismo feminino e além dos conhecidos sintomas como cólicas, mudanças de humor, ansiedade e inchaço, o sangramento menstrual, para algumas mulheres, pode alterar ainda o controle motor, a força física, a resistência e a velocidade.

 

No entanto, o Dr. Cesar Eduardo Fernandes, atual presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), afirma que o impacto da dança hormonal é de pouca importância para a maioria, excetuando aquelas que sofrem da Síndrome da Tensão Pré Menstrual -- a famosa TPM -- que pode causar desconfortos físicos (como inchaço e cólicas bravas) bem como alterações emocionais, que seriam capazes de prejudicar o foco dessas atletas nos procedimentos necessários para o treino e para a competição.

 

 

 

Para a atleta Cristina Andreotti, 67, que mergulhou no voleibol com apenas 12 anos de idade, a menstruação nunca foi problema. Treinou e competiu durante toda a sua vida, nunca sequer optou pelos absorventes internos, pois sentia-se perfeitamente confortável usando os tradicionais, e, até hoje está na ativa, no Beach Tênis, tendo sido campeã, na modalidade simples, em 2017, deixando para trás meninas e jovens que viam, boquiabertas, a vovó obter melhor resultado que elas. Apesar de não ter sofrido por seu ciclo menstrual, em sua carreira esportiva, Cristina lembra-se de uma companheira de quadra cujo desempenho era muitas vezes prejudicado por cólicas “de matar”, como ela as classificou. Cristina teve quatro filhos e nunca parou de treinar. Uma de suas filhas, também atleta como a mãe, no entanto, tem que administrar uma TPM para não permitir que esta atrapalhe o seu desempenho esportivo.

 

 

 

Para tal, muitas atletas optam por suspender a menstruação usando medicamentos. Para estas a Dra. Albertina Duarte, ginecologista e obstetra da USP, recomenda a opção por aquelas drogas não causadoras de retenção de líquidos, já que, normalmente, sem o uso de medicamento algum, as mulheres têm um ganho de peso – pela retenção hídrica – de cerca de um quilo, durante o seu período menstrual.

 

Às que continuam menstruando normalmente a doutora recomenda que, para evitar a queda de energia “naqueles dias”, se tome um cuidado redobrado e atento com a alimentação. Nos 15 dias que antecedem a menstruação:

- evitar a ingesta de sal, açúcar, gorduras em geral, frutas como caqui, banana e abacate;

- dar preferência às frutas que têm efeito diurético como melão, melancia, abacaxi e àquelas ricas em líquidos, como a pera e o pêssego.

E, dois ou três dias antes da menstruação, ser ainda mais rigorosa com a dieta e com o sono. Importante respeitar o ritmo individual do sono, não dormindo nem demais nem de menos.

 

A Dra. Albertina explica que, meninas, iniciando sua prática esportiva regular antes da menarca, menstruam mais tarde do que a média. No Brasil, a média está em torno dos 12 anos, para a primeira menstruação. Meninas atletas menstruam, em geral, aos 15.

 

Já o Dr. Cesar atenta para o que os médicos chamam de “amenorreia das atletas e bailarinas”. Isso ocorre quando, por um treino extenuante, as mulheres deixam de menstruar naturalmente. O perigo aí está na perda de massa óssea, como ocorre com muitas mulheres no climatério ou menopausa, embora seja um pouco diferente. O exercício físico levado ao extremo faz com que a hipófise, glândula situada na base do cérebro, bloqueie a produção de gonadotrofinas que são responsáveis pela ativação dos ovários. Ovários desativados, claro, menstruação inexistente.

 

De qualquer forma, a menstruação não é um obstáculo para a prática esportiva, desde que se respeite a conduta no que diz respeito à alimentação e ao sono, para aquelas que apresentam algum tipo de sofrimento menstrual.

 

Além do mais, sempre é preciso ressaltar que a prática do exercício é geradora das substâncias cerebrais que causam o bem-estar e até a euforia, como a serotonina. Assim, paradoxalmente, adeus TPM!

 

Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e jornalista com especialização em saúde. isabel@isabelvasconcellos.com.br