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Saúde e Alegria
Por Isabel Fomm de Vasconcellos
O Prof. Dr. José Knoplich, uma autoridade em reumatologia, mas, acima de
tudo, um clínico, um generalista de primeira linha, costumava
cumprimentar os pacientes com esse bordão: Saúde e Alegria!
Não parece, assim à primeira vista, algo tão importante e significativo
como realmente o é. Não existe saúde sem alegria e não existe alegria
sem saúde. Quando, por qualquer motivo, algo não vai bem com a nossa
saúde, é preciso um grande esforço para manter a alegria. O contrário
também: quando algo não vai bem com a nossa alegria, é preciso muito
esforço para não adoecer.
A doença, para os médicos antenados, começa na alma. É o nosso interior
que, quando algo se parte em nossos sentimentos, começa a partir
qualquer coisa correspondente em nosso corpo.
Na Medicina Chinesa essa correspondência é muito clara. Por exemplo, o
medo causaria problemas nos rins.
Já para outro Dr. José, o José Carlos Riechelmann, médico ginecologista,
grande estudioso da Medicina Psicossomática, as coisas não são assim tão
simples: causa emocional, consequência física. O trânsito das emoções,
em nosso organismo, é mais complexo, é psicológico, mas também é físico.
Ele afirma: “Se eu der uma injeção de adrenalina na veia de alguém, esse
alguém terá um ataque de pânico, com todos os sintomas do medo, como
aumento da frequência cardíaca, sudorese, etc. É impossível sentir medo
sem produzir adrenalina e é impossível produzir adrenalina sem sentir
medo.”
A descarga de algumas substâncias físicas, gerada por reações
emocionais, psicológicas, modifica o trânsito dentro do nosso corpo.
Mulheres podem ovular, fora do momento previsto em seu ciclo mensal, por
causa de um impacto emocional, bom ou ruim. Por isso – explica a médica
ginecologista Dra. Tânia Santana – é que aplicativos em celulares nunca
acertarão completamente a possibilidade de se estar ou não fértil em
determinado período.
Então, a melhor prevenção das doenças – sem desprezar, é claro, os
exames laboratoriais e de imagem para a detecção precoce de sintomas – é
o bom humor, é o estar de bem com o mundo e com a vida. Mas isso não é
tão simples também. Há situações de estresse muito difíceis de evitar,
existem as perdas, os seres amados que se vão, o emprego que se perde,
as contas que não fecham, as decepções com os amigos e por aí afora.
Um grande baque sentimental pode causar um grande estrago físico.
O Dr. Nabil Ghorayeb, cardiologista e médico do esporte, sempre alerta
os torcedores cardíacos para o perigo de sofrer um infarto durante uma
final de campeonato. Diz ele: “Melhor não ver sozinho a partida, se
possível nem ver, ver a gravação do jogo, depois de já saber o
resultado”. Mas quem consegue?
Porém, o binômio saúde-alegria é também uma questão de educação. Podemos
nos educar, e aos nossos filhos, para começar a encarar com naturalidade
os percalços da vida. Morrer não é uma tragédia, é consequência do
viver. É a única perda irreversível porque todas as outras têm volta: o
dinheiro que se perdeu pode-se voltar a ganhar, assim como o emprego,
uma família e até um grande amor.
Existe, por fim, mais um grande antídoto contra a tristeza: a amizade.
Quem cultiva as amizades, com sentimentos de generosidade, sinceridade,
compaixão, perdão e tolerância, tende a superar mais facilmente os
problemas, tende a ser mais bem-humorado e certamente vive mais do que
viveria cultivando ódio, rancor, vingança, intolerância, afirmam os
psicólogos.
E esse cultivo do sentir positivamente está ao alcance de todos. É uma
questão de vontade e disciplina o combate aos sentimentos destrutivos.
Se você ainda não faz isso, pode começar já. Tudo o que está dentro de
você, está aí porque você permite que esteja. Se for ruim, não permita.
E viva com saúde e alegria!
Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora,
jornalista com especialização em saúde e apresentadora de televisão.
isabel@isabelvasconcellos.com.br
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