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Durante um único mês, e por toda a sua vida reprodutiva, passam
por grandes mudanças hormonais que vão do brilho e da excitação
estrogênica à calmaria e à ternura maternal da progesterona.
Têm TPM e Transtorno Disfórico Menstrual (A TPM braaavaaa!!!).
Quando engravidam, quando amamentam, quando estão no puerpério,
mais dança hormonal e mais variação de humor. Isso para não falar nos
tantos casos, quase sempre socialmente mal compreendidos, de depressão
pós-parto.
Depois, quando se livram da TPM porque já passaram pela
menopausa, a permanência no climatério tira delas a orgulhosa capacidade
reprodutiva, além de tirar a porosidade dos ossos e a tranquilidade da
ausência dos calores insuportáveis e do sono reparador. A falta dos
hormônios, que os ovários já não produzem, se traduz ainda em novas
oscilações de humor.
Então, se o preço que as mulheres pagam pela capacidade de gestar
é o estar mais exposta que os homens aos variados transtornos de humor,
entre eles a famosa depressão, existem outros fatores que as expõem
duplamente ao risco desses sofrimentos: a condição social e a herança
cultural.
Falar na herança cultural feminina parece chover no molhado, mas
nunca é demais lembrar que, atrás das mulheres, vêm alguns milênios de
inferioridade social e absoluta desigualdade entre os gêneros.
(Margareth Keane, 1962 , Melancolia)
Mulheres eram (e ainda o são, em vários locais do planeta)
propriedades, como os cães, as vacas e a terra. Propriedade não
estuda, não tem conta em banco, não tem direito à voz e nem escolhe os
seus governantes.
No mundo ocidental, até cerca de 5 décadas passadas, em média, as
mulheres :
- não votavam,
- não ficavam com os filhos na separação do casal,
- seus bens eram automaticamente transferidos aos maridos, quando elas
se casavam, podendo eles dispor desses bens como quisessem e sem
autorização delas e
- podiam ser mortas por homens que estivessem agindo “em legítima
defesa da honra”, com amparo legal para o feminicídio.
Mas isso é passado – dirão alguns.
Será mesmo?
A despeito das muitas conquistas que as mulheres organizadas
conseguiram para todas as mulheres do mundo ocidental (como, por
exemplo, o direito ao voto, ao estudo, ao trabalho, à guarda dos filhos
e a propriedade) mulheres de todas as classes sociais e em todos os
países, continuam apanhando regularmente de seus homens (filhos,
maridos, namorados, noivos ou simples pretendentes) à razão de 1 mulher
agredida, física ou sexualmente, a cada 15 segundos e uma morta a cada
15 minutos.
A despeito de todo o trabalho do feminismo no mundo ocidental, um
trabalho relativamente novo, de apenas 200 anos de idade, as mulheres
continuam ganhando 30% a menos que os homens, nas mesmas funções, no
Brasil e em muitos outros países, onde esse número é até mais
desaforado.
Se o feminismo queimou sutiãs nos anos 1960 e livrou as mulheres da
tortura dos espartilhos no início do século XX, não conseguiu
transforma-las em seres livres da escravidão da forma do corpo, ditada
pela moda.
Então, só para não me alongar muito nessa conversa que desagrada,
inclusive, ao meu editor, vou dizer o seguinte: o próprio Dr. Kalil
Duailibi, meu parceiro nos livros citados no início dessa matéria, é o
primeiro a reconhecer que, nos dias atuais, as mulheres vivem dentro de
uma panela de pressão muitas vezes igual ou até pior do que viveram suas
antepassadas.
Hoje elas precisam competir num mercado de trabalho criado para e pelos
homens, em condições, ainda, de grande desigualdade. Hoje elas precisam
dar conta de suas tarefas domésticas, de seus deveres maternos e ainda
enfrentar a dura realidade do mercado de trabalho ou do
empreendedorismo.
Além disso tudo, têm que ser lindas, magras, saradas, bem vestidas,
bem maquiadas.... Chega? Será que já não dei razões suficientes,
muito além das hormonais, para que as mulheres tenham quatro vezes mais
depressão do que os homens?
Hoje, apesar dos livros que escrevemos, eu diria que os hormônios estão
pagando o pato nessa história e que as causas das depressões femininas
estão muito mais nas condições socioculturais do que nas hormonais. Com
um temperinho de tendência genética.
Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora e
jornalista especializada em saúde.
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