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A Doença Vem De Dentro

Por Isabel Fomm de Vasconcellos
 

Nunca  funciona colocar nossas esperanças e anseios em mãos alheias. Seja no seu amor, no seu médico, no seu sacerdote, no seu líder político. Só você mesmo é responsável por seu caminho, por seu destino.

 

 

 

 


Crianças e Carentes
Quando a gente é criança, existem alguns adultos que nos servem de modelo, a gente pensa que eles chegaram lá, que são “gente grande” e sabem o que querem e porque vivem; imaginamos que eles são seguros, que conhecem os mistérios da vida. Eles nos servem de exemplo, guiam parte dos nossos pensamentos, são idolatrados. Podem ser nossos pais, figuras públicas, líderes, tios ou primos, não importa. Mas sempre há alguém que nos serve de modelo e de exemplo.
Depois a gente cresce. E descobre que todos os seres humanos, independentemente do grau de genialidade, de competência, de sucesso ou seja lá o que for, todos eles (inclusive nós) não passam das mesmas criancinhas desamparadas que foram na infância. Todos somos desamparados. E assim continuamos. A despeito de todas as belezas da vida, das paisagens, a despeito das frases edificantes que lemos e publicamos nas redes sociais; a despeito da beleza da arte, da música, das maravilhosas conquistas da ciência, somos todos umas criancinhas, cheios de idiossincrasias, de orgulhozinhos, de manias, de inseguranças e incertezas.

Carência rima (pobre) com Doença
Quando a carência é muita, adoecemos. Adoecer é uma maneira de pedir: cuidem de mim! Sou uma vítima da doença.
Isto porque se convencionou pensar nas doenças como coisas externas. Mas, cada vez mais, se constata que todas as doenças começam dentro de nós. Somos nós mesmos que as causamos. "Fazemos" a doença com a nossa mente.
Hoje os médicos sabem bem o estrago hormonal que pode, por exemplo, fazer no corpo da gente o estresse prolongado e negativo. Sabem também, por demonstração de vários estudos, que os deprimidos sofrem mais internações, procuram mais ajuda médica do que os não deprimidos. E mesmo as doenças transmitidas por vírus ou bactérias nos atingem quando o nosso sistema imunológico falha. E ele falha porque estamos, de uma forma ou de outra, mentalmente ruins.
A Medicina Chinesa sabe disso há milênios e até correlaciona os órgãos do corpo com determinadas emoções. Mas a sabedoria popular também sabe. Por que é que problema é sinônimo de “dor de cabeça”? Por que se diz que “o coração saiu pela boca” quando se toma um susto? Por que é que uma grande emoção é “um soco no estômago”?
Assim como o Prof. Dário Birolini, ex-titular de cirurgia da USP, não acredita em acidentes, pois acha que todos os acidentes são evitáveis e passíveis de prevenção, eu não acredito em doença como coisa externa. Todas elas, creio eu, começam dentro de nós. Começam por qualquer fragilidade emocional. Nós mesmos abrimos as portas para a doença.

Alguém que cure corpo e alma
Da mesma forma que a figura do médico supre a nossa interior e infantil necessidade de acreditar que alguém possa nos "curar", por fora e por dentro, muitas vezes a religião, a crença no poder supremo de um sacerdote, de um "delegado de deus" pode substituir essa idolatria que, desde crianças, procuramos.
Podemos pensar encontrá-la nos médicos, nos curandeiros, nos terapeutas ou nos sacerdotes. Mas todos nós, em algum momento da vida, temos a necessidade de acreditar em alguém, em alguma coisa, que tenha um poder superior, assim como, quando éramos crianças, acreditávamos em algum "adulto" que nos servia de exemplo.

Acreditar em si mesmo
A humanidade só evoluirá realmente quando cada ser humano for educado e treinado para acreditar em si mesmo.
Enquanto colocarmos a nossa realização pessoal em alguém, em um amor, em um sacerdote, em um médico, seremos sempre criancinhas a espera de um redentor.
Precisamos, é claro, dos médicos, dos terapeutas e dos sacerdotes. Assim como precisamos da sociedade, assim como precisamos uns dos outros porque, em última instância, somos todos absolutamente interdependentes. Mas só nós mesmos podemos nos curar de todos os nossos males, físicos ou espirituais. Só dentro de nós encontraremos a verdadeira cura para todos os nossos males. Os outros - médicos ou sacerdotes - são os bons instrumentos dos quais nos valemos para chegar lá.

Sós, dentro de Nós
A dura verdade é que estamos sós. Somos parte de uma sociedade, somos interdependentes, nada seríamos sem a nossa história e sem a nossa cultura, mas estamos inevitavelmente solitários dentro de nossos corpos. Interagimos. Nos comunicamos. Mas somos únicos. Não há mais ninguém dentro de nós além de nós mesmos. Podemos ajudar uns aos outros, nos empurrar, nos compreender. Mas nascemos sós e morreremos sós. E só nós mesmos somos responsáveis por nossos destinos e por tudo aquilo que nos acontece na vida.
Por isso é que nunca funciona colocar nossas esperanças e anseios em mãos alheias. Seja no seu amor, no seu médico, no seu sacerdote, no seu líder político. Só você mesmo é responsável por seu caminho, por seu destino. Mas, paradoxalmente, você depende de toda a sociedade para viver e para ser. É a estranheza do milagre da vida.
Por tudo isso é importante não colocar todas as suas esperanças num "adulto", num médico, numa caixa de remédios, num sacerdote. É preciso colocá-las em nós mesmos. E, se for preciso, procurar ajuda. Ajuda, não tábua de salvação. Ajuda, não a "gente grande" para atender a sua criança interior. Somos todos crianças, mas precisamos crescer. Sozinhos.
Os médicos, os remédios, os sacerdotes, são, sem dúvida, maravilhosos e precisamos deles. Mas precisamos acima de tudo, de nós mesmos. Na extrema solidão da nossa individualidade. Somos a nossa própria cura e a nossa própria doença. Os médicos e os remédios, assim como a fé e os sacerdotes, podem sim nos ajudar. Mas os milagres estão dentro de nós.