A Síndrome Ignorada
Há alguns anos passados se uma mulher fosse ao médico com uma queixa
de nervosismo antes da menstruação, ele receitaria um chazinho, mudança
de atitude mental perante à vida (isso, se fosse do tipo preocupado e
zeloso) e, no máximo um calmantezinho mais assim para placebo.
Não são mais de duas décadas de reconhecimento, pela Medicina, da
chamada Tensão Pré Menstrual, a famosa TPM, hoje chamada pelos
profissionais de saúde de Síndrome da Tensão Pré Menstrual.
Síndrome porque, segundo a Dra. Mara Diegoli, há mais de 120 sintomas
descritos da TPM. (A Dra. Mara, médica gineco e obstetra, brigou muito
para conseguir montar um ambulatório de TPM, dentro do Hospital das
Clínicas da USP, num tempo em que não se levava o problema tão a sério).
Mesmo com toda a divulgação do assunto hoje em dia, muitas mulheres
ainda têm dificuldades para reconhecer que sofrem de TPM. Afinal pode se
atribuir muitas causas às variações de humor. Para quem tem crises
esporádicas de depressão, mau humor ou irritabilidade excessiva, é bom
anotar os dias do mês em que essas crises acontecem e ver se elas têm ou
não relação com os períodos pré-menstruais.
Toda mulher tem TPM?
De 5 a 10% das mulheres tem sintomas muito intensos na TPM, mas
quase 70% de todas as mulheres tem um relato de desconforto antes da
menstruação. No meio rural, mais retenção hídrica, inchaços, dor de
cabeça. No meio urbano, irritabilidade e depressão.
Parece evidente que a pressão da vida de hoje, a dupla jornada de
trabalho, o sentimento de culpa por deixar os filhos para ir cuidar da
carreira e até o trânsito congestionado, são fatores que alteram os
nossos neurotransmissores e podem tornar mais grave o que já era grave.
Os sintomas físicos podem incluir uma irresistível vontade de comer
doces e carboidratos porque, na segunda fase do ciclo, pode haver uma
diminuição da quantidade de insulina. Ou seja: diminuída a quantidade de
açúcar no sangue, vem a vontade de comer o que engorda... E, engordando,
para as mulheres, tudo piora... O cérebro, as mamas e a barriga então,
são os que mais sofrem com a retenção hídrica, o sal que se come fica no
sangue, se urina menos e, consequentemente... ganho de peso!
Mas também piora com a idade: a TPM é mais leve na juventude, mais
pesada na maturidade e muito pesada na Peri menopausa.
Mental: a mais triste das TPMs
Sem desmerecer o desconforto e os problemas enfrentados pelas
mulheres tpm-izadas que sofrem de cólicas, dores no corpo e outras
alterações físicas importantes, gostaria hoje de me concentrar naquela
TPM que mexe com a cabeça, com o cérebro. Sabem os médicos agora, e só
sabem disso muito recentemente, que a química cerebral pode sofrer
alterações no período pré-menstrual pela ação da “dança” de hormônios,
característica do chamado ciclo menstrual.
A TPM pode ser responsável por muita coisa ruim na vida.
Mulheres em TPM, além de irritadíssimas, ficam com a capacidade de
magoar funcionando a todo o vapor. Assim, magoam o chefe e perdem o
emprego. Magoam o marido e perdem o marido. Muitas, apesar de mães
dedicadas, magoam os filhos. Quase todas se arrependem de terem deixado
seu descontrole chegar tão longe.
Essa TPM “mental” é evidentemente maior naqueles ciclos em que estamos
vivendo momentos de maior estresse, pois a pressão da situação vivida
soma-se a esta terrível predisposição para o negativo.
Não sei se é possível, para quem não vive a TPM “mental”, imaginar o que
seja isso. Relatos e relatos de mulheres dizem que é “como ter outra por
dentro”. Como se, ao soltar os cachorros em cima de algum coitado, a
tpm-izada soubesse que não deveria estar fazendo aquilo, que não deveria
estar perdendo a calma e tendo um ataque histérico, que não deveria
enfim dizer o que estava dizendo ou fazer o que estava fazendo. Mas,
mesmo sabendo, não conseguir parar. Assim como o viciado em jogo ou em
droga sabe que tem que parar, mas não para e perde tudo ou morre de
overdose.
Mas não são apenas os ataques de nervos os causados por essa TPM
“mental”. Há ainda a depressão. Choro fácil ou mesmo os sintomas
clássicos da doença mental chamada depressão: absoluta desmotivação e
uma profunda tristeza sem que motivos a justifiquem. Dificuldade para
sair da cama e enfrentar o leão que matamos cotidianamente...
Irritabilidade não é incapacidade
A coisa é brava mesmo. E, segundo uma conta da Dra.Dolores Pardini,
professora da Escola Paulista de Medicina, uma mulher passa, durante a
vida, somados, nove anos inteiros de TPM. E ela considerou, na conta,
apenas 7 dias de TPM por mês. Há quem viva 10 dias assim. |
|