voltar para a página Revistas

Não Existe Milagre (para emagrecer)

por Isabel Fomm de Vasconcellos

 

Todo mundo – ou quase – quer emagrecer. Todo mundo está cansado de saber que a causa da epidemia de Obesidade que o planeta enfrenta hoje é também uma combinação de fatores da vida moderna: passa-se a maior parte do tempo sentado, a oferta de alimentos é de uma fartura que a história não registrou semelhante anteriormente e, portanto, a combinação de vida sedentária com alimentação abundante (e nem sempre saudável) acaba por resultar em sobrepeso e obesidade. O mais sério é que essa “síndrome” acomete também as crianças e parece que criança obesa é igual a adulto muito obeso...
Porque existem gordos que comem pouco e magros que comem muito.
 

O Prof.Dr. Alfredo Halpern, pioneiro no estudo da obesidade como doença no Brasil, afirma que esse binômio do parágrafo acima não responde completamente a questão. Há pessoas, segundo ele, que fazem atividade física e comem pouco e engordam, assim como há pessoas que comem muito, são sedentárias e não engordam... Difícil, hein?
 

 

No entanto a dura verdade permanece: se você ingere mais calorias do que gasta, engorda.
A diferença é que existe quem tenha maior, e quem tenha menor, tendência para acumular o excesso da ingestão de calorias (comida, como diz o doutor, porque não se come calorias...) na forma de gordura. Ainda segundo o doutor, existem também aqueles cuja tendência para a obesidade repousa numa maior dificuldade de queimar calorias “de gordura”.
Os que o Dr. Alfredo chama, brincando, de “magros de ruim”, que podem comer um pouco a mais, acumulariam esse excesso em forma de músculo, por exemplo.
No entanto, a impressão que se tem é que esses comilões magros são mesmo uma minoria.
Seja qual for o seu caso, o fato é que o único jeito de emagrecer é ingerindo menos calorias do que gastamos. Ou gastando mais do que ingerimos.
Não é difícil perceber que isso exigirá uma mudança de hábitos de vida.
(Pronto! Lá vem a chata da Isabel falando em mudança de hábitos, como se isso fosse fácil, você pode estar pensando).
Não é fácil, eu sei.

Dieta não é Tratamento
O grande problema das pessoas que passam a vida tentando emagrecer é acreditar que, fazendo uma determinada dieta, tomando um determinado medicamento e até caprichando na malhação, elas emagrecerão para sempre. Tudo isso pode emagrecer. Mas, assim que você terminar a dieta, parar com o medicamento ou diminuir a atividade física... Lamento dizer, mas você vai engordar tudo outra vez.
No entanto, a tendência é pensar que não; é pensar que a dieta é igual ao tratamento de uma doença qualquer. Você tem pneumonia, por exemplo. Trata e sara. Cura. Acabou.
Emagrecer e ficar magro não é assim.
Depende de uma combinação de fatores, assim como a obesidade é uma combinação de fatores, não é?
Então a única solução é mesmo mudar os hábitos de vida para sempre se quiser permanecer magro para sempre.
Para isso, você precisa do médico. Ele vai orientar você e, se preciso, receitar algum medicamento que o ajudará a dar um “start” no emagrecimento. E, acredite, não existe nada mais gratificante, para um candidato a ex obeso, do que ver a roupa “sambando” no corpo.

Por que emagrecer?
Além de gratificante, pelo aspecto estético, ainda é maravilhoso para a sua saúde. Diminui a hipertensão, o diabetes, a apneia do sono, os problemas articulares... benefícios esses já comprovados há muito. Um novo estudo, porém, que pode ser encontrado na publicação científica Lancet, mostrou que a obesidade aumenta os riscos de 10 tipos de câncer. Por exemplo, 62% de aumento de risco para o câncer de útero, 25% para os rins e 9% para tiroide e leucemia, possuindo ainda influência sobre o risco de câncer colo retal, fígado, ovários e mamas. A publicação afirma também que a obesidade foi responsável por mais de 12 mil casos de câncer por ano, no Reino Unido.

Preconceito
Se os riscos para a saúde não são suficientes para convencer alguém a sair do sobrepeso ou da obesidade, a intolerância social aos obesos talvez seja. Malvistos no Shopping, no trabalho, no clube, no avião, sofrem ainda o preconceito que cerca a obesidade, aquela ideia de que o obeso é responsável por sua condição, que não tem força de vontade, que é uma pessoa sem agilidade e com baixa disposição.
Um obeso não é nada disso. Ele é apenas vítima dos seus genes, do seu metabolismo e de seus hábitos. Muito embora, como já visto, existem aqueles que tem esses mesmos hábitos e –felizardos? —não engordam.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que pode ajudar na mudança de hábitos.

- Uma atividade física regular e principalmente prazerosa pode ajudar muito. Os hormônios liberados pelo prazer ajudam a diminuir o apetite pela comida. A mesma coisa com o sexo bem feito.

- As compras de supermercado que priorizem alimentos de baixa caloria, saladas (ficam deliciosas como molhos também de baixas calorias), frutas, carnes magras... É perfeitamente possível gostar de alimentos menos calóricos e se habituar a eles.

- Acostumar-se (como eu já disse no artigo sobre o coração) a deixar de lado o carro e caminhar até a padaria, por exemplo, ou estacionar mais longe do seu destino... Ou seja, aproveitar toda e qualquer oportunidade de caminhar, de subir e/ou descer escadas. Pode não parecer, mas tudo isso queima calorias.

- O seu médico pode receitar algum medicamento para ajudar, mas será por algum tempo. Os medicamentos ajudam na mudança de hábitos. Sibutramina ou bupropiona podem diminuir o seu apetite, ajudando a comer menos. Comendo menos, você verá que, depois de algumas semanas, já não consegue (e nem quer) comer a quantidade que comia antes.
OBS: existem centenas de “medicamentos” oferecidos diariamente nas TVs e na Internet que prometem o sonho de todo obeso: emagrecer sem fazer força. É tudo picaretagem. Se existisse (e talvez um dia venha a existir) um medicamento desses ninguém mais seria obeso no mundo. Então não jogue fora seu dinheiro, nem sua esperança (e até a sua saúde), entrando nessa.

- Para os obesos mórbidos ou pessoas simplesmente muito acima do peso ideal, existem outros recursos, como o orlistat (medicamento que não deixa seu organismo absorver toda a gordura que você consome) ou o balão intragástrico (que proporciona saciedade) e, por fim, o mais drástico: as famosas cirurgias bariátricas.
Mas, mesmo para essas pessoas, a simples mudança de hábitos pode resolver. Experimente.

Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora, com 11 livros publicados, jornalista especializada em saúde e apresentadora de TV. www.isabelvasconcellos.com.br