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Missões possíveis, para prevenir-se do infarto.
Por Isabel Fomm de Vasconcellos

 publicado na Revista UpPharma n.148

 

 

Clique na capa da revista para ver a edição completa.

 

Habitue-se a ir ao cardiologista como está habituada a ir ao ginecologista. Principalmente se você tiver casos de problemas cardiovasculares na família.


Como comentado no artigo anterior, as mulheres de hoje estão de fato se atribuindo missões impossíveis ao assumir tantos e tão diferentes papéis na sociedade sem redistribuir as missões da rainha do lar. Não dá para reinar no lar e na vida produtiva ao mesmo tempo. Certas tarefas precisariam ser delegadas a profissionais domésticos ou à própria família. Muitos casais já dividem as tarefas, os mais jovens principalmente. Reuniões de “pais e mestres” nas escolas deixaram de ter apenas mulheres presentes, por exemplo.
Então se o infarto pode ser o preço das missões impossíveis, por causa do estresse e do consequente pouco cuidado consigo mesmas, é melhor começar a parar de pensar que “comigo não acontece”. Lembre-se: a maior causa de morte das mulheres, no mundo, atualmente, não é o câncer (que todos temem) mas o infarto. Acontece que nós mesmas estamos criando o nosso caminho para esse final infeliz. Por que? Vários motivos. Vamos a eles.

1. Alimentação deficiente.

Repare nas pessoas (não só mulheres, aliás) fazendo seu prato num restaurante a quilo. A maioria passa direto pelo balcão de saladas. Dentre a minoria que se serve desses alimentos, muitos colocam uma quantidade mínima no prato, talvez já tentando imaginar que uma folhinha de alface e uma rodela de tomate vai tornar a sua alimentação mais saudável.
É o consumo regular (e não pequenas amostras) das “saladas” (sem maionese, por favor) que caracteriza também uma boa alimentação. Legumes, verduras, cereais e nozes possuem esteroides, nesse caso, fito esteroides que, segundo os cardiologistas, são capazes de diminuir o colesterol ruim (LDL) no sangue, contribuindo assim para minimizar o risco das doenças do coração. Habitue-se a não comer carnes vermelhas, prefira o japonês à churrascaria, aprenda a gostar das coisas saudáveis e a diminuir o consumo das pouco saudáveis.

2. Vida sedentária.

A Academia que você pagou e não frequentou. A promessa de começar na próxima segunda feira. A preguiça. Por que será que quando prometemos a nós mesmos que vamos mudar de hábitos e incluir na nossa vida a atividade física regular, pensamos sempre na Academia?
A academia pode ser a nossa casa, a rua, a vida cotidiana. Se você detesta esporte ou ginástica, caminhada ou bicicleta, experimente parar o carro sempre a um quarteirão de distância do seu destino. Mesmo que você vá ao supermercado. Deixe o carro longe e dê uma gorjeta pro entregador para ele caminhar com você até seu carro. Difícil? Você está sempre com pressa? Preste atenção aos seus horários e ajeite a agenda para poder ter esses “buracos” de tempo. Afinal você sempre arruma tempo pro cabeleireiro ou pro shopping,

não é?
Você anda de metrô? Habitual ou eventualmente? Esqueça a escada rolante: no metrô, no shopping, em qualquer lugar. Use as escadas mesmo. Mora em apartamento? Desça um andar antes e suba pela escada. Dois andares? Três?
O ser humano – já diria Saint Exupéry – se acostuma a tudo. Se você se forçar a fazer coisas assim, elas se tornarão um hábito e você se acostumará tanto a elas que nem vai perceber que as faz. Duvida? Experimente.
(Se você só anda, como eu, de salto alto, leve um bolsa grande com um par de tênis pequeno dentro).

3. Cigarro

Você fuma? Pare.
Não consegue? Vá ao pneumologista e ele receitará um santo remédio que, se levado a sério, vai fazer você parar de fumar. O cigarro é o pior veneno que existe para a sua saúde.


4. Pressão Alta

Cada vez que você se irrita sua pressão sobe.
Cada vez que você fica nervosa, idem.
Na Argentina, a terra do churrasco, o governo proibiu os restaurantes e lanchonetes de usar sal em excesso porque a hipertensão corre solta no país. O sal é um dos maiores vilões da saúde. Troque o sal pelas ervas. A internet está cheia de receitas saudáveis e que incluem pouco sal. Preste atenção também aos alimentos que você compra prontos. Muitos têm mais sal do que você deve consumir. (Se os fabricantes driblam a lei que os obriga a informar, na embalagem, os componentes do produto, drible-os você levando uma lupa na bolsa para enxergar a letra minúscula dessas informações)

Tudo isso pode parecer chato mas, se você fizer, acabará achando ótimo. E, de quebra, vai emagrecer. Assim, nem vai engordar quando largar o cigarro...
E, por fim, o fator de risco mais difícil de eliminar é o

5. Estresse.

Mas existem formas de melhorar isso.
Primeiro, procure organizar todas as suas “tarefas”, delegue algumas delas aos seus filhos, ao seu marido ou aos empregados.
Pare de se preocupar cm coisas domésticas no trabalho e vice versa. Os homens aprenderam bem a não levar para casa os problemas do trabalho e nem levar para o trabalho os problemas de casa.
Organize-se para não jogar tempo fora, por exemplo, procurando a chave do carro. Habitue-se a coloca-la sempre no mesmo lugar. A mesma coisa, para toda a sua casa. Vale a pena gastar um fim de semana só para colocar tudo em ordem na casa e obrigar-se a manter a essa ordem. Se você se acha uma bagunceira nata, contrate um profissional desses que em dois dias deixa sua casa perfeita e ensina você a manter tudo assim. Organizando, vai sobrar tempo pra muita coisa, você vai ver. É inacreditável o tempo que gastamos procurando objetos só porque não temos a casa em ordem.
Escolha uma atividade relaxante: yoga, meditação, canto, tocar um instrumento e até mesmo tirar um tempo para ler um bom livro. Ouça música. Frequente atividades culturais, teatro, exposições, cinema.

Para completar, habitue-se a ir ao cardiologista como está habituada a ir ao ginecologista. Principalmente se você tiver casos de problemas cardiovasculares na família. Previna-se para não sofrer.

E antes que você jogue longe a revista e me chame de A Rainha das Chatas, lembre-se que as missões que estou propondo para diminuir seu risco de morrer, ou sofrer, de doenças cardiovasculares não são mais impossíveis do que aquelas que você propõe frequentemente a si mesma.
Então, como todas nós, mulheres – magras ou não – vivemos querendo perder peso, na próxima eu prometo grandes dicas para emagrecer com saúde. Não fique brava comigo. Eu faço tudo o que indico. E dá certo!


Isabel Fomm de Vasconcellos é escritora, com 11 livros publicados, jornalista especializada em saúde e apresentadora de TV. www.isabelvasconcellos.com.br