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Missões Impossíveis:  O Infarto pode ser o preço.

 

por Isabel Fomm de Vasconcellos

na Revista UpPharma

 

 

Frida Khalo, 1939, As Duas Fridas

 

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A liberação feminina cobra seu preço em saúde. Hoje 38% das mulheres americanas morrem por doenças cardiovasculares contra 22% por câncer, que, ironicamente, é mais temido do que o infarto.

Lá se vão duas décadas em que as mulheres começaram a se igualar aos homens também na frequência com que sofrem um infarto.

O preço da liberação, porém, não é compulsório, pode-se simplesmente não pagar esse preço.

Se as mulheres de hoje estão expostas a muito mais estresse do que suas avós e bisavós é porque entraram para valer no mercado de trabalho, competem duramente nele, ganham em média 30% as menos que eles nas mesmas funções, muitas vezes são preteridas nas promoções e carregam o fardo das responsabilidades, com os filhos, que nem sempre são assumidas também pelos pais. Compromissos demais.

Como se isso não bastasse, alimentam-se fora de casa, podem esquecer o saudável café da manhã, nem sempre podem ter um almoço equilibrado em nutrientes e gorduras e enfrentam, nas grandes cidades, horas e horas de trânsito para cumprir aqueles citados compromisso demais.

Demais? Tem mais.

Muitas fumam.

A esmagadora maioria não está satisfeita com seu próprio corpo porque, afinal, a maior missão impossível, dadas as origens éticas brasileiras, é ter barriga tanquinho e ser magra como as modelos de passarela.

O Dr. Cesar Eduardo Fernandes, experiente professor de Medicina, ginecologista, costuma brincar dizendo que todas as mulheres que vão ao seu consultório, sejam elas magras, obesas ou apenas com sobrepeso, querem emagrecer.

É a pressão social.

Há também a pressão doméstica.

Acostumadas a ser “rainhas do lar” e “eminência parda” por trás do homem provedor, as mulheres liberam-se, vão à luta no trabalho, muitas vezes são as chefes da família, mas não querem renunciar à coroa. O poder matriarca foi o único poder dado à esmagadora maioria da mulheres na história. É duro renunciar a ele, mas parece mais duro estar numa reunião importante preocupada com o tempero do bife. Ainda que deleguem as funções aos empregados domésticos, as mulheres não abrem mão do exercício do poder doméstico e, por isso, acabam se preocupando mais do que o necessário com as questões relativas ao funcionamento do lar. Mas também existem aquelas que trabalham fora e dentro de casa porque não podem contratar empregados, cada dia mais inacessíveis para, inclusive, famílias da chamada classe média.

Está aí, resumidamente, a nova panela de pressão feminina.

Mas tem mais.

Mais?

Veja o que me disse, sobre essa questão, do ponto de vista médico, o prestigiado cardiologista Prof. Dr. Nabil Ghorayeb:

A mulher, por exemplo, tem 10% a mais de gordura corporal e entre 20 a 40% menos massa magra e menor força que dos homens. Na doença, a manifestação de um problema cardiovascular na mulher é mais grave do que no homem, sabe-se que até o início da menopausa, pelos 50 anos, há predomínio dessas doenças no homem e depois as mulheres os superam. Elas têm sintomas atípicos de doença cardíaca, além de diferentes dos que aparecem nos homens, o que pode confundir o diagnóstico exato de um quadro agudo como o infarto do miocárdio da mulher, pelos médicos. A anatomia das artérias coronárias que nutrem o coração, na mulher é de estrutura menor e mais fina, o que nas obstruções por placas de gordura, resultam em pior prognóstico.”

Ou seja, já estamos superando os homens também no campeonato dos infartados.

Mas eu disse acima que o preço da saúde a pagar pela liberação feminina pode ser zerado, evitado. Como? Isso é uma outra história que fica para uma outra vez.