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Pós Cirurgia Plástica: A cabeça também muda.

por Dr. Paulo Jatene

 

 

Tudo isso apenas por uma plástica?

 

Não é muito difícil perceber que, eliminando do corpo alguma coisa que nos incomoda, melhoraremos, em muito, a disposição e o humor.

 

Muitas vezes uma orelha de abano -- mesmo aquela que poucos notam -- é um obstáculo inacreditável ao desenvolvimento de uma criança. Ela se percebe diferente das outras crianças, se percebe feia (mesmo que seja muito bela) e, como reação, pode se tornar muito tímida ou, ao contrário, muito agressiva. Se tímida, poderá perder grandes oportunidades nos estudos e na vida social. Se agressiva, também. Seus talentos serão subestimados, sub aproveitados, subdesenvolvidos. Seus defeitos, supervalorizados. Seus amores, pouco aproveitados.

 

O exemplo da orelha de abano serve para o nariz proeminente, o lábio leporino, a ginecomastia, a ruga precoce etc. Serve para crianças. Serve para os que não aceitam tão bem o envelhecimento.

Corrigir qualquer dessas condições é escancarar um porta para infinitas possibilidades que, antes, mal eram percebidas.

 

Lembro-me de uma paciente que veio a mim deprimida, sem ânimo para nada, muito infeliz com o rosto precocemente envelhecido pelo excesso de banhos de sol e de luz ultravioleta nas cabines de bronzeamento artificial. Planejamos para ela um lifting facial e uma blefaroplastia (cirurgia dos olhos) para eliminar as bolsas de gordura sob os olhos e as pálpebras caídas. O resultado foi excelente e, a cada visita dela ao consultório, eu percebia os sinais da autoestima crescente: as roupas mais ousadas e modernas, a maquiagem caprichada, as unhas muito bem feitas... Ela até conseguiu fazer uma dieta e perder uns poucos quilos a mais. Se tornou elegante e desejável. Dois anos depois eu a vi numa reportagem sobre mulheres empreendedoras. Ela havia conseguido, em apenas 24 meses, transformar o seu pequeno negócio numa bem sucedida rede de franquias...

 

Tudo isso apenas por uma plástica? Não. Tudo isso apenas porque a plástica devolveu a ela a auto confiança, o otimismo, a vontade de progredir.

 

Nem todos os casos, infelizmente, tem um final feliz.

 Fernand Ferdinand - Retrato da Elegante e seu gato

Quem procura a plástica para salvar um casamento, para conseguir a aparência de um determinado artista ou celebridade, para vencer, enfim, um problema afetivo, emocional ou psicológico, raramente terá esse maravilhoso efeito secundário.

 

Por isso nós, cirurgiões, nos valemos dos psicólogos de nossas clínicas e de nossas equipes para evitar operar quem tem falsas expectativas (veja artigo sobre isso), evitando também, dessa forma, agravar os problemas dessa pessoa.

Porque, acredite, a cabeça, depois da plástica, assim como muda para melhor, pode -- numa inadequada indicação para a cirurgia -- mudar para pior.