voltar para a página inicial do Portal voltar para a página-site Memoria Isabel

2014 com Vida Alves no Lançamento do livro dela sobre TV

 

1987 página do Boletim da nossa produtora

 

 

1994, Rede Mulher de TV

 

1995, Junta Médica na Rede Mulher com Nabil Ghorayeb

 

1990, Caetano e Ary Toledo Convenção Brahma

 

1992 Caetano com meu irmão da TV, Alvan.

 

2000, Nossa Festa de Natal para Equipe Rede Mulher

 

2003, Almoço Equipe Organon, Patrocinadores

 

2005, Nossa Palestra na ABRATA (psiquiatria)

 

2005 Com Executiva na Galena Farmacêutica

 

2006 Jantar da Bristol Farmacêutica

 

2006 Festa 12 Anos da Rede Mulher de TV

 

2007 Na allTV, com Alda Marco Antonio

 

2008 Jantar 4 mil programas médicos

 

2008 Jantar 4 mil com Drs. Cristina e Paulo Jatene e Mário Grieco e Silvana Chedid

 

2008 Autógrafos O Fantasma da Paulista I FNAC

 

2008 na allTV com Drs. June Megre e Joel Rennó

 

2009 Autógrafos Fantasma aqui no Condomínio

 

2009 Prêmio Dra. Angelita Gama, Sala São Paulo

 

2011, Autógrafos Todas as Mulheres São Bruxas II, com

Fátima Turci

 

2012 Autógrafos Escritor Antonio Costella

 

2012 Jantar Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, Terraço Itália

 

2012 Autógrafos Livro Dr. Adriano Segal, Vila Iguatemi

 

2014, Homenagem à Diná Lopes Coelho

 

2017, Gravação Janela da Paulista Dr. Artur Dzik

 

2017, Autógrafos "O Amor me Esperava em África" de Isabel

e Luciene Figueiredo, na FNAC

 

2017, Evento APM Ass.Paulista de Medicina

 

2017, Gravando Janela da Paulista com Dr. Marcello Pedreira

 

2018, Festa 18 Anos do Portal na Janela da Paulista

Drs. Teresa e Joel Rennó e Paulo Jatene.

 

2019 Gravando Janela da Paulista com Dr. Riechelmann

 

2019 Amigos em Casa depois da Tarde de Autógrafos de O Fantasma da Paulista II, em plena calçada da Av.Paulista.

 

2020 Gravando na Janela da Paulista com Dr. Artur Dzik

 

 

Memórias Profissionais de Bel e Mauro
Do Economês ao Televiquês
Trechos selecionados do Livro “História de Um Grande Amor (e suas aventuras na TV Brasileira)”
 


Mauro Siqueira Caetano fizera uma brilhante carreira como diretor financeiro de empresas multinacionais. Economista pela USP com doutorado no Exterior, estava desempregado e ferrado financeiramente quando nos conhecemos e nos apaixonamos, em 28 de outubro de 1983.

 

Programas na Televisão Aberta

 

A entrada de Mauro Caetano no meu mundo da Comunicação, lembra uma velha piada: os publicitários teriam reunião com os executivos de uma importante empresa internacional que passaria a ser seu cliente. Resolveram, para impressionar os executivos, ir à reunião de terno e gravata, em vez dos habituais jeans, camisetas, jaquetas e tênis.
Os executivos, por sua vez, queriam que os publicitários se sentissem à vontade na reunião e, por isso, em vez de terno e gravata, apareceram de jeans, tênis e camisetas.

Em janeiro de 1984, meu irmão Alvan assumiu a diretoria de programação da TV Gazeta e, talvez um mês depois, me chamou lá:
-- Bel, você trabalha com médicos, não é?
Respondi:
-- Não exatamente. Trabalho para alguns grupos médicos.
-- Mas conseguiria produzir um programa médico de TV?
-- Claro – respondi. Produzo muitos filmes publicitários, muitos eventos, claro que conseguiria.

Então ele fez a sua proposta:
-- Você e o Mauro podem montar uma produtora independente e nos fornecer programas médicos. Eu coloquei no ar um programa médico produzido lá fora e o IBOPE deu um pulo. Acho que é o que a TV brasileira não tem: informação confiável de saúde e o público está carente disso.

É claro que, para produzir um programa médico, gravando nos estúdios da própria emissora, nós só precisaríamos da nossa inteligência e de uma linha telefônica. Mas o meu megalômano (então) amor não se contentaria com isso. Foi buscar um sócio capitalista, um amigo profissional, dentre os muitos que ele fizera ao longo de sua brilhante carreira e o convenceu a investir.

Assim, alugamos um escritório num prédio próximo à Gazeta, na Avenida Paulista, montamos uma empresa (não sem antes eu ter que quebrar o pau para não ficar de fora da sociedade, o que ele e seu amigo queriam e não admiti, pois quem ia carregar o piano – eu sabia – da produção seria eu e não eles) e, no dia 12 de junho de 1984, estreamos o nosso “Junta Médica”, o primeiro programa exclusivamente médico da TV brasileira. Na estreia, Drs. Nabil Ghorayeb, Adib Jatene e mais dois figurões da Medicina. A apresentação estava a cargo do Dr. Celso Barreiros, apresentador do Jornal da TV Cultura e cirurgião plástico.

Aliás, à TV só iam, até esse momento, os cirurgiões plásticos que, depois de colocar a cara na telinha, sofriam sanções do CFM, que acreditava não ser a televisão “lugar para médicos”.

Logo recebi um telefonema de um conselheiro do CRM que me disse:
-- A senhora não pode colocar os médicos na TV. Isso é autopromoção! Proibido pelo código de ética médica!
Eu estava no viva-voz e, Caetano, ouvindo, me disse:
-- Pergunte a ele se prefere que coloquemos, para falar de saúde, curandeiros e pajés!

Em agosto, dois meses depois da estreia – nós estávamos vivendo então do investimento do nosso sócio rico – o Diretor Geral da Gazeta me chamou para almoçar no Club Holms e me disse que eu teria o prazo de um mês para conseguir patrocinar o programa ou ele nos tiraria do ar.

Alguns dias depois, Mauro Caetano me ordenou:
-- Vai acontecer um Congresso de Marketing Farmacêutico no Maksoud Plaza. E você tem que estar lá.

Fui. Me sentindo um peixe fora d’água, mais ou menos como os publicitários de terno e gravata da historinha anedótica que contei acima. Acabei encontrando alguns amigos de agências de publicidade e fiquei muito impressionada com um jovem palestrante, então gerente de marketing do laboratório Pfizer, que pretendia fazer “degustação de medicamento no ponto de venda”. Como assim? Degustação de remédio? A proposta era para a vitamina C efervescente, mesmo assim e mesmo para a época, algo totalmente maluco. Ora, sempre gostei mais de gente maluca do que de gente sisuda.

Liguei pro cara no dia seguinte. Era o Ricardo Riedel, que faria, nos anos seguintes, uma brilhante carreira, chegando à Presidência, na Indústria Farmacêutica. (Aposentado, presidia, nos anos 2010, a Editora Cultrix e editou um dos meus livros.)
Resultado: reunião na sede da Pfizer. Saímos da reunião com o programa vendido. Tinha ido com o nosso sócio capitalista e, se eu era boa na argumentação de marketing, ele era ótimo na hora de negociar a grana.

Saímos de lá, radiantes, e começamos a pensar em como fazer crescer a produtora.

Estava eu ocupada, produzindo, nos VTs da Gazeta, vinhetas e comerciais para o nosso novo patrocinador, quando, de volta à produtora, a secretária me diz: -- Já ligou aqui inúmeras vezes um sujeito do Laboratório Searle. Diz que precisa muito falar com você.

Era o Dr. Mário Grieco, então diretor médico da Searle e me disse:
-- Quero patrocinar o seu programa.
Respondi que vendera, uma semana antes, o patrocínio exclusivo para a Pfizer. Mas perguntei a ele:
-- Qual é o seu principal produto?
-- Pedyalite – respondeu.
-- Então a sua especialidade médica de maior interesse é a Pediatria, certo? Nós podemos produzir para a sua empresa, um programa médico pediátrico. Que tal?

Foi assim que nasceu o “Saúde da Criança”, apresentado pelo médico pediatra, Dr. Luciano Barsanti, por sugestão do Alvan, que já o vira sendo entrevistado no Junta Médica e achava que ele levava jeito pra coisa. E como levava! Na primeira gravação, os técnicos se recusavam a aceitar que ele jamais fôra um apresentador...

Com a Pfizer patrocinando o Junta Médica e a Searle, o Saúde da Criança, Caetano e eu fomos à Lintas, grande agência de publicidade de então, vender a ideia da “segmentação” da mídia. Que tal colocar anúncios da Johnson – que era líder de mercado em absorventes femininos – a cada vez que o tema do programa fosse a saúde da mulher? Fechamos.

E Caetano começou a procurar outras emissoras, em outras cidades, que quisessem também transmitir os nossos programas. Conseguiu algumas: TV Itapoan, de Salvador, BA; TV Capital, de Brasília, DF e TV Guaíba, de Porto Alegre, RS.

Passamos a viver montados em aviões. Íamos a essas praças, divulgar, gravar entrevistas nas emissoras, produzir chamadas, negociar patrocínios. Algumas vezes fui sozinha. E, quando eu ia sozinha, ele fazia questão de comprar passagens de 1ª classe para mim. Não precisava. Mas ele dizia que uma estrela não pode viajar de classe executiva. Eu ainda não era uma estrela, mas, para ele, era.

Nossos dois programas de saúde iam bem. Mas eu sonhava com um programa sobre a cultura brasileira, a memória da cultura.

Caetano tinha um amigo famoso: o psiquiatra Dr. Paulo Gaudêncio, que também apresentara alguns programas jovens na TV Cultura. Fomos jantar com ele na Oscar Freire, num restaurante badalado.

A ideia era que o Gaudêncio apresentasse o programa. Ele não quis. Mas, num rápido brainstorming, ali na mesa do In Cittá (lembrei o nome do restaurante!) que criamos, Caetano, Paulo e eu, o nome do programa: Papo&Repapo.

Esse programa, então capitaneado pelo apresentador Synésio Jr., entrevistou grandes nomes da cultura nacional. Incluindo um grande avesso a dar entrevistas, o também entrevistador, Jô Soares. Jô fôra amigo do meu irmão Alvan, no começo da sua (dele) carreira e, um dia, Caetano e Alvan encontraram o Jô numa ponte aérea Rio-SP e aí, depois de muitas negociações para conseguir autorização da Globo, o Jô foi ao Papo&Repapo.

1985. Nossos programas dando audiência e levando anunciantes para as TVs onde eram exibidos. Sabia eu que as mulheres brasileiras organizadas estavam preparando suas propostas para a Constituinte de 1988. Fui almoçar com meu irmão e lhe disse:
-- Quero fazer um programa feminista. Me dê um espaço.
E ele:
-- Me traga um patrocinador e terá o espaço.

Por essa eu não esperava.

Caetano me disse:
-- Vá procurar aquele contato na Lintas. Ele tem a Johnson.

Assim, no dia 8 de dezembro de 1985, estreávamos mais um programa: Condição de Mulher, com patrocínio da Johnson. E, desta vez, eu não era apenas a produtora, mas também a apresentadora.

Caetano colocou esse meu programa também nas praças onde já tínhamos colocado os outros.

Naquele tempo, tudo era muito mais complicado, sem computador, sem Internet e sem canais de satélite.

Nossos programas iam, por avião, em enormes fitas U-MATIC de vídeo, para as outras cidades. Eu fazia imensos boletins de programação usando um decalque chamado “letraset” e máquina de escrever eletrônica, fotos em papel e muita cola. Tudo isso era depois copiado em xerox e os boletins, montados e grampeados pelo pessoal do escritório, iam para as redações, por correio ou levados pelo nosso motoboy.

A nossa produtora, então, tinha muitos funcionários. Todos sob a batuta do Caetano, que administrava os trâmites necessários e a grana.

Além dos patrocínios que conquistáramos, em 1986 fui procurada pela assessora de marketing do governo do Estado de São Paulo: a cientista política, Fátima Pacheco Jordão. E ela me disse:
-- Isabel, você está fazendo um belo trabalho de comunicação pelas reivindicações da mulheres para a Constituinte de 88. O nosso governo gostaria de apoiar essa sua iniciativa. Quer alguns comerciais de verba pública estadual?

Quase caí da minha cadeira. Como assim? O Governo do Estado me procurara para apoiar o nosso programa? Era exatamente isso. Governo do saudoso Franco Montoro, a quem, certo dia, encontráramos no elevador da TV! O homem que criou e sempre prestigiou o Conselho Estadual da Condição Feminina, cuja primeira presidente foi a Alda Marco Antônio e a segunda, a socióloga e política, Eva Blay.

Dra. Albertina Duarte, Alda Marco Antônio, Vilma Warner, Ida Maria, Dra. Floriza Verucci, Dra. Silvia Pimentel, Dra. Tânia Santana, além do Mário Covas e do nosso saudoso Prof. Dr. Aristodemo Pinotti (o médico que mais trabalhou em prol do estabelecimento de protocolos decentes para o atendimento à Saúde da Mulher) eram algumas das presenças importantes e constantes em nosso programa de TV, Condição de Mulher, cujo nome me foi sugerido pela Iara Moya, aquela minha amiga de infância que estava então casada com o Bolívar, o amigo de adolescência do Mauro Caetano.

Foram 4 anos maravilhosos: de 1984 a 1988. Vivíamos viajando a trabalho, tínhamos ótimos programas patrocinados por empresas excelentes e com o apoio do governo do estado.

Nosso apartamento foi palco de inúmeras festas, algumas com até o espantoso número de 120 convidados e penetras. Muitas entrevistas para a Imprensa: afinal, Produção Independente era algo novo na TV brasileira. Virei estrela. Era vestida por algumas das mais importantes confecções paulistanas, ia aos mais badalados cabeleireiros da cidade, sapatos Spinelli, bijoux de Rose Benedetti, frequentávamos os melhores restaurantes, viagens com hospedagens nos melhores hotéis cinco estrelas, primeira classe nos aviões, tudo o que as “celebridades” da vida costumavam ter e viver. E tudo isso enchia de orgulho o meu amor.

Revolucionando os Congressos Médicos

 

Uma outra atividade sensacional da nossa produtora, eram as transmissões, ao vivo, de congressos e simpósios médicos, via Embratel. Naquele tempo nem se sonhava com a facilidade que se tem hoje de fazer lives e transmissões por Internet. Nem existia Internet. E os canais de satélites disponíveis eram muito poucos.

Normalmente, esses simpósios e congressos eram transmitidos, de anfiteatros de hotéis, para outras cidades, com apenas uma ou duas câmeras de TV, fixas, que mal conseguiam captar o conteúdo dos slides que os médicos palestrantes projetavam em tela, no palco. Uma coisa muito chata de se assistir.

Mauro Caetano revolucionou tudo isso, junto com Alvan e o nosso diretor de imagem, o saudoso Carlão, que fôra um dos primeiros cameraman da TV, na pioneira TV Tupi. Encostávamos, na porta de onde se realizaria o evento, um caminhão de externa, equipado com um switcher (mesa de corte) onde ficava um diretor de imagem, responsável pela escolha da imagem da câmera que iria ao ar a cada momento. Lá dentro, no anfiteatro, 4 câmeras, sendo 3 grandonas montadas em tripé e operadas pelos cameramen e uma portátil.

As grandonas se encarregavam de transmitir a palestra, com movimentos de câmera, close dos médicos à mesa, essas coisas, como acontece normalmente nos programas de TV. Já a câmera portátil ficava numa mesa onde, numa tela pequena, eram projetados, por trás, os slides (duplicados) que o médico palestrante estava projetando na telona do palco. O diretor de imagens, lá no carro de externa, punha então no ar o slide focalizado pela câmera portátil. Ou seja: quem estava assistindo, em outras praças, à transmissão, tinha a visão do slide em tela cheia. Um médico acompanhava o processo para que o slide transmitido fosse exatamente o que estava sendo projetado pelo palestrante e apontava, com um lápis de luz, para a mesma frase ou ilustração que o palestrante estava apontando, no slide, do palco.

Nos intervalos para almoço ou coffee-break, em vez de uma imagem parada de um palco vazio, os médicos de outras praças podiam acompanhar entrevistas feitas ali mesmo, ao vivo, com os palestrantes e/ou público. A câmera portátil saía então da mesa para deslocar-se junto ao repórter que conduzia as entrevistas. Os repórteres éramos eu e outros dos nossos apresentadores e nossos repórteres de rua.

Tudo isso bolado pelo gênio da economia, Mauro Caetano, que agora estava se tornando também gênio na comunicação por vídeo.

Fizemos inúmeras transmissões dessas, algumas com sede em São Paulo, outras, no Rio de Janeiro. Fomos, assim, responsáveis pela transmissão ao vivo, entre outros, do Primeiro Congresso Internacional de AIDS, em 1986, transmitido do Rio para salas em todo o país. Um sucesso absoluto!

TV e Outras Atividades - A Volta Por Cima

 

Até que, no final de 1988, tudo começou a mudar. A diretoria da TV Gazeta – propriedade de uma Fundação, a Cásper Líbero e, portanto, sujeita às flutuações políticas – caiu. E com ela, o meu irmão, Alvan. Nossos programas continuaram lá, mas tiveram grandes mudanças, de horário e de frequência.

Aconteceu uma armação dentro de um dos nossos patrocinadores, tentando “roubar” o nosso Junta Médica. Mas a perspicácia do Mauro Caetano impediu. No entanto, a relação com essa empresa nunca mais foi a mesma e, em breve, estávamos à procura de outro grande patrocinador na indústria farmacêutica.

Conseguimos, mas durou pouco. Por fim, a Gazeta nos tirou do ar. Fomos para a Record, rede então já de propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus. Pastores movidos a dinheiro. Sobrava pouco, dos nossos patrocínios, para nós. Nossa empresa teve que encolher. Foi por essa época que o nosso sócio capitalista disse ao Caetano:
-- Fechem o escritório. Vão produzir os programas de casa.

Imagine se o Mauro Caetano aceitaria uma coisa dessas, um home office, adiantado no tempo. Nunca!

Por fim, em abril de 1989, para não ver decretada a falência do nosso negócio, encerramos as atividades da produtora. Pagamos funcionários, dívidas, tudo e ficamos sem nada. A Record nos tirou do ar e foi então que quase perdemos também o apartamento aqui no Paulicéia.

Logo, um velho amigo profissional, chamou o Caetano para dirigir a Associação dos Revendedores Brahma e um médico, Dr. Knoplich, então presidente da APM, Associação Paulista de Medicina, me chamou para viabilizar comercialmente e produzir uma videoteca de reciclagem médica, para manter informados e atualizados os médicos de todo o Brasil, principalmente aqueles que não eram convidados aos grandes congressos e simpósios.

O Caetano se saiu brilhantemente dirigindo a Associação da Brahma, onde trabalharia pelos seguintes 12 anos. Eu vivia vendendo vídeos na indústria farmacêutica e fui produzir esses vídeos na produtora Hélicon, de propriedade do Pedro Paulo Hatheyer, que começara sua carreira como assistente do meu pai na empresa dele, a Vascotécnica Filmes e que, inclusive, fôra quem narrara o meu filme de nascimento. A Hélicon ganhou a licitação que fizemos na APM e, de repente, lá estava eu, trabalhando com um cineasta e ator (Pedro Paulo fizera 17 filmes na Vera Cruz, como ator, e papara alguns prêmios importantes) que fôra “cria” do pioneirismo cinematográfico do meu pai.

Mundo louco!

Voltamos a nos estabilizar financeiramente e continuamos a dar festas. Agora, que eu não era mais estrela da TV, apenas para 50 ou 60 convidados amigos, não mais 120...

O começo dos anos 1990 foram anos de grande felicidade para nós.
Mas era a primeira vez em que não passávamos 24 horas por dia juntos. Nossos trabalhos nos separavam durante o dia, o que tornava ainda melhores os nossos encontros, em casa, à noite, quando chegávamos dos nossos respectivos afazeres profissionais.

Naquela época, eu acreditava que a televisão era página virada na minha vida.

Em maio de 1994, com o Caetano na Brahma e eu amargando o final trágico da minha até então bem-sucedida Videoteca da APM (mais de 90 mil cópias das nossas aulas médicas circulando pelo Brasil) um final que, como sempre, se devera às flutuações políticas que existem nas diversas instituições, e tendo por trabalho apenas o jornal dos funcionários da EXPLO (empresa fabricante de explosivos e pertencente à ICI, indústria química britânica),meu irmão Alvan me telefona:

-- Bel, lembra daquele sujeito que dirige a rede Morada do Sol, rede de TV do estado de São Paulo, com sede em Araraquara? Oferecemos, certa ocasião, para ele o nosso Junta Médica e ele não aceitou. Lembra-se?

-- Mais ou menos – respondi.

A Rede Morada do Sol, de propriedade da família de Roberto Montoro (nada a ver com o governador, esse Montoro tinha sido diretor comercial da Rede Globo) tinha a concessão do canal 42UHF na cidade de São Paulo e o prazo para colocar o canal em funcionamento estava se esgotando. Assim, a rede (com várias emissoras no estado e fora dele) desfiliou-se da Rede Manchete (hoje Rede TV) e os Montoro acataram a ideia desse diretor, a quem Alvan se referia, Waldemar de Moraes, e criaram uma Rede Mulher de Televisão. Para mim, prato cheio! Eles tinham tido, na década de 1970, uma rádio famosa aqui em São Paulo, a Rádio Mulher, que abrigava várias estrelas do rádio e TV: Hebe, Cidinha Campos, Clarice Amaral e muitas outras.

A Rede Mulher de TV estreou em 8 de agosto de 1994 e eu estava lá, com meu programa Condição de Mulher, ao vivo, dirigido pelo meu irmão Alvan e ainda os programas Junta Médica e Med Sport.

Fiquei lá, do primeiro ao último dia. Uma das minhas mais competentes produtoras foi a filha do Bolívar, Patrícia Cavalcante. No meio do caminho ainda tive um quadro de saúde no programa Mulheres da TV Gazeta e apresentava, uma vez por semana, ao vivo, o programa de saúde num programa diário na TV Santa Catarina, comandado pelo Evê Sobral e, ainda, fazia ao vivo o programa de moda da TV Senac, semanalmente.

A Rede Mulher acabou em 2007, quando virou a Record News. Em 1999, os Montoro tinham vendido a Rede aos pastores da Igreja Universal que terminaram, 7 anos depois, optando em transformá-la em Record News, uma escolha infeliz.

Foram 12 anos de grandes aventuras, muitos programas de TV, puxadas de tapete, armações, voltas por cima, patrocínios e perdas de patrocínios... enfim!

Nesses anos todos, Caetano sempre me apoiando. Com incentivo, com ideias, com até negociação de patrocínios para mim.

Em 2000, quando muito pouca gente tinha acesso à Internet, por obra e graça de Mauro Caetano, pusemos o Portal SAÚDE&LIVROS na WEB, onde ele está até hoje, atualizado diariamente, de segunda a sábado.

Em 2002, Caetano se aposentou e saiu da Brahma, mas teve ainda outros empregos e deu várias consultorias. Tirou muita gente do buraco financeiro. Nós próprios passamos por momentos difíceis, entre um patrocinador e outro, entre um trabalho e outro, mas sempre soubemos, juntos, driblar as dificuldades.

Memoráveis Noites de Autógrafos

 

Em 2000, finalmente encontrei uma editora que topou bancar a meu primeiro livro solo, um livro de contos. De lá para cá, publiquei 20 livros e até a Pandemia, quando eu estava no título n.17, todos as noites de autógrafos desses livros foram organizadas pelo Mauro Caetano, com o mesmo brilhantismo com que ele organizava todos os eventos, fossem os Congressos Médicos, os Congressos dos Revendedores da Brahma, fossem os lançamentos dos meus livros.

Nossas noites de autógrafos – realizadas em grandes livrarias – sempre tinham música ao vivo, buffet, vinhos Salton, às vezes debates com a plateia, sempre maravilhosos! Caetano tinha o contato da Salton (que inclusive fez muitos merchandisings nos meus programas de TV) e eu tinha o apoio incondicional do Dr. Carlos Iglesias, um dos donos do restaurante Rubaiyat, que, quando era estudante de Medicina, assistia às aulas da minha videoteca da APM e virara meu fã. Ele se encarregava do buffet.

Depois que a Rede Mulher de TV acabou, trabalhei na Band, fazendo um quadro de sexo no programa do Otávio Mesquita, tive um programa de rádio na Super Rádio Tupi, chamado Sexo Sem Vergonha (nome de um dos meus livros publicados), tive meu programa diário e ao vivo, com chat, na primeira TV por Internet, a allTV, mas sempre, paralelamente, gravando e editando nossos vídeos médicos para o nosso Portal.

Mauro Caetano, (1938 Julho, 01 - 2021 Julho, 27)

 

Até hoje me impressionam as fotos de um jantar que demos, para 75 médicos com seus pares (maridos e esposas) em comemoração aos nossos 4 mil programas médicos produzidos. Foi no Rubaiyat claro, o do Carlos Iglesias (cada irmão Iglesias tocava um Rubaiyat diferente) e me dá gosto ver, nas fotos, a cara de orgulho com que o meu amor me aplaude e me fita.

Mauro Caetano sempre me deu força, orientação profissional, apoio, tudo, além de muito amor e ternura. Fazia café, quando não tínhamos empregadas residentes, e trazia pra mim na cama. Se saía para o trabalho e eu ainda dormia, deixava mil bilhetinhos carinhosos sobre a cama (Colecionei todos eles e vou mandar encaderná-los).

Aprendi com ele a ser uma pessoa organizada, eu, que sempre fôra uma bagunceira mor e hoje sou um monstro de organização.

Mauro Caetano sempre esteve ao meu lado. Suportou todas as minhas crises de TPM, de depressão, da menina mimada e voluntariosa que eu sempre fui e ainda sou.

Nenhuma mulher, sobre a face da Terra, poderia querer um companheiro melhor do que esse. Eu o amei muito e ainda o amo e o amarei para sempre.

 

Bel, 28 de Julho de 2021

 

Esse é um trecho do livro, de minha autoria e também de autoria do Caetano porque há dois capítulos escritos por ele, sobre a infância e parte da juventude que ele passou em Santo Amaro.

 

O Livro chama-se "História de um Grande Amor (e suas Aventuras na TV brasileira)"

 

Quando estava terminando essa página, me ligou o grande amigo do Caetano, consideravam-se mais que irmãos, para me dizer que, afinal, terminara de escrever o Prefácio.

 

O Prefácio só poderia mesmo ser escrito por ele: o publicitário Bolívar Victor Pessoa Cavalcante, que também aparece muitas e muitas vezes no livro.

 

Ele escreveu o prefácio ontem. Sem perceber, no começo, que estava fazendo isso no dia em que se completava um ano da morte do Caetano.

 

Heloísa, minha querida amiga e esposa do Bolívar, pegou o telefone, então, para me contar que nunca na vida vira o marido chorar. E ele chorara como criança, quanto terminou o prefácio.

 

Perder o Caetano é de chorar mesmo!

 

Então ela me disse:

-- Bel, não era pra você também chorar agora!

 

Bobagem, querida.

Eu sempre choro.