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(CJ Trinidad, 2020, Máscaras)

Pandêmicas Memórias

por Isabel Fomm de Vasconcellos

Como é possível ter passado quase um ano trancada aqui em casa? Ainda bem que sou taurina, curto a casa, e a minha -- modéstia que se dane -- é linda e confortável. Desde o dia 21 de março até hoje, 27 de novembro, só saí 4 vezes. Uma de táxi, pra ir ao dentista, afinal tinha caído o dente da frente. Outra, pra levar meu gato regular o aparelho auditivo (essa fui com o nosso carro, que logo ficou com a bateria arriada e comprei uma nova). Outra, para ir ao Paulo Jatene, meu cirurgião plástico, antes que a cara despencasse de vez. E outra, pra ir votar. E só.

No começo, o abastecimento da casa era um terror. Os supermercados aceitavam compras para dali a 10, 15 dias. Nesse tempo, o João Guilherme Lacerda e a Tânia Miura , meus vizinhos, faziam as compras para nós, uns anjos travestidos em humanos.

Depois, aos poucos, tudo foi se normalizando. O comércio em geral se estruturou para atender a demanda das compras on line e, hoje, compro tudo, mas tudo mesmo -- roupas, material de escritório, perfumaria, comidas, material de limpeza, hortifrúti, lingerie -- tudo mesmo, pela Internet.

Meus queridos médicos titulares respondem, por vídeo, às minhas perguntas, eu edito os vídeos, e assim mantemos o nosso Portal SAÚDE&LIVROS a todo vapor, levando sempre informações de saúde éticas e sérias ao nosso público. Como fazemos, aliás, há 4 décadas, pela TV aberta e pela Internet.

Nesse ano pandêmico, a Editora Soul (Christiane Donizete ) publicou dois livros de minha autoria e, infelizmente, não puderam eles ter a sua noite de autógrafos, sempre tão festejadas. Já são 17 os meus livros publicados, embora, na gaveta do computador, existam mais 7 ou 8 esperando pela oportunidade de sair à campo.

Sair à campo... eu também gostaria. Gostaria de ir ao Castelo, gostaria de ir nadar, gostaria de ir ao cabeleireiro (deixei meus cabelos sem tinta, descobri que os grisalhos são tão belos quanto as mechas que eu pagava uma nota preta pra fazer, nos salões, quando tinha 30 anos).

O fisioterapeuta (Filipe, querido) e a podóloga (Gil) do Caetano frequentam a casa, com todas as medidas de segurança. Outro dia, até o Mr. Volpi veio aqui tomar um whisky. Também o Rui , nosso mago dos computadores, esteve aqui dando um jeito na bagunça que estava o computador do Caetano.

Wania Medici , querida, esteve aqui com a filha maravilhosa, comprando meus livros e alegrando a minha tarde. Meu primo Joaquim Carlos , jantou conosco no dia em que, gentilmente, levou o Caetano ao dentista, nossos amados Francisco Pacca e Carol Braunstein .

Mas, convenhamos, para quem, como nós, dava festas homéricas e vivia recebendo amigos e mais amigos, é pouco demais... Porém, tirando o susto que levei com a internação da minha amada Dra. Angelita Gama, não perdi ninguém pra COVID_19. Dois dos meus grandes e melhores amigos, Pedro Paulo Hateyer e Leda Galotti, se foram pouco antes da chegada da Pandemia.

No entanto, me solidarizo com todos os que perderam entes queridos para essa doença maluca. Amigos de amigos e também desconhecidos. Lamento que o Brasil esteja sendo presidido por um sujeito negacionista, sem empatia (coisa típica dos psicóticos) e que, com seu péssimo exemplo, desde o começo, inspire tanta gente a viver como se pandemia não houvesse.

Há. E estamos entrando na segunda onda. Estamos com mais casos entre pessoas menores de 50 anos do que maiores. Penso nos meus médicos, meus heróis, que estão na linha de frente do combate. Paramentados, mas, ainda assim, correndo muito risco de vida.

Penso em todos aqueles que não podem simplesmente se trancar no conforto de seu lar, como eu posso.

Penso em todos os que choram, nesse oito longos meses, por seus entes queridos que se foram e dos quais nem puderem se despedir adequadamente.

Penso na inacreditável irresponsabilidade dos que vão às festas clandestinas, dos que acham que uma tarde na praia é mais importante do que a vida!

#FiqueEmCasa, se puder. Acorde para a realidade dessa pandemia absurda que o mundo nos mandou. Alguma coisa ele está nos dizendo, o mundo, sobre a devastação que temos impingido à nossa Mãe Terra!

De fato, são os animais que migram de seu habitat, expulsos, para as nossas cidades, que trazem esses vírus que jamais deveriam estar conosco. Somos nós, em nosso way of life egoísta e consumista, que estamos matando o planeta e a nós mesmos! Boa noite.

PS: tomei 32 litros de whisky durante o isolamento... haja fígado!

Isabel Fomm de Vasconcellos

7 de dezembro às 21:34  · 

Num dos meus últimos posts disse que não perdi ninguém pra Covid 19. Mas agora tenho um amigo, um grande amigo, jovem e querido, internado numa UTI e sem previsão de saída dessa situação. Estou muito triste e angustiada. Se ele se for, não será apenas a perda de um amigo querido, mas será a perda de uma grande e brilhante mente cientista. Será a perda para seus alunos e discípulos. Será a perda para a ciência e para a comunicação. Por que estranha ironia certos políticos sem empatia pegam o vírus e nada lhes acontece, enquanto gente da melhor qualidade sofre e corre real risco de vida? Vida... A vida, às vezes, é simplesmente patética!

36Stela Maris Grespan, Diva I. Jacinto e outras 34 pessoas

Eliane Di Santi Santi

Verdade. É muito difícil, triste e assustador. Temos que ter fé.

Elizabeth Krausz

Ironia mesmo Bel. Sem explicação.

Stela Maris Grespan

Isto sempre me espanta! Ver quanta “ coisa ruim” pega a doença e tira de letra! Eu tive muitos amigos que ficaram muito mal. E alguns colegas conhecidos que perderam a batalha. Quase todos mais moços do que eu! Assustador o comportamento deste vírus! Espero que teu amigo se recupere!

Isabel Fomm de Vasconcellos

Stela,  obrigada querida. Estou muito triste com isso, muito mesmo.