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Matisse, 1912, Conversa |
Entre gerações
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Estamos hoje, os da minha geração, na posição de
ponta. A maior parte de nossa vida
é quase certo que passou e, por sorte, somos partes de uma geração que
mudou sem complacências muitos dos antigos hábitos e costumes. Um deles
foi assumir a posição de não envelhecer antes do tempo. Outro dia, vi um pai/avô com seu filho e seu neto. Esse avô teria uns 70 e poucos anos, o filho seus quarenta, o neto por volta de quatorze. Os três conversavam de igual para igual em um parque: discutiam, argumentavam, riam. Cada um ouvindo o outro e sendo ouvido. Achei bonito: o retrato de um privilégio. Um privilégio que, em geral, nossa geração compartilha. Por isso pensei também que, salvo as exceções, esse foi outro feito do tempo que vivemos: tornar possível essa conversa amiga entre três gerações. |
Quando fui jovem, meus dois avôs já tinham morrido,
e com as duas avós jamais tive uma conversa de igual para igual em
momento nenhum de minha vida. Elas sempre foram “as avós” muito queridas
e tratadas com grande respeito e a devida distância. Meu pai e minha
mãe, por sua vez, foram também muito queridos pelos netos, mas não creio
que tenham tido com nenhum deles, quando adolescentes, conversas de
igual para igual. Os avós, com sua bagagem de vida, talvez ensinassem
muitas coisas, mas creio que raramente acontecia o contrário: os netos
adolescentes e jovens ensinando alguma coisa aos avós. A conversa era de
mão única, como se os velhos pudessem ensinar mas não aprender.
Hoje não é assim. Os avós – a não ser quando já bem
mais velhos – mantêm algum tipo de vida ativa,
e podem ter com os netos jovens uma relação de troca de inestimável
valor para ambos os lados. Minhas conversas com minha neta mais velha,
desde sua adolescência (ou mesmo desde quando criança, para ser sincera)
são uma troca que, tenho certeza, enriquece as duas. E em certos
momentos e sobre certos temas, sem exageros, acredito que mais a mim.
É bom também porque esse tipo de constatação pode
nos injetar certo otimismo. Muita
coisa tem melhorado nesse mundo em que vivemos. E uma delas, desse ponto
de vista, é a posição de uma geração que envelhece e que aprendeu a
conversar com os jovens.
mariajosepeixotodasilveira@gmail.com |