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A geração Nem Nem Maria José Silveira
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Nem Estuda Nem Trabalha |
A notícia do IBGE, há poucos anos,foi chocante: 9,6 milhões de jovens brasileiros de 15 a 29 anos nem estudam nem trabalham.
Desse número estarrecedor, cerca de 3, 1 milhões (32. 4%) são jovens que não terminaram o ensino fundamental; são os que estão em situação mais difícil. Outros 38.6% terminaram o ensino médio, mas não ingressaram na universidade nem foram assimilados pelo mercado de trabalho. A maioria é formada principalmente por mulheres, muitas delas com filhos. Adolescentes de baixa escolaridade que abandonaram a escola, entre outros motivos, por terem ficado grávidas.
Muitas vezes as estatísticas com seus grandes números e porcentagens podem nos parecer abstrações, mas creio que todos nós podemos ter alguma ideia do que isso representa na população do país, e para ficar mais concreto, eis outro número: 1 em cada 5 dos nossos jovens nem estuda nem trabalha.
É muito provável que você conheça alguns deles.
Mas talvez não tenha pensado bem no que isso significa: uma geração já excluída, sem saber o que fazer da vida. Embora essa multidão comporte também os que conseguirão de alguma forma dar seu passo adiante e construir outra história, esses serão exceções. E ainda que seja uma situação temporária para muitos, é estarrecedora. “Nem nem” é um nome brutal que diz muito sobre uma geração que só conta consigo mesma. Uma geração que, desde o princípio, e apesar da inegável ampliação do acesso à escola, tem poucas perspectivas de conseguir achar alguma saída.
O nosso é um país imensamente rico que, felizmente, vem passando por grandes e importantes mudanças. Mas uma notícia como essa nos faz pensar no descomunal esforço que ainda precisa ser feito para que todas as nossas crianças e jovens possam receber uma educação e uma profissão dignas desses nomes. Quando isso não acontece, as consequências são terríveis para eles, para o país, e para todos nós, e mesmo para aqueles que se acham muito distantes ou acreditam que nada têm a ver com essa realidade que grita a seu redor.
E sinto muito. Mas aí está.
Não há como fugir desses números que estão a nosso lado, fazendo parte de nosso país. É preciso que nossos políticos trabalhem com eles. Que reflitam produtivamente sobre a questão e tentem o possível e o impossível para cumprir o papel para o qual foram eleitos: construir um país melhor para todos. Não foi para isso que votamos?
(Publicado em “O Popular”) |
(Picasso, 1903, La Vie)
...as consequências são terríveis para eles, para o país, e para todos nós, e mesmo para aqueles que se acham muito distantes ou acreditam que nada têm a ver com essa realidade que grita a seu redor.
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