VOLTAR PARA A PÁGINA-SITE DA MARIA JOSÉ
 

O Gosto de Dezembro

por Maria José Silveira

 

 

Sei que muitos não gostam. Mas eu, sim, gosto de dezembro. Um mês diferente que parece existir apenas em preparação para a chegada de janeiro.  Um mês de terminar coisas. Folhear a agenda, ver o que deu certo ou não. E fechá-la. É ótima essa sensação de fechar uma agenda.

 

Gosto da agitação das ruas. Da expectativa coletiva que invade o marasmo dos outros meses. Gosto do simbolismo na vontade de um recomeço. Significa pouco ou nada esse simbolismo, bem sei. A rigor, apenas a mudança de um número. Mas, no fundo de nós mesmos, essa passagem do último dia de um ano velho para o primeiro dia de um ano tilintando de novo sempre teima em ser mais do que apenas isso. 

 

Gosto de ver caras alegres, pessoas correndo para algum encontro; pais e mães antecipando a alegria dos filhos; cozinheiros se preparando para que a ceia do último dia do ano seja um banquete, mesmo tendo apenas rabanadas e sidra na mesa.

Faço parte disso, fui criada com isso. Aprendi a gostar.

 

Dezembro também é o mês do 13º salário. Coisa boa é planejar o que fazer com ele. O que significa muito mais do que a ansiedade do consumo, da obrigação dos presentes, da falsa sensação de ser feliz por duas noites, a do Natal e a do Ano-Novo. Tudo isso existe, bem sabemos, e às vezes parece ser a cara do mês, mas dezembro não é só isso.

É mês de planejamentos. Pequenos, grandes, não importa. É o mês de abrir a página branca de uma nova agenda e fazer as primeiras anotações do próximo ano. Adoro isso. Não vivo sem uma boa agenda de mesa, fácil de manusear, e que tenha sido me dada de presente. É um momento em que me dou a grata licença de pensar que terei sorte no próximo ano, e me acontecerá, e a todos que amo, mil coisas boas. Planejadas e inesperadas. Todas elas, só coisas boas, fervilhando para acontecerem.

 

Ah, se pudesse ser assim! Só coisas boas.

Todos nós precisamos de coisas boas. E dezembro é o mês de pensar nas coisas boas que podem começar a chegar em janeiro. Um mês inteiro para pensar e preparar isso, pois é inútil imaginar que não teremos, naquela minúscula batida em que um ano deixa de existir e começa o outro, uma coisa qualquer se agitando em nós cujo nome mais conhecido e clichê, todos sabemos qual é, nua e crua. Esperança. Que tudo possa ser melhor. Que em 2014, poxa!, em 2014 as coisas acontecerão, os caminhos se abrirão, algo especial há de vir. “A última das ilusões”, já disse alguém, “é crer que as perdemos todas”.

Curtam o seu dezembro, que estou tratando de curtir o meu.

 

 

Lorenzo Costa, 1460-1535