A Gravidez e Seus Mitos do livro "Mergulho na Sombra", de Dr. Kalil Duailibi e Isabel Fomm de Vasconcellos |
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Mas a tendência da nossa sociedade, da nossa cultura, é pensar que as grávidas estão numa espécie de “estado de graça” e, ainda, que o ato de gerar uma vida é a suprema realização do sexo feminino. Esta visão fantasiosa do estado gravídico pode levar à incompreensão generalizada de tudo o que cada grávida, em particular, está vivendo durante a sua gestação. |
A nossa cultura associa a
gravidez a um período de alegre expectativa. Existe um respeito pela
mulher grávida, para quem se cede o lugar no transporte coletivo e se dá
prioridade nas filas de banco ou supermercado.
Há muitos fatores
psicossociais ligados ao aparecimento da depressão na gravidez.
Durante milênios, a maternidade era o único poder
concedido à mulher. |
A pensadora francesa
Elizabeth Badinter, em seu livro “O Mito do Amor Materno” revela o
estudo histórico que realizou e que mostra as mulheres dos séculos XVI a
XVIII, na aristocracia e nas classes sociais mais privilegiadas,
entregando seus filhos para serem criados por amas-de-leite. É dantesca
a descrição de uma carroça cheia de bebês amontoados, dirigindo-se para
alguma casa distante da cidade. As mulheres das cortes européias, nos
séculos em que predominava a monarquia, não queriam saber de filhos.
Elas estavam muito ocupadas com as intrigas da corte e com a manutenção
de sua posição social. Os filhos eram criados por terceiros, por
profissionais. Mesmo os filhos dos reis.
A proposta de Badinter é a
inexistência desse sentimento que julgamos inerente ao sexo feminino: o
amor materno ou mesmo o tal do instinto maternal.
É claro que, apesar deste
pensamento, as mulheres sadias tendem a amar os seus filhos e que as
gravidezes desejadas são períodos, embora difíceis pelas mudanças
físicas que acarretam às mulheres, de grande satisfação e expectativa.
Mas a tendência da nossa
sociedade, da nossa cultura, é pensar que as grávidas estão numa espécie
de “estado de graça” e, ainda, que o ato de gerar uma vida é a suprema
realização do sexo feminino.
Para as mulheres que
engravidam naturalmente, que têm uma família estável, um companheiro
compreensivo e plenas condições financeiras para criar o filho que
esperam, tudo parece mais fácil. Mas esta não é a situação da maioria
das mulheres. Muitas delas, envolvidas com seus estudos e com suas atividades profissionais, optam por não serem mães. Mas a pressão da sociedade, a família, o marido acabam fazendo com que ela ceda e engravide. Não se pode dizer que esta seja uma gravidez plenamente desejada. |
Mac McKay , Grávida Nua
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A turma que gosta de tapar
o sol com a peneira, costuma dizer que, mesmo quando uma mulher não quer
o filho, a natureza, como que por milagre, faz surgir nela o amor e a
aceitação do serzinho que ela está gerando... Conversa pra boi dormir.
Muitas mulheres realmente
acomodam-se à gravidez indesejada e até começam a gostar da brincadeira.
Mas, em contrapartida, muitas mais passam os nove meses com raiva e
frustração por não terem conseguido “se livrar” do problema. Isso sem
contar as que tentam todas as formas de aborto, como comprimidos
ilegais, injeções milagrosas, ervas misturadas, agulhas de tricô e podem
acabar gerando fetos com problemas.
Quase todas as mulheres de
hoje, no nosso meio, perdem o seu melhor tempo fértil, adiando a
gravidez para depois de muitas realizações de sua própria vida e, muitas
vezes, têm que se submeter a tratamentos de reprodução assistida, num
processo sempre complicado e gerador de grande ansiedade.
Cerca de 20% de todas as
grávidas são adolescentes, com idades variando de 9 a 17 anos. A
absoluta maioria delas não desejou e muito menos planejou a gravidez,
ainda que haja a versão da adolescente que, de maneira inconsciente,
desejou a gravidez para sentir-se “alguém na vida”. Esta é uma das
explicações que os estudiosos da famosa e frequente gravidez na
adolescência encontram para justificar a espantosa proporção de 20% de
jovens entre 9 e 16 anos entre as grávidas brasileiras. Outra explicação
é a do “pensamento mágico” que domina a juventude, a velha história do
comigo-não-acontece que explica a falta de prevenção desde a gravidez,
passando pelas doenças e pela direção perigosa ou sob o efeito de drogas
e álcool.
Apesar de toda a
divulgação dos métodos contraceptivos, muitas mulheres engravidam por
uso indevido dos anticoncepcionais. É um outro tipo de gravidez
indesejada.
Além de tudo isso, existem
todas aquelas dúvidas, inseguranças e fantasias tão típicas da gravidez.
O medo do parto. O medo da malformação do bebê. O medo de ser pouco
atraente aos olhos do companheiro. O medo da traição do companheiro, já
a vida sexual pode se transformar durante a gestação.
Pressões financeiras,
pouca atenção do parceiro e gravidez indesejada, principalmente em
situações de não aceitação pela família ou pelo meio social, são fatores
associados ao alto índice de depressão na gravidez.
Normalmente a grávida, aos
dois meses de gestação, tem enjôos, sonolência. Lá pela décima terceira
até a décima sexta semana o estrogênio sobe e vem a melhora do humor,
ela se sente ótima e disposta a ter muitos outros filhos. No final da
gravidez, a partir do oitavo mês, as complicações físicas podem alterar
o humor, como ocorre com qualquer limitação física.
A prevalência de depressão
em grávidas em 7,4% no primeiro trimestre de gravidez, 12,8% no segundo
e 12% no terceiro.
Depressões não tratadas em
grávidas provocam um estresse crônico que vai provocar a liberação de
determinados hormônios que resultarão num excesso
Para o tratamento da
depressão na gravidez é necessário ponderar, com o médico, os riscos que
a exposição do feto ao medicamento acarretará versus os riscos para o
feto e para a mãe no caso da depressão não tratada.
A depressão pós parto
acontece em três níveis: |
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