1a. Historieta – O Bebê
Machucado
Fazia muito frio em São Paulo naquele dia em que Clotilde resolveu levar
seu bebê ao Hospital. Ela temia pela vida dele. Estava muito machucado,
o pobrezinho, tão pequenino e indefeso. Desta vez ela percebera que seu
bebê estava numa situação de grande risco, muito, muito machucado. E se
ele morresse? Acabariam sendo responsáveis, ela e o marido. Acusados, no
mínimo de negligência em relação a um incapaz. Sim, seu bebê era
incapaz. Incapaz de se defender, de reagir... Ficou com muito medo, medo
de que ele morresse, medo de ser presa... Por isso foi a um orelhão e
chamou o SAMU. Os socorristas a levaram e ao bebê ao hospital mais
próximo de sua casa. Morava no Bixiga.
Deram entrada no PS do Hospital das Clínicas às 13h00. Se bebê foi
rapidamente levado aos médicos, era um caso urgente. Mas ela ficou lá,
sentada nos bancos, a espera de que a chamassem.
-- Minha senhora – disse o médico que finalmente a chamara às 17h00 --
essa criança apresenta todos os sinais de que foi agredida. Tem fraturas
múltiplas que apontam claramente para um caso grave de agressão.
-- Mas, doutor – tentou argumentar ela – como eu já expliquei, ele caiu
do berço...
-- Já cuidamos dele e agora ele está nas mãos da enfermagem. A senhora
espere aqui fora que alguém virá conversar.
Muito tempo esperou. Até que uma assistente social veio conversar com
ela:
-- Mãezinha, o seu bebê não caiu do berço, não é? Nenhuma criança
estaria assim tão machucada se tivesse apenas caído do berço. Você não
quer me contar o que houve? É para a própria proteção de seu filho...
A danada da moça tinha uns olhos tão meigos e uma voz aveludada,
inspirava tanta confiança que Clotilde começou a chorar. E a história
veio aos borbotões. O marido, era ele! Bebia muito. Era trabalhador, mas
saía do trabalho direto pro bar. Chegava sempre bêbado e, se alguma
coisa o desagradava, às vezes tinha ataques de fúria. Batia nela e,
agora, dera pra implicar com o choro do bebê. A moça tinha que entender,
Clotilde gostava dele. Bebia, mas não deixava falta nada em casa. Agora
que estava terminando a licença-maternidade dela, ele tinha até
conseguido uma vaga numa creche – coisa difícil, né? –mas fôra o
vereador do bairro quem conseguira para eles. Mas o choro do bebê o
deixava furioso. Ela tentava acalmar o pequeno, acarinhava ele, mas o
diabo do marido fazia com que o bebê se assustasse, aos berros dele, e
então o choro era ainda mais forte.
E Agora?
Quem Vai Cuidar do Meu
Filho?
por Vera Krauz e
Isabel Fomm de
Vasconcellos Caetano
Em 1993, Vera Krausz estava grávida
de seu filho, Vinícius. Psicóloga e enfermeira pela USP, Vera tinha uma
vida profissional intensa. Foi visitar escolinhas e creches,para saber
quem cuidaria de seu filho quando sua licença-maternidade expirasse.
Ficou
decepcionada por não encontrar, nessas instituições, gente preparada
para a tarefa de se responsabilizar por crianças de 0 a 6 anos.
Por
isso, decidiu criar um curso para babás, baby sitter e auxiliares de
creche. Um curso que realmente capacitasse profissionais para essa
tarefa.
E foi
muito bem sucedida! O curso da Vera já formou cerca de 7 mil
profissionais, nos últimos 30 anos. Ficou 15, na Cruz Vermelha de São
Paulo e, depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro.
Hoje,
está disponível virtualmente inclusive.
Esse
livro conta a história dessa bem-sucedida iniciativa, com muita emoção e
sentimento.