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(Gustav Klimt, 1907, Girassois)

 

 

(Plantinhas cultivadas na minha casa)

 

 

 

 

Por que se tornar Jardineira?

As Irmãs da Flora

por Isabel Fomm de Vasconcellos


Dizem – mas não provam – que as mulheres da sociedade celta viviam em plena igualdade social com os homens. Elas eram sacerdotisas, políticas, ou qualquer outra coisa que o homem poderia ser.

 

Os cristãos classificaram os celtas como um povo bárbaro, destruíram sua sociedade, dominaram suas cidades, apoderaram-se de suas festas populares e as transformaram em festas cristãs (os dois exemplos mais fortes disso são o Halloween – dia de todos os santos e de finados – e as festas juninas). Como isso, para a faminta igreja católica, ainda era pouco, passaram 6 séculos queimando as magas e os druidas celtas nas fogueiras da inquisição, onde também foram queimados, como hereges, pensadores, cientistas, filósofos e qualquer um que, por ter revelado uma verdade científica ou qualquer ideia que contrariasse os dogmas da igreja, representasse uma ameaça ao poder do clero. E o clero era – e é, até hoje – machista.

A sabedoria das mulheres celtas, porém, não se perdeu nas cinzas das fogueiras da inquisição. A tradição oral tratou de manter vivos muitos dos conhecimentos das bruxas e, dentro de cada uma de nós, em nosso inconsciente coletivo ou até (quem sabe?) em nossa memória genética, vive um bruxa poderosa e iluminada que, com seus dons intuitivos e seus saberes para além do saber científico, racional e masculino, desafia a aparente lógica da vida.

Uma das grandes habilidades das magas celtas era o trato com as plantas. A figura da bruxa que passou para a história tem até hoje o caldeirão. Pois era lá mesmo, no caldeirão, que elas preparavam centenas de medicamentos à base de ervas e outras plantinhas. Assim como hoje o fazem os pesquisadores de remédios fitoterápicos nos laboratórios de pesquisa das mais conceituadas universidades do planeta.

Talvez por isso tantas mulheres, já sobrecarregadas com sua dupla jornada de trabalho, apesar de matarem os leões do mundo coorporativo, criarem os filhos – com todos os problemas e dificuldades que isso acarreta --, carregarem nas costas a casa, o lar, ainda encontram tempo para a jardinagem.

Às vezes, em dias muito claros e quando o trabalho me permite, olho de binóculo pela minha Janela da Paulista e, no meio da selva de concreto da cidade, encontro inúmeros pontos verdes. Alguns grandes, como parques e bairros arborizados, outros pequenos, como coberturas de prédio com hortas e jardins e terraços e sacadas lotados de plantas.

São elas – imagino! São as herdeiras das bruxas celtas com sua vocação para o cuidado das plantas e aquele famoso dedo verde.

São elas, as que sabem que uma plantinha prefere música clássica a rock-and-roll, que percebem com imensa clareza, que plantas são seres vivos, sensíveis como qualquer um de nós.

São elas, as que conversam com as plantas e que pedem licença a estas quando vão podá-las, transplantá-las ou tirar-lhes uma simples muda.

A serenidade e alegria proporcionadas pelo delicado cuidado com as plantas é tão eficiente para a tristeza ou o stress como qualquer antidepressivo.

Mas, ainda assim, subindo e descendo as escadas do meu prédio, para me exercitar, passando pelas lixeiras de outros andares, ainda encontro plantas horrorosas, tristes, mal cuidadas, com pragas, sem viço... jogadas fora! Eu as recolho e cuido delas até que elas me revelem todo o seu verdadeiro esplendor. As floríferas (geralmente jogadas fora apenas porque, quando a floração acaba, não servem mais como objeto de decoração) reflorescem, com os cuidados corretos. As folhagens ganham viço e revivem.

É algo tão gratificante, faz tão bem para a nossa alma e para o nosso coração, ver esse milagre do reviver, do reflorescer, do rebrilhar... Só mesmo quem vive isso é que sabe.

Cada vez mais, as ocupadas mulheres do século XXI revivem, através da jardinagem amadora, a magia de suas avós bruxas. Cada vez mais ajudam o mundo a voltar a ser verde.

Essas são as irmãs da flora.

Se você não é – ainda – uma delas, experimente. Você será uma mulher calma, feliz e, portanto, mais bela.

Publicado no Portal Allice.me