Dizem – mas não provam – que as mulheres da sociedade celta viviam em
plena igualdade social com os homens. Elas eram sacerdotisas, políticas,
ou qualquer outra coisa que o homem poderia ser.
Os
cristãos classificaram os celtas como um povo bárbaro, destruíram sua
sociedade, dominaram suas cidades, apoderaram-se de suas festas
populares e as transformaram em festas cristãs (os dois exemplos mais
fortes disso são o Halloween – dia de todos os santos e de finados – e
as festas juninas). Como isso, para a faminta igreja católica, ainda era
pouco, passaram 6 séculos queimando as magas e os druidas celtas nas
fogueiras da inquisição, onde também foram queimados, como hereges,
pensadores, cientistas, filósofos e qualquer um que, por ter revelado
uma verdade científica ou qualquer ideia que contrariasse os dogmas da
igreja, representasse uma ameaça ao poder do clero. E o clero era – e é,
até hoje – machista.
A sabedoria das mulheres celtas, porém, não se perdeu nas cinzas das
fogueiras da inquisição. A tradição oral tratou de manter vivos muitos
dos conhecimentos das bruxas e, dentro de cada uma de nós, em nosso
inconsciente coletivo ou até (quem sabe?) em nossa memória genética,
vive um bruxa poderosa e iluminada que, com seus dons intuitivos e seus
saberes para além do saber científico, racional e masculino, desafia a
aparente lógica da vida.
Uma das grandes habilidades das magas celtas era o trato com as plantas.
A figura da bruxa que passou para a história tem até hoje o caldeirão.
Pois era lá mesmo, no caldeirão, que elas preparavam centenas de
medicamentos à base de ervas e outras plantinhas. Assim como hoje o
fazem os pesquisadores de remédios fitoterápicos nos laboratórios de
pesquisa das mais conceituadas universidades do planeta.
Talvez por isso tantas mulheres, já sobrecarregadas com sua dupla
jornada de trabalho, apesar de matarem os leões do mundo coorporativo,
criarem os filhos – com todos os problemas e dificuldades que isso
acarreta --, carregarem nas costas a casa, o lar, ainda encontram tempo
para a jardinagem.
Às vezes, em dias muito claros e quando o trabalho me permite, olho de
binóculo pela minha Janela da Paulista e, no meio da selva de concreto
da cidade, encontro inúmeros pontos verdes. Alguns grandes, como parques
e bairros arborizados, outros pequenos, como coberturas de prédio com
hortas e jardins e terraços e sacadas lotados de plantas.
São elas – imagino! São as herdeiras das bruxas celtas com sua vocação
para o cuidado das plantas e aquele famoso dedo verde.
São elas, as que sabem que uma plantinha prefere música clássica a
rock-and-roll, que percebem com imensa clareza, que plantas são seres
vivos, sensíveis como qualquer um de nós.
São elas, as que conversam com as plantas e que pedem licença a estas
quando vão podá-las, transplantá-las ou tirar-lhes uma simples muda.
A serenidade e alegria proporcionadas pelo delicado cuidado com as
plantas é tão eficiente para a tristeza ou o stress como qualquer
antidepressivo.
Mas, ainda assim, subindo e descendo as escadas do meu prédio, para me
exercitar, passando pelas lixeiras de outros andares, ainda encontro
plantas horrorosas, tristes, mal cuidadas, com pragas, sem viço...
jogadas fora! Eu as recolho e cuido delas até que elas me revelem todo o
seu verdadeiro esplendor. As floríferas (geralmente jogadas fora apenas
porque, quando a floração acaba, não servem mais como objeto de
decoração) reflorescem, com os cuidados corretos. As folhagens ganham
viço e revivem.
É algo tão gratificante, faz tão bem para a nossa alma e para o nosso
coração, ver esse milagre do reviver, do reflorescer, do rebrilhar... Só
mesmo quem vive isso é que sabe.
Cada vez mais, as ocupadas mulheres do século XXI revivem, através da
jardinagem amadora, a magia de suas avós bruxas. Cada vez mais ajudam o
mundo a voltar a ser verde.
Essas são as irmãs da flora.
Se você não é – ainda – uma delas, experimente. Você será uma mulher
calma, feliz e, portanto, mais bela.
Publicado no Portal Allice.me
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