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(Michelângelo, Adão e Eva Expulsos do Paraíso - teto da capela Cistina)

 

Entretanto, para alguns, é vergonhoso sobreviver ao fim da paixão, emergindo uma necessidade de sofrimento.

Da Paixão e da Morte...

(trecho do livro Da Paixão: sobre um fenômeno humano)

por Francisco Assumpção

 


Antes de qualquer coisa, o importante é lembrarmos que não há possibilidade de se nascer para o mundo real a não ser pecando (Carotenuto, 2004). Isso porque o amor se opõe aos interesses da cultura enquanto esta ameaça o amor com as limitações que lhe impõe (Freud, 2010).

 

Somente ultrapassando as interdições, a partir do próprio conhecimento, é que se inicia a própria vida.

 

 

Essa transgressão, conforme já falamos anteriormente, se dá em função de uma fidelidade mais intensa e profunda de si mesmo. Uma das maiores dificuldades que se encontra numa paixão é a diferença na intensidade entre os dois apaixonados, pois um dos amantes pode ter essa intensidade minimizada ao ter, somente, se sentido atraído pelo outro (e isso pode ser mero impulso sexual) ou se pelas interdições se envolve menos na relação apaixonada.

 

Originam-se, então, frustrações e mal-entendidos que levam ao sofrimento, à insatisfação e a comportamentos obsessivos. Assim, o estado de Apaixonamento traz, enquanto preço a ser pago, ideias de rejeição e separação frequentes e, consequentemente, a dor de não ser correspondido.

 

É algo, inicialmente belo e, ao mesmo tempo, terrível, uma vez que pode ferir mortalmente os envolvidos.

 

Nos nossos personagens o fenômeno não poderia ser diferente.

- Pensei em você todo o dia! Ouvi as músicas que você me deu e me emocionei. Você sabe como eu sou. Me emociono à toa. - Realmente não sabia. Nem imaginava! Eu já fui muito assim. Hoje sou muito pouco, e poucas são as coisas que me tocam.

 

Entretanto, esse fenômeno da paixão amorosa pode evoluir de maneiras diferentes. Quando as emoções chegam no auge, elas podem oscilar na direção oposta levando à lassidão, à desconfiança e ao desapontamento. O "enchantment" dá lugar ao "desenchantment". Isso porque essa vivência depende de se conseguir tornar consciente, na própria história pessoal, os códigos, sinais e conteúdos latentes que ajudam na compreensão significativa dos acontecimentos (Ca-rotenuto, 2004).

 

Estabelece-se, então, o desfecho (ou a morte) dessa paixão. É sempre um final marcante acompanhado de imensa força afetiva, uma vez que termina um ciclo que permitirá (ou não) o início de outro. A desilusão do final permite que se avalie o vivido e se compreenda (ou não) o que ele encerra e as possibilidades que abre.
 

Entretanto, para alguns, é vergonhoso sobreviver ao fim da paixão, emergindo uma necessidade de sofrimento para que se autentique o vivido e se tenha a certeza da importância daquilo que termina (Pompeia,2013). Isso danifica a própria vida.