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Tratamentos de Câncer e Fertilidade da Mulher

por Dr. Artur Dzik

 

Pode-se pensar que o câncer é uma doença da idade mais avançada. Mas esta é uma ideia falsa. Todos os estudos realizados nessa década, com mulheres, mostram um grande incidência da doença em pacientes entre 15 e 39 anos. É também verdade que a incidência de todos os tipos de câncer na população feminina é maior depois dos 35 anos. Felizmente, as modernas terapias garantem a sobrevida da maior parte das pacientes. A divulgação pela mídia das medidas preventivas e da necessidade da detecção precoce, a melhoria da qualidade dos exames diagnósticos, tudo isso faz com que o tratamento seja ainda mais eficaz, pois ele é geralmente aplicado já no começo da doença, o que garante uma chance melhor de controle e consequente sobrevivência da paciente.

O que é pouco divulgado, no entanto, é um dos mais perversos efeitos colaterais do tratamento: a infertilidade.

Da mesma maneira que os medicamentos e terapias podem afastar o risco de morte e garantir uma melhor qualidade de vida às pacientes, o preço a pagar é o sacrifício de sua capacidade de gerar. E este é um preço alto demais principalmente para aquelas mulheres onde a vocação para a maternidade se manifesta de maneira mais forte.

Como nos nossos tempos modernos as mulheres adiam cada vez mais a chegada do primeiro filho, os dados citados no nosso primeiro parágrafo assumem um caráter ainda mais grave. Imagine, por exemplo, aquela mulher que planejou sua primeira gestação para a fase de sua vida em que estivesse mais tranquila financeira e profissionalmente, para o momento em que tivesse concluído toda a sua formação acadêmica e, de repente, se descobre vítima de um câncer. Mesmo que as perspectivas de controle da doença sejam boas, o sacrifício da capacidade de gerar pode ser ainda mais impactante do que a própria descoberta da presença de um câncer.

Ainda que essa infertilidade possa não ser permanente, em alguns casos, não há como se prever. Por isso é muito importante que se criem estratégias para a preservação da fertilidade das mulheres submetidas ao tratamento do câncer.

Fatores como idade da mulher, tipo de tratamento e dosagem e o prognóstico individual da doença devem ser levados em conta para se avaliar o risco da falência ovariana (ou menopausa precoce) nos tratamentos quimioterápicos. O risco, com determinados medicamentos pode ser muito grande, com outros, moderado e com outros ainda, baixo. Mas ele está sempre presente.

Para o médico oncologista a prioridade é a recuperação da saúde e da qualidade de vida da sua paciente. Embora a maioria deles discuta esse risco com elas, poucas opções são apresentadas a essas mulheres, o que faz com que o câncer acabe significando, na visão de muitas delas, uma dupla condenação: ao sofrimento (ainda que passageiro) do tratamento e à infertilidade. O prejuízo emocional é de fato enorme.

No entanto é possível preservar a fertilidade desde que se faça isso antes de se iniciar o tratamento e é importante que as mulheres conheçam suas opções para tal.  Dependendo do grau de risco e da situação de cada paciente pode-se usar a proteção medicamentosa ou o congelamento de óvulos, de tecido ovariano ou mesmo de embriões. As técnicas da reprodução assistida podem estimular a ovulação com segurança através de medicamentos e assim colher os óvulos para fazer a criopreservação. Como já foi dito, o procedimento eleito para a preservação da fertilidade em mulheres com câncer depende de fatores que o médico analisará. O mais importante, porém, é que as pacientes tenham consciência de que podem fazer seus tratamentos sem comprometer muito a sua fertilidade.

 

Artemisia Gentiglieshi, 1609, Madonna com menino

 

 

Fatores como idade da mulher, tipo de tratamento e dosagem e o prognóstico individual da doença devem ser levados em conta para se avaliar o risco da falência ovariana (ou menopausa precoce) nos tratamentos quimioterápicos.