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Ecologia Íntima das Mulheres

por Profa. Dra. Albertina Duarte

 Frank Benson, 1910, A Leitora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os maiores contribuidores do desequilíbrio ginecológico e das infecções, talvez sejam os sabonetes, os banhos de espuma, os talcos e os produtos de higiene íntima.

 

Ecologia, você sabe, estuda a relação entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, com todas suas influências recíprocas. Pois bem, há muito de equilíbrio ecológico em nossa vagina. Nas condições normais, ela hospeda uma grande variedade de microrganismos, incluindo alguns perigosos, como o Staphylococcus (que provoca desde abscessos em regiões próximas, até a síndrome do choque tóxico, que é uma contaminação bacteriana aguda no sangue) ou a Escherichia colli (normal no intestino, mas responsável por infecções do trato urinário) ou o Trichomonas vaginalis (o causador da tricomoníase).

Ora — e aqui entra o equilíbrio ecológico —, para neutralizar os “bichinhos” mal intencionados, vivem na vagina os Bacilos de Dõderlein, verdadeiros soldados defensores da saúde local. O ecossistema funciona assim: os bacilos benéficos mantêm a vagina levemente ácida, com pH em torno de 4,5 ou abaixo (numa escala de 0 a 14, em que 7 é neutro). Com isso, conseguem dominar os maléficos, que precisam, para propagar-se, de um pH superior a 5 ou mais (alcalino portanto).

Na verdade, se não tivéssemos os lactobacilos, a vagina seria sempre um meio doce, alcalino, perfeito para numerosas infecções — bactérias, fungos e protozoários adoram açúcar.

Os maiores contribuidores do desequilíbrio ginecológico e das infecções, talvez sejam os sabonetes, os banhos de espuma, os talcos e os produtos de higiene íntima. O ciclo menstrual e a gravidez, a própria vida sexual, tudo isso pode interferir na imunidade. Mas quem adora baixar a imunidade e aumentar a alcalinidade da vagina – abrindo as portas para todo o tipo de infecção – são o estresse, a ansiedade e a falta de sono.

A mulher sexualmente ativa precisa estar sempre atenta aos corrimentos. “Qualquer um [corrimento], independentemente da cor, pode indicar um processo infeccioso”, previne o prof. dr. Álvaro Bastos.

E bom relembrar que a vagina tem, normalmente, uma pequena secreção, quase imperceptível: o muco cervical. Inodoro, incolor, ou branco turvo, ele deixa a região úmida, protegendo-a contra infecções. Quando, contudo, o muco se torna perceptível, com ou sem odor desagradável, acompanhado de coceira, queimação ou inchaço, trata-se de um corrimento.

Existem quatro situações em que o aumento de secreção não caracteriza doenças:

•        pouco antes da menstruação;

•        excitação durante a relação sexual;

•        perto do 14° dia do ciclo, devido à ovulação, quando o muco Se toma gelatinoso, lembrando a clara de ovo; e

•        depois do parto; nessa circunstância, logo no começo é a secreção é avermelhada, em seguida, amarela, cinzenta e por fim esbranquiçada.

A maior parte dos corrimentos é causada por germes e sua coloração ajuda o médico no diagnóstico. Anote:

•        Branco-leitoso: indica uma candidíase. E acompanhado de coceira.

•        Branco-cinzento: trata-se em geral de uma infecção pela bactéria Hemophilos vaginalis.

•        Amarelado: talvez seja provocado por tricomoníase; tem cheiro ruim, provoca grande coceira e queimação.

•        Esverdeado: sugere gonorreia.

Para confirmar o diagnóstico, são imprescindíveis exames laboratoriais, pois existem corrimentos mistos de monília e triconomas, por exemplo; e os originados por germes que também causam infecções em outras partes do organismo, como Estreptococos e Escherichia colli.

O tratamento para os corrimentos costuma incluir poma- das locais, remédios por via oral e, às vezes, cauterização. Seu parceiro também precisa medicar-se, dependendo da infecção. Outros cuidados muito importantes:

•        Higiene íntima diária: lave apenas os genitais externos com água e sabão neutro. Talvez o médico indique os banhos de assento com água e sal. Ajuda, como já disse, a prevenir infecções genitais;

•        Use calcinha de algodão: se as suas forem de náilon, precisam ter o forro de algodão. O fio sintético não deixa a região respirar, aumentando a umidade favorável à proliferação de germes;

•        Não retenha a urina: vá ao banheiro assim que sentir necessidade. O hábito de “segurar” favorece as infecções urinárias, piorando o quadro que gerou o corrimento;

•        Limpeza da área genital: use sempre dois papéis separados, um para a urina, outro para as fezes. Depois, passe na região um terceiro papel umedecido com água. O ideal no entanto, quando possível, claro, é lavar a região genital depois de evacuar, porque algum material pode ficar nos pelos e contaminar a vagina; e

•        Evite comer doces, massas e beber álcool: como sempre digo, o açúcar altera a acidez vaginal, o que favorece o desenvolvimento de vários microrganismos nocivos.