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Bouguereau, 1900, The Young Brother

Adolescente e Grávida...

E agora?

 

por Dra. Albertina Duarte.

 

Estou grávida”, você repete para poder acreditar. Mas é difícil de início, quando pouco ou nada mudou em seu corpo, externamente. O exame está lá, confirmando o fato que determinará uma profunda mudança em sua vida. Psicologicamente, não é sempre que o exame positivo deixa você alegre.

 

As adolescentes engravidam porque estão loucamente apaixonadas.

É uma explosão cercada de sonhos e fantasias. Elas passam a ser promiscuas se forem discriminadas, culpadas e acusadas pela família, porque acabam acreditando que se “perderam”.
É preciso vencer os preconceitos; é preciso entender que o adolescente vive uma fase de experimentações; que será necessário acreditar que a sua, a minha, a nossa adolescente pode ter uma atividade sexual e é nossa tarefa entender não o episódio em si, mas todo o processo da adolescência.
Não podemos enterrar a cabeça como o avestruz, mas devemos ter presente que a sexualidade faz parte da vida e que a adolescente tem necessidade de receber orientação e roupagens para não se sentir desamparada e nua diante da possibilidade de iniciar a atividade sexual.
É triste que os adolescentes sejam considerados grupo de risco na questão da gravidez não planejada, das doenças sexualmente transmissíveis, da violência e da AIDS, quando deveriam estar despertando cuidados principalmente quanto a questões relativas ao seu crescimento e desenvolvimento, sua formação escolar e profissional, suas dúvidas em relação à sexualidade, por exemplo.
 

Precisamos de uma educação que discuta as origens dos preconceitos e a necessidade de se pôr fim a todo tipo de discriminação; que incentive a autoestima, não a autoestima do individualismo (“Eu sou o máximo”) e sim a autoestima solidária (“Vamos juntos nessa"), com a família, os amigos, os companheiros, a comunidade; ao dar as mãos num enfoque novo de não agressão, de não competição, de não violência, mas de amizade e fraternidade.

 

Refletir sobre as ações educativas é a exigência número um.
A sociedade não pode fechar os olhos para um problema que vem aumentando em quase todos os países do mundo: a gravidez na adolescência.
O assumir o bebê, o aborto e a adoção acontecem quase sempre desprovidos de fatores de proteção e têm significados variados nas diferentes classes sociais.
 

Nas populações menos favorecidas, a gravidez muitas vezes é encarada como uma predestinação, e a adolescente a aceita como uma fatalidade: “Minha mãe casou grávida com a minha idade. “Mais cedo ou mais tarde, isso ia acontecer
O aborto, na maioria dos casos, está longe da realidade dessa adolescente, que não tem dinheiro e teria de recorrer à curiosa do bairro que, de imediato, identificaria que ela “de-menor*' e não se atreveria a correr riscos com uma grávida já no quarto ou quinto mês, pois isso poderia comprometer sua reputação.
Outras vezes, a simplicidade do discurso: “Ela deve ter o nenê, porque tem sempre alguém que quer”, “Minha mãe não quer, ela vai dar”, toma-se um problema complexo, pois ninguém dá uma criança sorrindo; só uma situação de extrema dificuldade, de pressão, de necessidade de sobrevivência, faz com que a adolescente tome essa atitude. Ela não é mãe de aluguel, por isso o arrependimento vai acompanhá-la; passa a imaginar “como ele é”, “como seria viver com ele'\ “que andariam pelas ruas de mãos dadas” \ brinca com um ser irreal que ama, que é bonito, que cresce e não se machuca, que não fica doente, que não chora de noite, que não dá trabalho.
É difícil mensurar como se sente a adolescente que se vê na contingência de dar seu filho, a única coisa verdadeiramente sua.
 

Nas classes média e alta, os riscos sociais da gravidez serão diferentes, pois a adolescente estará amparada por melhores condições econômicas, mas não deixará de ser cobrada e submetida a um forte esquema de pressão, comparável a uma dívida externa que deve ser paga com altos juros e talvez nunca resgatada, caso insista em assumir a criança.
O casamento obrigatório é o caminho mais rápido para ocultar o pesadelo que ameaça os códigos de honra, o que poderá se constituir num descaminho, gerando novos conflitos e separação. Daí então será discriminada por ser mãe, adolescente, separada.
O aborto entre essas adolescentes quase sempre é decidido pelos pais ou namorados.
Estes já se informaram sobre todas as possibilidades e os melhores lugares. Poucas vezes a adolescente tem oportunidade de dizer o que pensa; o grande argumento são os riscos que uma gravidez precoce poderá acarretar, enquanto que os riscos de um aborto não são considerados.
Após o aborto é comum o adolescente perder espaço namorado e a família nunca mais locar no assunto.
É também comum vivenciar sozinha essa experiência, suas sequelas e o sentimento de culpa não resolvido: “Como podia aguentar a gravidez sozinha?" “Eu fui fraca, por isso abortei “. Eu fui obrigada “Hoje eu seria mais forte se tivesse meu filho.” Estas são manifestações comuns da síndrome do arrependimento tardio aos 28, 35, quarenta anos. Mesmo que a adolescente tenha optado por abortar, ela se esquecerá de que tomou a decisão e se questionará.
A adoção nas classes média e alta assume características próprias; são comuns os casos de mães que tomam como sua a responsabilidade de cuidar da criança, para que a filha não interrompa suas atividades na escola, no balé, no inglês, devendo seguir em frente como se nada houvesse de novo. Como fica a cabeça dessa adolescente, como pode conviver com o filho-irmão são questões a serem resolvidas, pois com certeza ela estará dividida e confusa no convívio diário.
 

O aborto e a adoção, em qualquer situação, devem passar pela legalização psicológica, o que é muito difícil para a mulher e incomensuravelmente mais difícil nos casos das adolescentes, que têm dificuldades de aceitar a realidade do mundo adulto e de lidar com o luto dos sonhos desfeitos.
 

Entendemos que a única forma de se evitar essas situações dramáticas, que põem em risco as expectativas de futuro dos adolescentes, é a prevenção, e a prevenção se faz com garantias sociais; garantias no atendimento integral à saúde dos adolescentes; garantias no acesso a uma educação integral que possa entender os aspectos da adolescência normal e oferecer o espaço para o adolescente colocar para fora seus problemas e suas dúvidas, incentivar o amor pelo conhecimento e pelos livros; garantias de acesso à cultura e ao esporte, como forma de incentivar o seu potencial criador; garantias no processo de formação profissional, de acordo com a vocação; garantias de direitos iguais entre homens e mulheres. Enfim, garantias de falar, ouvir e ser entendido.

 

 

 

 

Parece que várias mulheres, passado o impacto do resultado do exame, angustiam-se e têm medo de relatar este fato até mesmo ao médico. Saiba que você está vivendo um mundo novo de sensações diferentes. Do mesmo modo que a natureza tem um tempo de maturação do óvulo até que ele esteja pronto para partir ao encontro dos espermatozoides, a mulher também precisa psicologicamente de um certo tempo para entender que vai ser mãe. São muitas emoções que vão, ao mesmo tempo, do medo à euforia, da sensação de onipotência à extrema humildade de se achar impotente para criar uma criança nos dias atuais.
Talvez por isso a gravidez se componha de longos nove meses até que, afinal, seja inevitável acreditar nela. Nesse tempo é possível ir assimilando e integrando todas as emoções e sensações da maternidade.
 

Não é somente de emoções, porém, que se faz uma gravidez.

Todo o mecanismo glandular da mulher se altera, apresentando sintomas que variam conforme o organismo. Fisicamente você pode não sentir nada. Ou, por outro lado, talvez paralelamente às emoções de ser mãe, você tenha que viver episódios menos enleantes, como náuseas, vômitos, má digestão — o esvaziamento do estômago é mais lento, pois sua movimentação é menor, e pode haver sonolência e alterações circulatórias —, porque há uma diminuição da pressão arterial e algumas crises de taquicardia (palpitações). Tem mais: a grávida urina mais vezes, porque seu útero pressiona a bexiga e, também, porque há alteração no ritmo dos rins. Podem ocorrer ainda dores nas costas e pressão na região pélvica. O corpo começa a reter líquidos para acionar o processo de embebição gravídica. Trata-se de certa frouxidão nos ligamentos e nos tendões, que aumentam o relaxamento do corpo para que possa ser aberto o espaço, dentro do esqueleto, que irá acomodar o bebê.
Quanto às transformações visíveis, já no início da gravidez a barriga cresce um pouco. Há aumento do útero e alterações hormonais que mexem com as formas do corpo da mulher, especialmente quadris e cintura. Também as mamas se modificam tornando-se maiores e mais sensíveis, a mesma sensibilidade que caracteriza o período pré- menstrual. Você vai sentir-se mais pesada, com um jeito de andar diferente. Todas essas transformações, porém, serão bem aceitas se você estiver preparada para viver o processo da gestação. Poderá até se achar mais forte e mais bem disposta, capaz de realizar maravilhas. Muitas grávidas são tomadas por um sentimento de plenitude por poderem abrigar outro ser. Nenhuma dessas mudanças devem preocupá-la nem precisam ser encaradas como doença.
 

QUANDO O MÉDICO ENTRA EM CENA
Se todos esses sintomas, relatados no tópico anterior, acontecerem conjuntamente, é quase certo que você esteja grávida. É claro que o indicador clássico do atraso menstruai é o mais importante. Mas sozinho ele não significa gravidez. Existem vários tipos de distúrbios hormonais e emocionais que podem mexer com a regularidade de seu ciclo. A melhor ideia é fazer um exame de laboratório (urina ou sangue), conforme seu médico aconselhar. Quando o atraso é pequeno (de 1 a 5 dias), o mais indicado é o exame de sangue, sem a exigência do jejum. Atrasos maiores permitem um exame mais simples, de urina (a primeira, colhida pela manhã).
 

Confirmada a gravidez, o ideal é visitar o médico a cada 30 dias até o sexto mês, no sétimo mês a frequência deve aumentar (a cada 15 dias) e, a partir do oitavo mês, semanalmente. É importante que a primeira visita seja antes do segundo mês de atraso para que, desde logo, você comece a se prevenir contra os problemas e a dividir temores. A rotina das consultas inclui, antes de tudo, uma avaliação profunda da relação da mulher com sua gravidez, suas perspectivas diante da família que breve terá, seus laços com o parceiro e sua ligação com o próprio médico. Ser escutada e entendida é fundamental e pode evitar vários tipos de problemas que têm sua origem nesse começo de gestação. E rotina, ainda, uma verificação clínica geral, o exame das mamas, do abdômen e a escuta do batimento cardíaco do feto. Este, já perceptível a partir do segundo ou terceiro mês — deve ser ritmado, rápido, e se manter até o fim dos nove meses em cerca de 140 batimentos por minuto —, é captado por meio do aparelho sonar.
O médico verificará também o tamanho do útero. Entenda como: a gravidez dura 40 semanas (a partir do primeiro dia da última menstruação). A barriga cresce centímetro por semana (medida tirada do púbis até o fundo do útero). No oitavo mês, portanto, esta medida está entre 33 e 34 centímetros. A partir daí, passa a aumentar 0,5 centímetro por semana. E veja bem: esse não é o tamanho do bebê, como muitas mulheres acreditam, mas o tamanho do útero.
 

Além do exame externo da barriga, o médico pode ainda realizar o exame interno. Pelo toque, verifica o útero — que deve estar amolecido —, seu crescimento e eventuais modificações. Assim pode identificar qualquer processo inflamatório ou infestação microbiana que mereça tratamento. Se necessário, colhe material, envia ao laboratório. A incidência de micoses vaginais é grande em grávidas. A gravidez altera a acidez vaginal, o que abre caminho para infecções, principalmente a monilíase, que, como já disse, provoca coceiras ao Urinar e irritação local. Mas o tratamento à base de cremes e óvulos não atinge o bebê. Em alguns casos, a cura total ficará adiada para depois do parto.
 

A GARANTIA DE UM BOM PRÉ-NATAL
Sua primeira consulta grávida é histórica. Mesmo que o médico já seja seu ginecologista, o relacionamento vai mudar muito. Ele pode ter uma atitude diferente, porque você espera um filho, passando a praticar seus conceitos sobre gravidez. A sintonia deste contato é fundamental e pode determinar sua tranquilidade. Você tem de sentir-se totalmente à vontade para tirar todas as dúvidas, mesmo as “superficiais”. Não aceite somente a resposta: “Tudo está normal”. Exija o “tudo” bem explicadinho, bem traduzido.
Afinal, as novidades são tantas que pode bater uma certa insegurança. Não tanto pelo ritmo das mudanças, mas principalmente pelos infinitos palpites que vão aparecer. Em geral, são mesmo as próprias mulheres que atormentam as grávidas: “O bebê está muito baixo”, “Há tantas crianças malformadas...”, “Você já marcou a cesariana?”, “Cuidado que pode passar do tempo!” — você vai escutar histórias assim aos montes, contadas com ou sem o intuito de tranquiliza- la. Para imunizá-la contra estas afirmações inconsequentes, recorra ao obstetra, sempre.
Além disso, seu médico será personagem fundamental na hora do parto.