A Doença das Palavras

por Dra. Albertina Duarte

Meus 33 anos de profissão autorizam-me a dizer que palavras mal usadas podem causar danos à saúde.

(Van Gogh, As Comedoras)

Durante anos, muitas mulheres não reconheceram sua força, nem hoje reconhecem o quanto ajudam e participam do sistema, mesmo silenciosamente. Por anos e anos, muitas mulheres sempre disseram “sim” para os outros e ainda hoje têm dificuldades de dizer “sim” para elas próprias, porque são mães de alguém, filhas de alguém e mulheres de alguém. Não são Ana nem Joana nem Maria. E nunca têm espaço para dizer “eu quero”, transformando-se em eternas vítimas dominadas.

FRASES QUE INCOMODAM

NA INFÂNCIA

—                 Como outra menina? O seu pai gostaria de um menino.

—                 O seu irmão é melhor que você.

—                 Os seus irmãos tiram notas mais altas.

—                 Os outros são (...) mais que você.

—                 Isto não é coisa de menina.

NA MENSTRUAÇÃO

—         A menstruação é coisa de mulher. Cólicas são normais.

—         Menstruada, não se deve lavar os cabelos.

—         Agora você já é mulher, pode ficar grávida.

NA ADOLESCÊNCIA

—         Você é muito grande para fazer essas coisas.

—         Todo mundo está vendo você.

—         Você mata a sua mãe de desgosto.

—         Se o seu pai souber, vai morrer.

—         Nunca pensei que você ia me agradecer desta maneira.

—         O que eu sofri para ser a sua mãe, para você nascer.

—         Você é rebelde mesmo, as outras mães têm sorte com filhos.

—         O que você viu naquele menino?

—         Os seus amigos não valem

ANTES DO CASAMENTO

—         Você nem parece noiva, não fica nervosa.

—         Já está tudo pronto?

—         Cuidado! Os homens, depois do casamento, são to¬dos iguais.

DEPOIS DO CASAMENTO

—         Mulher direita deve obedecer ao marido.

NA GESTAÇÃO

—         A barriga está baixa, não?

—                 A sua barriga está tão pequena!

—                 Que barriga grande! Será que são gêmeos?

—                 Você deve comer por dois, senão vai nascer um ratinho.

—                 Está passando do tempo?

—                 Aconteceu um problema com a minha vizinha: o bebê se enrolou no cordão e aí...

—                 Olha, gente, depois dos 35 pode acontecer cada coisa...

—                 Você sabe o que aconteceu com aquela mulher que tinha os mesmos problemas que você?

NA MENOPAUSA

—                 Menopausa é assim mesmo, a gente tem que agüentar.

—                 Desse mato não sai mais coelho.

—                 Está ficando velha...

PARA MULHERES QUE NÃO CONSEGUEM SER MÃES

—                 Nada ainda? Acho melhor adotar.

—                 Vai ver que tomou pílulas ou fez alguma coisa e por isso não engravida.

—                 Engravidei somente de olhar a cueca do meu marido e você... nada.

—                 Sabia que aquela sua prima engravidou mesmo sem querer?

—                 Será que você não tem alguma doença grave?

—                 Acho melhor você mudar de médico, pois Fulana tinha o mesmo problema e engravidou.

—                 Será que você está fazendo direito?

OUTRAS

—         Corrimento é normal.

—         Mulher virgem tem corrimento.

—         Hemorragia? Ah! Melhor tirar tudo.

—         Está com uma cara! Será que não deu nada ruim?

—         O marido saiu de casa porque ela é fria.

—         Ela é mais bonita do que eu?

—         Ele é muito velho para ela (e vice-versa).

—         Você ficou larga depois do parto!

—         Eu percebi que você ficou diferente depois do parto.

—         Olha, como você está barriguda!

—         Não gostei do seu novo corte de cabelo (e outras de igual teor).

—         Você não serve para nada. Você é uma geladeira.

—         Você não faz nada, só fica em casa, não trabalha...

—         Você está nervosa demais, acho que está na menopausa.

—         Mulher é assim mesmo, eu gostaria de ter nascido homem, pois mulher nasceu só para sofrer.

Aqui vai meu alerta para você, que talvez esteja com um distúrbio de saúde: não dê ouvidos a comentários a sua volta. Lembre-se de que cada organismo reage de modo diferente. O melhor a fazer — antes de ficar “grilada” — é procurar a ajuda de um especialista.