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(Dali, 1954, Desintegração da Persistência da Memória)

 

A Percepção do Tempo

e o Mistério
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

 


Quando você chega à minha idade, olha pra trás e vê com que absurda rapidez a vida passou.

E quanto mais velho você fica, mais depressa passa o tempo.

A percepção do Tempo é uma coisa bem esquisita.

Já reparou que as manhãs passam mais depressa do que as tardes?

 

 

Por exemplo, você acordou às seis, não fez quase nada e já são sete. Faz umas coisinhas à toa e já são oito... A tarde parece ser muito maior, capaz de conter vários acontecimentos, muitos mais do que as manhãs...

Quando eu era criança, preferia estudar no período da manhã, porque me parecia que sobrava mais tempo, no dia, do que se eu estivesse na escola à tarde.

Isso deve ser coisa do nosso cérebro, da percepção que o cérebro tem do Tempo.

Existe um velho ditado: "Chaleira vigiada não ferve!". Pois é, gente querida. Quando queremos muito que chegue aquele dia que nos será importante, demora um século... Mas a semana, sem ansiedade, passa voando...

A vida é mesmo misteriosa.

Como diria eu amigo, o psiquiatra Kalil Duailibi, "para os sentimentos, o tempo não existe."

Pura verdade. Você é perfeitamente capaz de se emocionar, e até de chorar, lembrando-se de um fato marcante da sua vida, embora esse tenha ocorrido há 20, 30 anos passados. É como se estivesse sendo agora.

Coisa louca isso!

E os nossos sonhos, à noite, então? Às vezes passam voando, às vezes demoram tanto... Depende da intensidade dos sentimentos que os sonhos nos despertam ("sonhos nos despertam" é bom, né?).

É muito mistério mesmo, tudo isso.

Mas vivemos como se não fosse. Vivemos como se a vida fosse uma sequência lógica de fatos, causa e consequência, plantar e colher...

Mas absolutamente não o é.

A vida é um grande mistério e está carregada de Magia. Os segredos nos cercam, as súbitas revelações nos encantam, o inesperado nos assusta e nos desperta.

A vida é uma grande aventura. Mas vivemos fazendo de conta que não é.