A
Imperatriz Consorte Tereza Cristina não ficava atrás. Quando ela chegara
ao Brasil para casar-se com Pedro II, esse ficara horrivelmente
decepcionado: a nobre europeia escolhida para ser sua esposa era feia,
baixinha, coxa e mais velha do que ele. Mas logo ela conquistou o
respeito e admiração de seu marido por sua cultura e inteligência e foi
ela quem trouxe da Europa ao Brasil as primeiras autoridades em arte,
ciência, arquitetura, música...
Só a inteligência e a cultura de seus pais, já colocariam Isabel numa
posição privilegiada. Mas foi bem além disso. Com a prematura morte de
seus dois irmãos homens, Isabel passou a ser a herdeira oficial do trono
brasileiro. E, como tal, foi educada para reinar. Teve um nível de educação
política e social que até então era privilégio dos machos.
Alguns autores republicanos dizem que ela só aderiu à causa
antiescravagista no final dos movimentos políticos nesse sentido. Não é
a minha visão. Vejo a Princesa como uma alma generosa, humanitária,
preocupada com a igualdade de oportunidades e com a justiça social. Era
sufragista e queria escolas para meninas com disciplinas iguais às das
escolas para meninos.
Na verdade, não sou eu, mas a História quem conta que Isabel já estava,
havia muito, comprometida com a abolição da escravatura brasileira antes
de assinar a sua famosa Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
Fôra ela quem apoiara e fomentara a famosa Chácara das Camélias do
Leblon, uma espécie de quilombo que abrigava escravos fugidos e que
produzia camélias – flor até então desconhecida no Brasil – e que, usada
na lapela pelos homens e no decote pelas mulheres, sinalizava aos negros
que ali estava um abolicionista capaz de ajuda-los. Isabel mandou fazer
uma cerca viva de camélias em sua residência de Petrópolis e tinha vasos
dessa flor espalhados por toda a parte, de sua capela ao escritório.
Isabel e
seu amado Conde D’Eu tentaram, por alguns anos, sem sucesso, terem
filhos. Acabaram conseguindo, mas perderam alguns ainda crianças. O
Conde lutou na Guerra do Paraguai e sobreviveu.
Ela foi a primeira mulher a governar o Brasil, pois tornou-se Regente
quando seu pai viajou à Europa.
Dizem ainda, alguns republicanos, que Isabel libertou os escravos e os
condenou ao ostracismo, à fome, à miséria, por falta de políticas
públicas que incentivassem a contratação e a formação de trabalhadores
negros. No entanto, não houve tempo hábil para todas as articulações
políticas necessárias e difíceis à obtenção desse objetivo.
Em novembro de 1899, os que deram o golpe da república, escorraçaram a
família real do Brasil, despachando-a de volta à Portugal, seu país de
origem, depois de confiscarem todos os seus bens. Ou seja, partiram
praticamente com a roupa do corpo...
Banidos do Brasil, os príncipes foram morar em Eu, onde a princesa – agora pobre e
vivendo dos bens da família do marido – criou em torno de si uma espécie
de “embaixada brasileira informal”. Muitos brasileiros, em França, foram
auxiliados pela sua generosidade, entre eles Alberto Santos Dumont, o
Pai da Aviação. Tornou-se amiga da milionária brasileira Eufrásia
Teixeira Leite que, se refugiara naquele país após a morte de seu pai,
para impedir que seus primos homens continuassem tentando se apoderar de
sua herança, com o argumento de que mulheres não eram capazes de gerir
fortunas. Eufrásia os desmentiu grandemente.
Nossos príncipes, o Conde e Isabel, sonhavam com o retorno ao Brasil,
país que julgavam realmente o seu lar.
Mas apenas em 1921 o Decreto de Banimento da Família Real, foi abolido,
permitindo assim que membros dessa retornassem.
Porém, já era tarde. Isabel morreu, aos 75 anos de idade, em 14 de
novembro de 1921, sem nunca ter voltado ao Brasil.
Já o seu marido, Conde D’Eu, estava no meio do Oceano Atlântico, a
caminho do Brasil, quando, em 28 de agosto de 1922, morreu, sem tocar
novamente o solo do país que aprendera a amar.
É por causa do centenário da morte do Conde que escrevo esse artigo.
Eu, que também me chamo Isabel, por ter nascido em 13 de Maio de 1951, o
Dia da Abolição, apenas 30 anos após a morte da minha Princesa, a que
viveu à frente do seu tempo. É com orgulho que carrego o seu nome.
|