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(Anônimo, 1877, Princesa Isabel, Conde D'Eu e Pedro de Alcântara, filho deles.)

 

O Conde e a Princesa

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

 

Não é todo mundo que sabe, mas o Conde D’Eu chegou ao Brasil para casar-se com a irmã da Princesa Isabel. À nossa princesa estava destinado o primo dele. Porém, tudo se inverteu. O Conde D’Eu e a Princesa Isabel se apaixonaram e acabaram casando-se, em 1864.

Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o Conde d'Eu, era um príncipe, neto do rei Luís Filipe I da França e renunciou aos seus direitos na linha de sucessão do trono de seu país para tornar-se o Príncipe Consorte do Brasil, unindo-se à Princesa Imperial brasileira Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança.

Foi portanto, diferentemente do que acontece com frequência entre as famílias reais, um casamento por amor.

O conde nascera em 28 de abril de 1842. Era quatro anos mais velho que Isabel, nascida em 29 de julho de 1846, no Rio de Janeiro, filha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina das Duas Sicílias.


Isabel nascera em berço de grande apreciação à arte, à cultura, já que essas eram características de Pedro II, o que o levou, inclusive a ser reconhecido e admirado internacionalmente.

 

A Imperatriz Consorte Tereza Cristina não ficava atrás. Quando ela chegara ao Brasil para casar-se com Pedro II, esse ficara horrivelmente decepcionado: a nobre europeia escolhida para ser sua esposa era feia, baixinha, coxa e mais velha do que ele. Mas logo ela conquistou o respeito e admiração de seu marido por sua cultura e inteligência e foi ela quem trouxe da Europa ao Brasil as primeiras autoridades em arte, ciência, arquitetura, música...

Só a inteligência e a cultura de seus pais, já colocariam Isabel numa posição privilegiada. Mas foi bem além disso. Com a prematura morte de seus dois irmãos homens, Isabel passou a ser a herdeira oficial do trono brasileiro. E, como tal, foi educada para reinar. Teve um nível de educação política e social que até então era privilégio dos machos.

Alguns autores republicanos dizem que ela só aderiu à causa antiescravagista no final dos movimentos políticos nesse sentido. Não é a minha visão. Vejo a Princesa como uma alma generosa, humanitária, preocupada com a igualdade de oportunidades e com a justiça social. Era sufragista e queria escolas para meninas com disciplinas iguais às das escolas para meninos.

Na verdade, não sou eu, mas a História quem conta que Isabel já estava, havia muito, comprometida com a abolição da escravatura brasileira antes de assinar a sua famosa Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

Fôra ela quem apoiara e fomentara a famosa Chácara das Camélias do Leblon, uma espécie de quilombo que abrigava escravos fugidos e que produzia camélias – flor até então desconhecida no Brasil – e que, usada na lapela pelos homens e no decote pelas mulheres, sinalizava aos negros que ali estava um abolicionista capaz de ajuda-los. Isabel mandou fazer uma cerca viva de camélias em sua residência de Petrópolis e tinha vasos dessa flor espalhados por toda a parte, de sua capela ao escritório.
 

Isabel e seu amado Conde D’Eu tentaram, por alguns anos, sem sucesso, terem filhos. Acabaram conseguindo, mas perderam alguns ainda crianças. O Conde lutou na Guerra do Paraguai e sobreviveu.

Ela foi a primeira mulher a governar o Brasil, pois tornou-se Regente quando seu pai viajou à Europa.

Dizem ainda, alguns republicanos, que Isabel libertou os escravos e os condenou ao ostracismo, à fome, à miséria, por falta de políticas públicas que incentivassem a contratação e a formação de trabalhadores negros. No entanto, não houve tempo hábil para todas as articulações políticas necessárias e difíceis à obtenção desse objetivo.

Em novembro de 1899, os que deram o golpe da república, escorraçaram a família real do Brasil, despachando-a de volta à Portugal, seu país de origem, depois de confiscarem todos os seus bens. Ou seja, partiram praticamente com a roupa do corpo...

Banidos do Brasil, os príncipes foram morar em Eu, onde a princesa – agora pobre e vivendo dos bens da família do marido – criou em torno de si uma espécie de “embaixada brasileira informal”. Muitos brasileiros, em França, foram auxiliados pela sua generosidade, entre eles Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação. Tornou-se amiga da milionária brasileira Eufrásia Teixeira Leite que, se refugiara naquele país após a morte de seu pai, para impedir que seus primos homens continuassem tentando se apoderar de sua herança, com o argumento de que mulheres não eram capazes de gerir fortunas. Eufrásia os desmentiu grandemente.

Nossos príncipes, o Conde e Isabel, sonhavam com o retorno ao Brasil, país que julgavam realmente o seu lar.

Mas apenas em 1921 o Decreto de Banimento da Família Real, foi abolido, permitindo assim que membros dessa retornassem.

Porém, já era tarde. Isabel morreu, aos 75 anos de idade, em 14 de novembro de 1921, sem nunca ter voltado ao Brasil.

Já o seu marido, Conde D’Eu, estava no meio do Oceano Atlântico, a caminho do Brasil, quando, em 28 de agosto de 1922, morreu, sem tocar novamente o solo do país que aprendera a amar.

É por causa do centenário da morte do Conde que escrevo esse artigo.

Eu, que também me chamo Isabel, por ter nascido em 13 de Maio de 1951, o Dia da Abolição, apenas 30 anos após a morte da minha Princesa, a que viveu à frente do seu tempo. É com orgulho que carrego o seu nome.