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(Jacques DeMolay,óleo de Gysleine Micheneau)

 

(2001, maio, 13 - Meu aniversário de 50 anos)

 

(2014, maio, 13 - Meu aniversário de 63 anos)

 

 

 

Sexta-feira, 13

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

 

“Todo mundo é igual, Quando o tombo termina, Com terra por cima,
E na horizontal” (Billy Blanco)

 

Sabe, meu amor, nunca a morte caminhou assim ao meu lado. Já falei sobre isso. Perdi pai, mãe, irmãos e muito mais gente que eu pensava amar, mas nenhuma morte, como a sua, modificou dessa maneira a minha visão da vida.

Eu tinha tanta segurança, tanta certeza, do seu amor por mim e do meu amor por você, que era como se fossemos imortais. Deuses gregos no nosso Olimpo Particular da Avenida Paulista...
 

Agora, ela, a Morte, caminha ao meu lado todos os dias. Penso nela, no que significa, em como nos iguala (alguns de nós tão orgulhosos e cheios de si!).

Passei muito perto dela quando, sem você, meu coração se recusava a bater. Por certo, recusar-se-ia ainda, não fosse o pai do marido da minha amiga Roseli, o gênio da física Nathan Berkovitz, ter inventado esse marcapasso cardíaco, que agora mora dentro de mim e obriga o meu desconsolado coração a fazer a sua parte, sem choro nem vela.
 

No entanto, estou feliz por estar viva. É difícil, sem você. Choro, vira e mexe. Vivo me perguntando “Why the Gods above me,Who must be in the know, Think so little of me, They allowed you to go” , como diria o nosso querido Cole Porter.

Editei um terceiro vídeo sobre a falta que você me faz. Esse, um agradecimento, um tributo, aos meus amigos (velhos e novos amigos) de quem tenho recebido tanto apoio e carinho, depois da sua morte.

 

Hoje, 13 de maio de 2022, é dia de publicar texto literário no nosso Portal SAÚDE&LIVROS. Por isso estou escrevendo esse.

 

Sexta feira, 13. Sexta, o meu melhor dia da semana e 13, o meu número da sorte. Na numerologia, no entanto, sou 7, o número mais mágico. Some: 13+5+1951 – o dia em que nasci – e reduza, noves fora, 7.
 

Também seria um ótimo dia, sexta 13, para lançar o meu novo livro Todas as Mulheres São Bruxas n.3. Infelizmente, a Martins Fontes da Paulista só tinha agenda para mim na segunda agora, dia 16. Bom, consolo-me: 1+6=7!

 

Esse será o primeiro lançamento de livro meu que não foi organizado por você. Em eventos, você era insuperável.

Faço 71 anos de idade hoje. Vivo dizendo que, por dentro, tenho 17.
Mas não é mais totalmente verdadeiro isso. Aos 17, a Morte ainda não caminhava ao meu lado, todos os dias, como caminha agora.

Alguns autores atribuem a superstição da sexta feira, 13, como um dia ruim, ao fato de em 13 de outubro de 1307, uma sexta, o rei Filipe IV da França ter iniciado a sua caça, não às Bruxas, mas aos Templários, todos presos, torturados e muitos deles, mortos.

Jacques DeMolay, o Grão Mestre da Ordem dos Templários, passou 7 anos sendo torturado e nunca revelou nada do que o seu governo queria saber: onde estavam os tesouros da Ordem?

Antes de morrer, em 1314, DeMolay proferiu sua maldição: o Rei Filipe e o Papa também morreriam em um ano. E eles morreram mesmo! De doenças estranhas aos médicos da época... Templário é coisa séria!

Outros juram que tudo começou porque a Última Ceia de Christo aconteceu numa quinta, e eram 13 à mesa (Jesus e seus 12 discípulos) e que Ele iniciou seu martírio, da crucificação à morte, numa sexta. Essa não me convence muito. Prefiro a dos Templários.

Também existe a superstição de nunca receber 13 pessoas à mesa para uma refeição. Na Mitologia dos países nórdicos, jantavam os 12 deuses mais importantes quando apareceu o 13º, o carinha do Mal, para estragar a festa.

E, por falar em festa, esse ano não vai ter Festa no meu aniversário. Nossas famosas festas na Janela da Paulista! Inesquecíveis e maravilhosas, todas registradas em fotos e vídeos, primeiro pelo meu irmão Alvan e depois pelo nosso amigo Mr. Volpi. (Quantos mortos, familiares e amigos, estão nessas imagens...) Mesmo durante a Pandemia e consequente isolamento social, em 2020 e 2021, nós dois fizemos, sozinhos e em casa, a festa. Mas não agora. Não hoje. Não sem você.

Convidarei a minha atual amiga Morte para brindarmos juntas, desde que ela prometa não me levar com ela. Afinal, é uma sexta, 13. Não deve ser um bom dia para morrer.
 

Se fosse pelo meu coração, eu já estaria morta. Mas, de fato, não quero morrer e sou grata aos que me salvaram: o Nabil, o Peter, a Roseli, a Elza, o Carmelo, o Emerson e tantos amigos queridos.

Se eu tivesse certeza de que, no céu, te encontraria... Bom, aí talvez quisesse que a morte afinal me levasse. Mas não tenho certeza. Ninguém tem certeza de nada, sobre a armadilha da Morte. A única certeza que se tem é a de que, um dia, ela virá para nos levar... Levar para onde? Para as estrelas?

Os meus amigos espíritas – e outros espíritas, que não são meus amigos – parecem acreditar que, depois da morte, existe uma continuação da vida, muito semelhante à vida na Terra! Balela! Não pode ser isso, não! Igual? Então, morrer pra que?

Outros falam em Inferno e Paraíso. O Inferno com tortura eterna e um Lúcifer vermelho, com cornos e tridente nas mãos. O Paraíso com aquela chatice infinita de anjos e um deus barbudo tocando harpa. Histórias, no máximo, para crianças... Ou nem isso. Crianças merecem coisa melhor do que isso!

A vida e a morte hão de ser muito, muito mais, do que possamos imaginar, dados os limites da nossa parca condição humana.

Olhe pro céu! Infinito. Galáxias que se sucedem. Estrelas que já morreram e cuja luz ainda chega até os nossos olhos, viajando pelo espaço. Estrelas que já nasceram e ainda não podemos vê-las porque sua Luz ainda está a caminho. O céu é passado. Presente, passado e futuro, a um só Tempo.

Acredito, sim, que temos uma alma. Alma que vai embora desse corpo, quando esse corpo já não dá mais no couro. E que renasce, num novo corpo. Os rosa-cruzes dizem que a alma é como a corrente elétrica: conectou uma lâmpada, ela acende. Apareceu um corpo, ela entra!

A Bíblia e os místicos em geral concordam com a ideia do “sopro da vida” – é pela respiração, a primeira, que a alma entra no corpo. Antes do nascimento, e da respiração, o bebê nada mais é que uma extensão do corpo de sua mãe. Ele tem cérebro, sistema nervoso -- é claro, em desenvolvimento--, mas ainda não tem alma.
 

Será?
O fato é que se pode especular sobre tudo. Outras vidas. Outros planetas. Outras inimagináveis formas de vida. Mas saber... Ah! Ninguém sabe.

No momento da sua morte, a noite mais triste de toda a minha vida, amor meu, eu disse: “Você vai morrer agora, Mauro Caetano, mas não pense que se livrará de mim por isso. Eu estarei sempre com você e nos encontraremos, depois, não sei quando nem como, mas sei que nos encontraremos. Até um dia, meu amor, o melhor companheiro que qualquer mulher desejaria!”

Você me ouvia, eu sei. Porque seus olhos se encheram de lágrimas. Se não ouvia com os ouvidos do corpo, ouvia com os da alma.

Tudo tem alma. Tudo o que está vivo, tudo o que respira. Também tenho uma e, um dia, farei novamente a viagem, como sei que já a fiz muitas, muitas vezes.

Porém, embora com a Morte convidada para um brinde de aniversário, hoje não.
 

"Nossa Casa Sem Você" - vídeo n.1  - vídeo n.2