Esse será o primeiro lançamento de livro meu que não foi organizado por
você. Em eventos, você era insuperável.
Faço 71 anos de idade hoje. Vivo dizendo que, por dentro, tenho 17.
Mas não é mais totalmente verdadeiro isso. Aos 17, a Morte ainda não
caminhava ao meu lado, todos os dias, como caminha agora.
Alguns autores atribuem a superstição da sexta feira, 13, como um dia
ruim, ao fato de em 13 de outubro de 1307, uma sexta, o rei Filipe IV da
França ter iniciado a sua caça, não às Bruxas, mas aos Templários, todos
presos, torturados e muitos deles, mortos.
Jacques DeMolay, o Grão Mestre da Ordem dos Templários, passou 7 anos
sendo torturado e nunca revelou nada do que o seu governo queria saber:
onde estavam os tesouros da Ordem?
Antes de morrer, em 1314, DeMolay proferiu sua maldição: o Rei Filipe e
o Papa também morreriam em um ano. E eles morreram mesmo! De doenças
estranhas aos médicos da época... Templário é coisa séria!
Outros juram que tudo começou porque a Última Ceia de Christo aconteceu
numa quinta, e eram 13 à mesa (Jesus e seus 12 discípulos) e que Ele
iniciou seu martírio, da crucificação à morte, numa sexta. Essa não me
convence muito. Prefiro a dos Templários.
Também existe a superstição de nunca receber 13 pessoas à mesa para uma
refeição. Na Mitologia dos países nórdicos, jantavam os 12 deuses mais
importantes quando apareceu o 13º, o carinha do Mal, para estragar a
festa.
E, por falar em festa, esse ano não vai ter Festa no meu aniversário.
Nossas famosas festas na Janela da Paulista! Inesquecíveis e
maravilhosas, todas registradas em fotos e vídeos, primeiro pelo meu
irmão Alvan e depois pelo nosso amigo Mr. Volpi. (Quantos mortos,
familiares e amigos, estão nessas imagens...) Mesmo durante a Pandemia e
consequente isolamento social, em 2020 e 2021, nós dois fizemos,
sozinhos e em casa, a festa. Mas não agora. Não hoje. Não sem você.
Convidarei a minha atual amiga Morte para brindarmos juntas, desde que
ela prometa não me levar com ela. Afinal, é uma sexta, 13. Não deve ser
um bom dia para morrer.
Se fosse pelo meu coração, eu já
estaria morta. Mas, de fato, não quero morrer e sou grata aos que me
salvaram: o Nabil, o Peter, a Roseli, a Elza, o Carmelo, o Emerson e
tantos amigos queridos.
Se eu tivesse certeza de que, no céu, te encontraria... Bom, aí talvez
quisesse que a morte afinal me levasse. Mas não tenho certeza. Ninguém
tem certeza de nada, sobre a armadilha da Morte. A única certeza que se
tem é a de que, um dia, ela virá para nos levar... Levar para onde? Para
as estrelas?
Os meus amigos espíritas – e outros espíritas, que não são meus amigos –
parecem acreditar que, depois da morte, existe uma continuação da vida,
muito semelhante à vida na Terra! Balela! Não pode ser isso, não! Igual?
Então, morrer pra que?
Outros falam em Inferno e Paraíso. O Inferno com tortura eterna e um
Lúcifer vermelho, com cornos e tridente nas mãos. O Paraíso com aquela
chatice infinita de anjos e um deus barbudo tocando harpa. Histórias, no
máximo, para crianças... Ou nem isso. Crianças merecem coisa melhor do
que isso!
A vida e a morte hão de ser muito, muito mais, do que possamos imaginar,
dados os limites da nossa parca condição humana.
Olhe pro céu! Infinito. Galáxias que se sucedem. Estrelas que já
morreram e cuja luz ainda chega até os nossos olhos, viajando pelo
espaço. Estrelas que já nasceram e ainda não podemos vê-las porque sua
Luz ainda está a caminho. O céu é passado. Presente, passado e futuro, a
um só Tempo.
Acredito, sim, que temos uma alma. Alma que vai embora desse corpo,
quando esse corpo já não dá mais no couro. E que renasce, num novo
corpo. Os rosa-cruzes dizem que a alma é como a corrente elétrica:
conectou uma lâmpada, ela acende. Apareceu um corpo, ela entra!
A Bíblia e os místicos em geral concordam com a ideia do “sopro da vida”
– é pela respiração, a primeira, que a alma entra no corpo. Antes do
nascimento, e da respiração, o bebê nada mais é que uma extensão do
corpo de sua mãe. Ele tem cérebro, sistema nervoso -- é claro, em
desenvolvimento--, mas ainda não tem alma.
Será?
O fato é que se pode especular sobre tudo. Outras vidas. Outros
planetas. Outras inimagináveis formas de vida. Mas saber... Ah! Ninguém
sabe.
No momento da sua morte, a noite mais triste de toda a minha vida, amor
meu, eu disse: “Você vai morrer agora, Mauro Caetano, mas não pense que
se livrará de mim por isso. Eu estarei sempre com você e nos
encontraremos, depois, não sei quando nem como, mas sei que nos
encontraremos. Até um dia, meu amor, o melhor companheiro que qualquer
mulher desejaria!”
Você me ouvia, eu sei. Porque seus olhos se encheram de lágrimas. Se não
ouvia com os ouvidos do corpo, ouvia com os da alma.
Tudo tem alma. Tudo o que está vivo, tudo o que respira. Também tenho uma e, um dia, farei
novamente a viagem, como sei que já a fiz muitas, muitas vezes.
Porém, embora com a Morte convidada para um brinde de aniversário, hoje
não.
"Nossa Casa Sem Você" -
vídeo n.1 -
vídeo n.2 |